sexta-feira, 24 de abril de 2009

Interacionismo simbólico - usos e limites de sua aplicabilidade nos contextos sociais virtuais/digitais

Beyond the diluted community concept: a symbolic interactionist perspective on online social relations (24/04)

Autor: Jan Fernback

O autor inicia suas reflexões salientando que o estudo ‘agarra-se’ com o conceito de comunidade no ciberespaço e vislumbra sugerir formas alternativas de caracterizar as relações sociais online. Baseado em entrevistas e uma reflexão teórica da comunidade online, ele considera que a metáfora da "comunidade" no ciberespaço é uma união de conveniência, sem real responsabilidade.
Este estudo sugere uma abordagem ‘interacionista simbólica’ para o exame das relações sociais que está livre de controvérsia e bagagem estrutural-funcional do termo "comunidade". O autor sugere que a comunidade é um processo evolutivo, e este compromisso é verdadeiramente o desejado ‘ideal social’ na interação social, quer seja online ou offline.
Fernback salienta que desde o final do século 19, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e profetas culturais têm mantido a busca da questão social da comunidade no discurso popular. Este discurso verifica a natureza da comunidade e seu valor na cultura pública.
Para o autor, o dinamismo é o foco deste artigo, que analisa o conceito de comunidade no ciberespaço e sugere formas alternativas de caracterizar as relações sociais online a fim de evitar que os caprichos da "comunidade". A idéia de cibercomunidade (comunidades virtuais) é incontornável – ‘deixar para trás os nossos corpos, e nossos preconceitos e limitações associadas a essas entidades, para interagir apenas como mentes em um ambiente livre’. Este estudo portanto, analisará alguns pressupostos teóricos sobre a comunidade, contextualizando o conceito de ‘cybercommunity’ ou também apresentado como cibercomunidade, e algumas conclusões a partir de dados coletados a partir de entrevistas com os participantes de fóruns online, bem como sugerir outras conceituações de interação social online como um meio de progressos paradigmáticos em relação a narrativa sobre cibercomunidade.
No tópico ‘o que os estudo sobre comunidades online revelam’, Fernback expõe o pensamento de alguns autores destacando que estudos prévios das comunidades online incidem sobre as possibilidades de territorialização - a Internet como um novo espaço social. Entre os autores, ele destaca:
- Benedikt (1991) afirma que o espaço virtual é materialmente análogo ao espaço físico em que tem propriedades físicas e geográficas.
- Rheingold (1993) afirma que comunidades virtuais realizam a solidificação de funções tradicionais da comunidade pré-industrial.
- Baym (1995) encontra em linha com os grupos' ricamente desenvolvido culturas "a transformar a Internet em um novo espaço comunal.
- Whittle (1997) o verdadeiro poder das comunidades virtuais cabe dentro da nossa capacidade de criar e desenvolver as comunidades, não apenas para escolhê-las.
- Miller (1996) concorda, argumentando que, apesar de avanços nas tecnologias da comunicação serem muitas vezes culpado pela destruição da comunidade, tecnologias online podem ser usadas para restaurar e reforçar o impulso da humanidade de criar e sustentar comunidades.
- Jones (1995) observa que qualquer definição de comunidade online deve englobar elementos espaciais e sociais. Assim, Jones apóia uma concepção robusta de comunidade que conecta matéria / espaço com a transmissão de valores sociais e sistemas de crença.

