Por Hermílio Santos
Considerações Iniciais
Pelo menos dois aspectos comuns puderam ser identificados na maioria dos pavilhões: a estrutura dos pavilhões e, relacionado a isso, a maneira como as mensagens eram transmitidas.
Com pouquíssimas exceções, a maioria dos pavilhões estava estruturada de forma a que os visitantes não pudessem escolher qual caminho eles gostariam de seguir: uma entrada e uma saída estavam claramente demarcadas. Ninguém tinha a per missão de quebrar esta estrutura, porque assim era a maneira como os indivíduos deveriam receber a “mensagem” do pavilhão.
Uma outra característica comum a muitos pavilhões da Expo 2000 era o uso de mídias eletrônicas como suporte para as mensagens. Vídeos eram responsáveis por transmitir as mensagens para um grande público. A postura individual não raramente era de passividade diante de imagens coloridas, e, possivelmente, talvez fosse essa a postura esperada.
O tipo de mídia era, de alguma forma, coerente com a organização física dos pavilhões. Assim como os pavilhões, as mídias selecionadas permitiam unicamente uma comunicação de mão única, com muito pouco espaço para aquilo que denominamos interatividade.
Objetivos do Artigo
Ilustrar como ocorre grande parte da comunicação no mundo contemporâneo, apesar da existência de meios de comunicação mais interativos.
A questão, portanto, não é tanto quanto à escolha da tecnologia “correta”, mas muito mais de atitude em relação à interação social.
Questões a serem confrontadas
- De que forma as novas mídias são encaradas como parte da interação humana?
- Quais as conseqüências de interfaces interativas para a interação social?
- E, finalmente, de que forma as mídias são capazes de reforçar a habilidade dos indivíduos de interagirem socialmente?
Problemas levantados
Mesmo que tais instrumentos passem a ser utilizados com maior freqüência, suas possibilidades e limitações para a interação dificilmente podem ser concebidas sem levar em consideração a interação face a face, apesar das nuanças que marcam cada forma interativa.
Pensar a interação tendo como ponto de partida máquinas e tecnologias, sem levar em conta os sujeitos que verdadeiramente interagem
Hipótese
Será investigada a hipótese de as mídias eletrônicas fornecerem novos elementos para a interação social e que, por esta razão, caberia investigar quais seriam precisamente esses fatores a influenciar a interação e sua relação com eventuais transformações no processo interativo.
Mais precisamente, nossa discussão procurará investigar se, e de que forma, as novas mídias representam um instrumento capaz de otimizar a interação social, tornando a comunicação mais ágil e flexível, mas acima de tudo preservando a singularidade da comunicação daqueles envolvidos no processo de interação mediada.
Em torno da interação social
Herbert Blumer identifica duas formas de interação social, a chamada “interação não-simbólica” e a outra precisamente “interação simbólica” (Blumer, 1969:8).
A interação não-simbólica ocorre quando se reage diretamente à ação de um outro sem que se interprete tal ação; por exemplo através de reflexos do corpo.
Ao contrário, a interação simbólica implica interpretação dos atos. Este segundo tipo de interação é bastante mais complexo e constitui o fundamento para a abordagem do interacionismo simbólico.
O interacionismo simbólico está fundado em três premissas (Blumer, 1969:2-5).
A primeira delas é que seres humanos agem em relação ao mundo baseados no sentido de elementos tais como objetos físicos (árvore ou cadeira), outras pessoas (mãe ou mo to ris ta de táxi), categorias de seres humanos (amigos e inimigos), instituições (escola ou governo), ideais (in de pendência individual e honestidade) e as sim por diante.
A segunda é de que a resposta do interacionismo simbólico é que o sentido é produzido através do processo de interação social.
Um sistema social é caracterizado pela interação do ego (I) com o alter (me), mutuamente orientados. A complementaridade ou reciprocidade é possível em razão das condições prévias da existência de uma comunicação através de um “sistema comum de símbolos” ou “cultura comum” (Parsons, 1962).
De acordo com Mead (1972), o ego é a resposta, incerta, que um indivíduo dá às atitudes de outros em relação a ele quando este assume uma atitude em relação aos outros.