Globalmente, em nações desenvolvidas, os novos meios possuem um grande papel nestas transformações. Mas o corpo de investigação sobre a comunidade online não tem feito o suficiente para problematizar sobre comunidade: O homem tem uma necessidade intrínseca de forma associativa de grupos? Como pode ser uma associação comunal disfuncional? Comunidade tem sido ‘essencializadas’ e teorizadas na medida em que tornam-se quase sem sentido? A próxima seção considera hipóteses sobre a comunidade em novas mídias estudos, afirma o autor.
Na seção ‘Questões da comunidade na era digital’, o autor faz referências a autores bastante conhecidos como Castells e Jankowski entre outros, salientando como tais autores percebem o termo comunidade. Em seguida, ressalta que os estudos sobre comunidades online estão inevitavelmente ligados ao desenvolvimento da Internet entre outros fenômenos culturais. Deste modo, uma crítica da natureza das comunidades assume maior importância cultural. Afirma ainda que a distinção entre o "real" e o "virtual" tornou-se muito menos útil como a internet e está firmemente enraizada no dia a dia da existência cultural.
Em seguida, debate sobre o termo ‘glocalização’. De acordo com Pew, ‘glocalização’ é evidente no ciberespaço - as pessoas estão expandindo seus planos sociais, e ao mesmo tempo, vinculam-se mais profundamente às suas comunidades locais. Originalmente usado como um termo comercialização no Japão, o termo 'glocalização’ tem em sua raiz o desejo de normalizar o ‘reino do global’ para o familiar ‘terreno do local’ (Robertson, 1992). Apropriado por Wellman (2002), o termo significa que todos os aspectos da esfera social têm se deslocado do tradicional conceito de comunidade homogênea para redes ‘glocalizadas’ (onde famílias estão conectadas globalmente e localmente através de redes ligadas) e mais em direção às 'redes individuais’, em que os indivíduos tornam-se associados e desatentos à fronteira espacial. Deste modo, a ‘glocalização’ é o resultado de uma forte conexão local com interações de amplo alcance global.
Fernback ressalta que o estudo aqui apresentado é orientado por um quadro ‘simbólico-interacionista’ para investigar a natureza das relações sociais formadas nos grupos na rede. Este paradigma, afirma o autor, fornece um valioso instrumento para a compreensão de como as representações simbólicas das comunidades online em influenciam as noções dos participantes sobre interações comunais. Destaca ainda os estudos de Blumer e suas premissas.
Para compreender os sentidos de "comunidade em rede” para os participantes nos espaços sociais virtuais, 30 pessoas com experiência grupos online foram entrevistados em profundidade. O objetivo das entrevistas foi o de documentar a experiência de interação social online para que os participantes compreendam como se caracteriza a natureza dessas interações. Para investigar os significados que estas pessoas provêm de sua interação online em grupos, uma abordagem qualitativa alicerçada numa perspectiva interacionista simbólica foi empregada (segundo Blumer, 1969). Para avaliar a percepção das realidades da interação social online, os membros dessas comunidades devem ser questionados para determinar a relevância deste tipo de atividade social em suas vidas. Estratégias interpretativas recolhidas principalmente a partir de estudos antropológicos foram aplicadas para elucidar conclusões.
Os indivíduos foram convidados a partir de grupos online escolhidos aleatoriamente. Os grupos tratavam dos seguintes temas: filosofia oriental, filosofia política, pós-graduação em ciências humanas, política, saúde geral, e questões homossexuais. Após participar destes grupos por um período de seis meses, o autor solicitou, via e-mail, respostas a um questionário aberto por tempo indeterminado. Alguns entrevistados concordaram em ser entrevistadas offline, em pessoa.
As questões da entrevista foram organizadas em quatro seções: (1) informações sobre o uso de grupos online; (2) Em que medida os indivíduos consideram suas interações sociais virtuais como sendo cibercomunidade; (3) Quais sentidos são recolhidos por eles a partir de interação em comunidades virtuais, e (4) temas como experiências online e offline foram integrados.
Fernback constata que o mais importante achado deste estudo é que os participantes de grupos online possuem entendimentos incongruentes do personagem em rede que realiza relações sociais. As suas opiniões sobre a natureza das interações comunais online estão enraizadas em significados que se constroem sobre o valor da comunidade e das suas interações com os outros, em suas esferas sociais online e offline. Dois temas identificáveis emergiram das entrevistas, conforme relatado nas seguintes seções:
Comunicação online e vida pública: quando questionados sobre a caracterização de sua interação social online e sobre a descrição do impacto da interação nos grupos online (se houver) na vida pública, a maioria dos inquiridos demonstrou atitudes ambivalentes sobre suas experiências sociais online.
O significado de atividade online como estereótipo: quando questionados sobre a descrição "dos seus sentimentos e opiniões sobre o fenômeno da interação de grupos online" e sobre a equiparação da "qualidade de suas experiências sociais offline e online", a maioria dos inquiridos atribuiu uma efêmera qualidade para os seus relacionamentos comunais online. Alguns, no entanto, consideraram a interação social online e offline como ‘indistinguíveis’.
A partir desses dois parâmetros, o autor discute alguns pontos. Para ele, noções tradicionais da comunidade não são verdadeiramente manifestadas no ciberespaço para estes participantes. Eles questionam se a comunidades virtuais têm o suficiente para verdadeiramente desenvolver costumes, lendas folclóricas, legados e orgulho nestes espaços. Mesmo a comunicação íntima online ainda está sendo mediada pelo computador pelo fato de que os comunicadores têm mais probabilidade de conhecerem estranhos. Tanto a alegria como a opressão dessa intimidade mediada por computador são temperados pela falta de contato humano. A metáfora da comunidade virtual colocada sobre as relações sociais é insuficiente e inadequada.
Mas essa metáfora é uma união de conveniência, sem verdadeira responsabilidade, afirma Fernback. Muitos entrevistados citaram a ‘opressividade’ como uma preocupação em suas comunidades virtuais, e um inquirido ressalta que se sentiu tão sufocado pelo seu grupo, que ele finalmente o deixou. Elementos de continuidade e sustentação da interação tendem a ser raras em grupos online. Com base nestas preocupações, poderá suspeitar de que um cidadão de cibercomunidade não iria tolerar alguns comportamentos como o banimento.
A partir dos resultados, o autor aponta algumas ‘alternativas para a construção de comunidades virtuais’. Segundo Fernback, o conceito de comunidade como uma ‘panacéia social’ tem sido enfraquecido. Como uma instituição, a comunidade não tem limites ou verificações; é eternamente procurada e persistentemente incentivada.
Para ele, o que é útil no estudo das relações sociais online inclui as abordagens diferenciadas e multifacetadas de estudiosos descarregadas pelo rótulo de comunidade. Análise de redes é útil para a compreensão de como os usuários de redes de computadores forjam relações individuais que são propositais e de menor carga de valor.
Outro ponto abordado pelo autor é que as comunidades nem sempre são formadas concisamente por consenso ou intimidade. Trata-se de compreender que os indivíduos estão unidos por uma necessidade para perpetuar a sociedade e a cultura. Isso obriga os seres humanos a precisarem trabalhar em conjunto e se comunicarem em um processo contínuo de manutenção social ou mudança social. Este processo nem sempre é eficiente ou palpável, que pode ser caótica e possuir oposição.
Em suas conclusões, destaca que Robins (1999) sugere que a própria comunidade virtual é uma visão socialmente regressiva da ‘tecnocultura’ desejando um mundo que não existe. Ele argumenta contra a "obsessiva" caracterização da distância geográfica como tirânica. Robins implica que a comunidade online oferece uma visão anti-social e anti-política do mundo.
Considerando o potencial opressivo da comunidade, para além do seu potencial de estabilização social, Fernback afirma que temos de avançar para além da nostalgia da comunidade ideal. Para ele, a academia deve pensar em ir além da comunidade como um produto ou um fim em si próprio. Temos de pensar em ir além da comunidade como uma estratégia de marketing online. Temos de avançar para além da metáfora da comunidade online como o paradigma de relações sociais. Em última análise, este estudo sugere uma abordagem simbólico-interacionista para o exame das relações sociais online que está livre da controvérsia e de bagagem estrutural-funcional. De acordo com esta perspectiva, a comunidade é uma construção mutável, determinada pelos atores sociais que criam significado nisso. Esta abordagem reconheceria que as estruturas sociais em rede são influenciadas pelas relações institucionais, o poder, o nacionalismo, informação mundial e dos fluxos de capitais, crise de estratégias de gestão e de outros processos que constroem as nossas práticas "comunais".
Para o autor, se os estudiosos continuarem a pintar a internet com o ‘pincel largo’ da comunidade, eles diluirão o potencial da investigação para compreender como comunidades online são constituídas, como elas funcionam, como elas são integradas na vida social offline, ou o que elas fornecem. Ultrapassar a comunidade como um paradigma de estudos online equivale a avançar para além dos efeitos dos estudos de comunicação de massa. É um reconhecimento do rico resultado do passado e futuro, bem como um compromisso para outras avenidas frutuosas de pesquisas deste fenômeno social.