O alter é o grupo organizado de atitudes das respostas dos outros que o indivíduo assume enquanto suas. A fusão de ambos, ego e alter, articula a constituição do self, o sujeito de ações em um sistema social.
Neste sentido, o assumir papéis é um processo fundamental na constituição do self, e marcado por três fases: a) a fase preparatória, a fase da repetição; b) a fase do brincar (play), na qual o indivíduo aprende como assumir papéis e c) a fase do jogo (game), quando o indivíduo é confrontado com o outro generalizado, ou seja, quando o indivíduo atua de acordo com as expectativas das ações dos outros que tomam parte no jogo.
A terceira premissa sustenta que os sentidos são manipulados e modificados por um processo interpretativo adotado pela pessoa em relação aos elementos com os quais a pessoa entra em contato.
O processo interpretativo compreende duas fases distintas:
1ª) A pessoa que age estabelece a si mesma os elementos com os quais tem relação, isto é, a pessoa deve especificar os elementos que gozam de sentido.
2ª) A pós o processo de auto-comunicação, a interpretação implica uma manipulação de sentidos, na qual o agente seleciona, reagrupa e transforma os sentidos de acordo com o ponto de vista da situação na qual ele está confrontado e que está relacionado com suas ações.
Em torno da interação mediada
O autor inicia enfatizando os conceitos de Thompson:
A interação face-a-face acontece num contexto que o autor denomina co-presença, isto é, os interagentes estão presentes e partilham um mesmo sistema referencial de espaço e tempo. Outra característica desta modalidade é a multiplicidade de deixas simbólicas para transmitir mensagens e também interpretar as que cada um recebe do outro.
Interação quase mediada é aquela realiza da através dos meios de comunicação de massa (livros, jornais, rádio, televisão, etc.).
Interações mediadas “implicam o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas, etc.) que possibilita a transmissão de informação e conteúdo simbólico para indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos”
Características interativas | Interação face-a-face | Interação mediada | Quase-interação mediada |
Espaço-tempo | Contexto de co-presença; sistema referencial espaço-temporal comum | Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço | Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço |
Presenças simbólicas | Multiplicidade simbólica | Limitação simbólica | Limitação simbólica |
Orientação / característica | Orientada para receptores específicos / Dialógica | Orientada para receptores específicos / Dialógica | Orientada para número indefinido de receptores / Monológica |
As tecnologias não trazem já embutidas nelas as novas formas de comportamento, sendo estas o desdobramento incessante e dinâmico da interação tanto dos indivíduos com as tecnologias e máquinas quanto da interação entre os próprios indivíduos mediada pelas tecnologias.
Com isso se quer apenas salientar o fato de que não apenas as tecnologias são historicamente distintas, provocando reações e combinações diferentes de comportamento, mas que são igualmente diversos os contextos socioculturais em que tecnologias similares são introduzidas, o que tende a suscitar novas e diferenciadas formas de interação social, de acordo com o meio ambiente.
Uma outra importante questão suscitada pelo uso intensivo de mídias interativas é precisamente o processo de formação da identidade dos envolvidos na interação mediada, encarada como um elemento fundamental também na constituição das comunidades virtuais.
O cuidado com sua própria identidade, sua própria reputação, é um importante elemento na formação de qualquer comunidade, já que exerce entre outras funções o papel de elemento motivador ao pertencimento à determinada comunidade (Donath, 2000: 29-31).
Conclusões do autor
Primeiro, parece imprescindível a elaboração de uma análise mais consistente da interação social mediada por novas mídias interativas, teórica e empiricamente mais fundamentada, para que aqueles envolvidos no processo de interação mediada, assim como aqueles que propiciam tal mediação, estejam mais aptos a superar parte desses impasses.
Em segundo lugar, é preciso decifrar as condições de possibilidade para a existência da interação social no ciberespaço. Ademais, o estabelecimento dessas condições nos permitirá identificar empiricamente os elementos comuns e divergentes entre a interação quase-mediada e interação mediada .
Que beleza de fichamento, heim Renata? :-)
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