The cyberself: the self-ing project goes online, symbolic interaction in the digital age (24/04)
Autor: Laura Robinson

Neste artigo, Laura Robinson inicia suas ponderações destacando no tópico ‘Muito antes de comunicação mediada por computador (CMC), interação simbólica’, que embora o ‘eu’ seja consagrado, não é delimitado mas constantemente renegociado. No entanto, tal como as perspectivas interacionistas simbólicas tentaram derrubar conceitos do ‘eu’ estático delimitado como um todo, perspectivas pós-modernas ameaçaram a concepção de interação simbólica para um ‘eu’ maior, criado e mantido através da interação.
A autora examina estes dois quadros concorrentes à luz das definições dos ‘cyberself’ online e o processo de auto-construção. Ela acredita que na criação de ‘eus’ online, os usuários não procuram transcender os aspectos mais fundamentais dos seus ‘eus’ offline. Em vez disso, os usuários colocarão na essência dos corpos, personas, e personalidades enquadradas de acordo com as mesmas categorias que existem no mundo offline.
Para Robinson, o quadro do interacionismo simbólico é fundamental para a compreensão do processo de construção do ‘cyberself’ porque o ‘cyberself’ é formado e negociado da mesma forma que o ‘eu’ offline. Online, o 'eu' e o 'mim' ainda informar-se mutuamente, ainda que em um suporte diferente, utilizando diferentes expressões "fixado" e "fixado desligado" (Mead, 1934; Goffman, 1959). Por último, estas interações digitais continuam a exigir uma análise Goffmaniana para compreender a interação tanto 'no palco' como ' nos bastidores'.
Assim sendo, a autora faz um panorama do conceito de interacionismo simbólico, e destaca, embasando-se em Holstein e Gubrium (2000) e, que ao afirmar que o self é empírico, o interacionismo simbólico contesta a popular idéia de que existe o self delimitado fora da interação social como um todo, que é distintivo e fixado em contraste com outros.
Também destaca os pressupostos de Cooley e sua noção ‘looking-glass’ (auto-espelho) que define a auto-reflexão como a gerada pelo ‘outro generalizado’, que é conjugada com o acórdão do ‘outro generalizado’. Em outras palavras, o nosso senso de self é realmente a nossa percepção da avaliação da sociedade sobre nós. Neste processo, através da imaginação que nós percebemos em outro pensamento da mente algumas das nossos aparências, maneiras, objetivos, ações, natureza, amigos, e assim por diante, e que são afetados por ela várias vezes.
O conceito de looking-glass baseia-se num triplo processo. Em primeiro lugar, o self imagina como ele aparece para os outros. Em segundo lugar, o self então imagina a sentença dos outros. Finalmente, o self desenvolve uma resposta emocional a esse julgamento.
Por sua vez, Mead (1934) vê o self como o produto deste processo em que "uma não resposta que ele dirige ao outro e, quando a sua própria resposta se torna uma parte de sua conduta, onde não só ele se ouve, mas responde a si próprio”. Portanto, para Mead, o "eu" é a representação da ordem social ou do "outro generalizado".
Goffman ainda transforma os conceitos de Mead e Cooley em sua prorrogada metáfora do self em dramaturgia. Goffman estuda o self através de atividade mundana 'para descobrir o processo de auto-construção que ele descreve como uma produção dramática’. Nos estudos dramatúrgicos de Goffman, o self gera os seus empreendimentos interacionais estrategicamente e os realiza de uma forma calculada para projetar uma imagem que os outros interagentes encontrarão credibilidade. Em suas performances, o self se esforça para transmitir uma identidade consistente com as expectativas formadas pelo público e com a situação, ou estágio, que enquadra a interação.
No tópico ‘construindo o ciberself: o projeto da constituição do ‘eu’ online’, a autora traz alguns conceitos e pensamentos que irão reforçar seus argumentos e fazer alguns links das teorias anteriores com o ciberespaço. Assim sendo, inicia com os pressupostos de Hill. O autor em questão examina a ‘promotional-hype’ ou segundo seu texto, ‘promoção de ambientes virtuais’, que prevê que os espaços virtuais o self não pode discriminar entre outros reais e o self são projeções exteriorizadas.
Complementando, Turkle fala a a partir dos resultados de suas pesquisas sobre usuários de MUDs, que os ‘múltiplos selfs’ liberta das obrigações corpóreas que engendram o mundo offline, tanto que esses ‘multiplos selfs’ podem estar simultaneamente presentes em numerosos espaços virtuais. Para Turkle (1997), no ciberespaço tem-se a oportunidade de expressar os vários e talvez desconhecidos aspectos da personalidade, através dos MUDs (Multi-User Dungeons). Turkle (1997), pondera ainda que, no mundo mediado pelos computadores, o eu é múltiplo, fluido e consubstanciado nas interações com a rede de máquinas. Para ela, “o computador situa-se na linha de fronteira. É uma mente, mas não é bem uma mente. É inanimado, porém interativo. Não pensa, mas não é alheio ao pensamento. [...] o computador transporta-nos para além do nosso mundo de sonhos e animais e permite-nos contemplar uma vida mental que existe na ausência de corpos (TURKLE, 1997, p. 31)”. Baseado em entrevistas com usuários dos MUD (MUDders), Turkle considera que a construção do cyberself oferece uma "ardósia fresca ' para MUDders online criarem novas identidades.
Robinson observa ao final do tópico que como tecnologias de saturação, ambientes online deixam a seleção do self para o usuário. A partir de uma perspectiva pós-moderna, essas tecnologias apresentam a oportunidade de auto-contrução para um self efêmero, sem compromisso com uma ‘masterself’ (self mestre) que abriga um 'eu' ou um 'mim'.
A partir daí, Robinson se envereda nas discussões do tópico ‘representação e a criação de ciberpersonas’ e enfatiza ainda mais a questão dos MUDs e citando Wertheim, aponta que os MUDders saciam suas fantasias sem temer as repercussões que iriam acontecer no mundo offline, porque o comportamento e expressão aceitáveis no ambiente MUD supera a distância do mundo offline. Nas entrevistas com usuários de MUD, Turkle salienta que muitos jogadores MUD testemunham a realidade de seus selfs virtuais e descrevem os selfs online como sendo "mais reais" do que os que possuem no mundo offline.
No tópico ‘reconstituição do cibercorpo’, Robinson destaca que em MUDS, quando os usuários descrevem os seus corpos virtuais, eles muitas vezes exageram os próprios marcadores de gênero, raça, e a juventude que lhes falta no mundo da fisicalidade corpórea (Chen, 1998). Personagens masculinos são construídos como corpos musculosos, enquanto os personagens femininos são descritas como brandas, e tais cibercorpos tendem sempre a aparecer, seja o masculino ou feminino, para um grau exagerado (Clark, 1995). A simulação da ‘corporalidade’ do corpo indica que os criadores de corpos virtuais desejam preservar o corpo de alguma forma, para não transcenderem à ele (O'Brien, 1999).
Em seguida, cita Wertheim, apontando que a autora critica a perspectiva pós-moderna de cyberself, afirmando que independentemente do seu valor real, não é simplesmente uma experiência de mudança de identidade. Posso jogar com qualquer número de personalidades online sem sofrer fragmentação dos meus 'arquivados' selfs. 'Eu' - isto é, o meu 'eu' - pode jogar qualquer número de diferentes pessoas online e offline, mas isso não significa que se tornam fragmentados. Portanto, argumenta Wertheim, ambientes online não oferecem opções do indivíduo ausentar-se do mundo offline.
A autora finaliza este tópico enfatizando que em termos Goffmanianos, as pessoas dão múltiplas performances para diferentes públicos, pois ao invés de libertar-nos das nossas identidades sociais offline, o ciberespaço proporciona condições para codificá-las.
Já em ‘a ilusória tentação de abordagens pós-modernas’, a autora afirma que que a maior falha fundamental nas interpretações pós-modernas de construção do cyberself reside na tentativa de generalizar a partir de estudos iniciais de MUDS, a construção de cyberself em geral. Outra ponderação sobre as generalizações neste sentido, reside no fato de que interpretações pós-modernas de construção do cyberself já não são válidas, e não podem ser aplicadas à população da internet em geral porque são baseadas precocemente nos usuários que investidos de MUDS. Hoje, a população de usuários é muito diferente, e já não é mais dominada pela cor branca, e pelo sexo masculino.
As identidades online são suscetíveis de serem extensões de identidades offline porque "para a maioria das pessoas, o aumento da utilização internet, amplia e complementa o que eles fazem offline" (Rainie, 2004). Assim, finaliza Robinson, a percepção do usuário na Internet como alguém separado e alienado da sociedade atual' já não é credível.
Quando inicia suas reflexões sobre ‘interacionismo simbólico e construção do cyberself’, Robinson destaca que dada a mudança de populações de usuários e tipos de atividades na Internet, para a maioria dos usuários on-line, self é uma extensão do ‘masterself’ offline. Com isto em mente, a autora regressa ao interacionismo simbólico novamente para explicar auto-construção online e sinalização de identidades.
O cyberself é o emergente produto da interação social em que o self comanda a capacidade de ser tanto o sujeito quanto o objeto de interação. Desta forma, a construção do cyberself cria o par virtual ‘eu / mim'. Online, a página inicial permite que o 'eu' apresente o self ao ‘ciberoutro’; na verdade, a própria construção da homepage pressupõe a expectativa do virtual "outro generalizado".

Estes links movem usuários entre interações textuais e espaços de construção identitária. Em outros fóruns, como as discussões políticas de grupos, os usuários empregam links ou referências à homepages profissionais para dar credibilidade às suas próprias afirmações. Nestes aspectos, a homepage continua a ser uma expressão do 'eu', que antecipa a reação do ‘ciberoutro’, criando, assim, o 'mim'.
Além disso, nos weblogs ou blogs, bem como diários on-line, espaços virtuais ampliam a concepção da página inicial como espaço interacional. Blogs permitem a mesma apresentação do 'eu' como fazem as homepages, mas eles esperam também os outros para interagir com o 'eu', no mesmo espaço virtual. O blogueiro apresenta o 'eu' através de construção de páginas e mantêm um diálogo com os outros ‘eus’ pelas reações e comentários nos posts.
A partir daí, a autora se envereda na discussão sobre a temática ‘sinalizando a identidade no mundo mediado por computador’. Destaca então que na interação social face-a-face, os indivíduos empenham-se uns com os outros por meio de qualquer das suas modalidades sensoriais. No entanto, na rede, não há sinais interacionais físicos como tal. Atualmente, a maior parte da comunicação mediada por computador ocorre através de intercâmbios com base em texto. Usuários online empregam texto para enviar e receber sinais que mimetizam as estruturas das expressões "given" e "given off" no mundo offline.
Robinson exemplifica que o e-mail fornece ambas as expressões "given" e "given off”. Por exemplo, em um fórum empresarial, um usuário pode postar o seu ‘cargo’ como uma expressão "given". No entanto, se o usuário não usa o email da instituição com o nome, este pode não enviar a expressão adequada "given off”. Ao usar um e-mail associado à identidade institucional reivindicada pela expressão "given", a expressão "given off” iguala e valida a expressão "given". E-mail de uma conta gratuita, como o Yahoo, pode sinalizar a possibilidade de engano de identidade, porque não existe nenhuma prova de filiação ou de identidade offline. Em suma, o 'given' diz respeito às suas ações voluntárias que apontam suas características e o 'given off' são as demais formas de expressão e outros, que deixam transparecer sua identidade ou seu estado, sem necessariamente ser algo voluntário.
Em seguida, a autora retorna à Goffman ressaltando que em termos de interação cibernética, podemos chamar seu argumento de metáfora da dramaturgia. Para Goffman, cada vez que um usuário posta em um fórum ou chat, ele realiza uma performance. Goffman define um desempenho como ‘toda a atividade de uma pessoa, que ocorre durante um período marcado pela sua presença contínua antes de um conjunto particular de observadores’. Para ser bem sucedido, o desempenho é ‘moldado e modificado para se ajustar ao entendimento e às expectativas da sociedade em que é apresentado’. Além disso, o ator opta por 'renunciar ou dissimular a ação que é incompatível com estas normas’.
Para Halbert, para que os usuários mantenham com sucesso os seus membros em uma comunidade, que deve realizar auto-identidades que não violem o contexto da interação da comunidade, que pode ser lido através dos nomes na tela, biografia dos membros, introduções e os contextos em que se realizam conversas.
Às vezes, performances falham. Isto é especialmente verdadeiro quando ‘não associados’, às vezes chamado ‘trolls’, tentam usar esses sinais para imitar os hábitos linguísticos dos membros reais. A ciberaudiencia é rápida para sinalizar a tensão durante a sinalização de identidades corretas e identidades enganosas. Porque dissimulando ciberperformances, podemos falsificar assinaturas em rede sem gastar muito tempo ou esforço, e a maioria dos membros não irá invocá-los como indicadores confiáveis de identidade. Em vez disso, o público inspeciona linguagem e vocabulário tal como expressões "given off”.
A autora também ressaltam a sinalização textual bem como as expressões como "LOL" que sintetizam as características físicas em texto. Em mensagens instantâneas (IM) e e-mail, os emoctions oferecem uma infinidade de símbolos que, como o "LOL", reduzem sinais visuais interacionais em um ícone visual embutido no texto.
A autora finaliza suas ponderações apontando que os estudos que vislumbram identidade e interação social na internet ainda focam públicos específicos (do gênero masculino, e que a partir dos MUDs buscam no mundo online, satisfazer seus ‘eus’ que de algum modo não são satisfatórios no mundo offline. Porém, lembra que esses usuários já não constituem a maioria da população na internet. Assim, destaca Robinson, no ciberespaço perpetua a mesma auto-construção interativa que existe no mundo offline.

Um comentário:

  1. Olá Renata,
    Sobre cibercultura e género:

    Inicialmente, o cybernette simbolizava um cibernauta do sexo masculino, realidade ultrapassada com a utilização genérica da informática pelas mulheres, tendo a máxima expressão e voz na cyber¬fe¬mi¬nista Sadie Plant, autora do livro “As mulheres e as novas tecnologias”. As “Systers” constituem a rede de cientistas feministas na área dos computadores (Castells, 2002).

    E ainda,
    Nesta sequência de pensamento, as mulheres, através da utilização em massa da internet, podem contribuir para um novo entendimento nas relações internacionais e nas novas formas políticas da cibercultura, que poderão conduzir a novos modos de acção do pacifismo feminista e da teoria da paz democrática.

    Cumpts,
    Madalena Madeira

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