sábado, 18 de abril de 2009

Symbolic Interactionism - Perspective and Method - Por Herbert Blumer

Capítulo I - The Methodological Position of Symbolic Interactionism

O primeiro capítulo do livro de Herbert Blumer se ocupa em esclarecer tanto no que consiste a proposta metodológica do Interacionismo Simbólico quanto em mostrar que há uma compleição metodológica por trás da proposta teórica. O autor inicia o texto apontando várias similaridades entre o trabalho de vários autores, entre eles William James, John Dewey e George Herbert Mead, o qual, segundo Blumer, foi o mais eficiente na delimitação das idéias que estruturam o Interacionismo Simbólico. O artigo se estrutura, então, em primeiro mostrar as características da teoria, depois as posições e princípios metodológicos que guiam a corrente de pensamento.
O autor identifica três premissas básicas na qual age o Interacionismo Simbólico: (i) a de que os seres humanos agem para com as coisas de acordo com os significados que elas têm para eles. Essas ‘coisas’ podem ser efetivamente tudo que um ser humano pode notar em seu mundo – estruturas físicas, outros seres humanos, categorias de pessoas, instituições e encontros no dia-a-dia. A premissa seguinte é a de que (ii) tal significado deriva da interação social estabelecida entre as pessoas. Por fim, a de que esses (iii) significados são lidados com e modificados através de um processo interpretativo utilizado pela pessoa que está lidando com as ‘coisas’ que ela encontra. Tal perspectiva era, na época em que o texto foi publicado, contrária à maioria da literatura que concerne ao tema – para a qual o significado era uma coisa pré-definida e então deixada de lado com desimportante – ou somente uma ligação neutra entre os fatores responsáveis pelo comportamento humano e esse comportamento como sendo produto de tais fatores.
O autor faz uma harmonização entre conceitos da psicologia e da sociologia através da teoria apresentada, apresentando o modo pelo qual as duas disciplinas lidam com fatores comuns às interações sociais, de onde cada campo apenas aderiria a explicações independentes umas das outras para explicar o comportamento humano. Para Blumer, duas correntes teóricas dividem a posição sobre o problema: a (i) primeira que afirma que as ‘coisas’ possuem significados intrínsecos, sendo uma parte natural de sua composição; e a segunda (ii) que o significado é simplesmente a expressão de elementos psicológicos que entram em contato com a percepção da coisa – o que limitaria o processo de produção de sentido porque estaria sujeito apenas aos elementos existentes no momento do contato. O autor afirma que o Interacionismo Simbólico vê o significado como proveniente de outra fonte – ele surgiria da interação de outras pessoas com relação àquela coisa – os significados seriam produtos sociais como criações formadas através da interação das pessoas. Essa perspectiva contemplaria a existência de um processo de interpretação pelo qual se daria o sentido de forma muito mais dinâmica. Esse processo de interpretação ocorreria conforme dois passos: no primeiro o ator indicaria para si mesmo as coisas com as quais ele desejaria interagir, e no segundo, em conseqüência desse processo de comunicação consigo mesmo, a interpretação se localizaria como sendo um processo de lidar com significados. O processo de interpretação, para Blumer, seria formativo.
Blumer aponta a existência de um número de idéias básicas – imagens raiz – que se refeririam e transpareceriam as naturezas dos seguintes tópicos: grupos humanos, ou sociedades, interação social, objetos, o ser humano como ator, a ação humana e a interconexão entre essas linhas de ação.
Ele explica cada ponto de forma detalhada:
- Natureza da Sociedade Humana: se referiria ao fato de os grupos de pessoas serem considerados indivíduos que estão sempre entrando em co-ação. Para Blumer, grupos de pessoas ou sociedades só existem ‘em ação’. Dessa ação, resultariam tanto a cultura (derivada das coisas que as pessoas fazem quanto a estrutura social (relativa aos relacionamentos derivados de como as pessoas agem com relação umas às outras.
- Natureza da Interação Social: uma sociedade é composta por indivíduos interagindo entre si. As atividades de um membro ocorreriam em resposta – ou em relação – às atividades de outro. Blumer aponta que a Interação Social é uma interação entre atores – e não entre fatores associados a esses atores. A diferença com relação à abordagem do Interacionismo Simbólico é que ele reconhece a interação social como que forma o comportamento humano, ao invés de ser apenas um veículo para tal. Mead identifica, aqui, duas formas de interação social: uma não-simbólica (conversação de gestos), associada a movimentos reflexivos; e outra simbólica (o uso de símbolos significantes), associada a uma característica interpretativa, a um processo de formação de sentido. Mead vê uma carga grande de significado na idéia de apresentação de gestos, porque a interpretação de um gesto percorre as três dimensões da natureza do significado – o gesto significa algo pra quem o produz, algo para quem o vê/recebe e a ação conjunta, a articulação entre as duas ações.
- Natureza dos Objetos: para o IS, os mundos nos quais os seres humanos podem existir são compostos de objetos – objetos esses que são os produtos da interação simbólica. Os objetos podem ser: (a) físicos; (b) sociais e (c) abstratos. A natureza de um objeto depende estritamente de quem interage com ele. Objetos não possuem status sólidos – eles variam com as indicações e definições que as pessoas fazem sobre eles.
- O Ser Humano como Organismo Ator: o ser humano é visto como um organismo que não responde somente aos outros no nível não-simbólico – ele faz indicações e interpreta o que os outros comunicam. Um ponto importante aqui é a objetivação do ser. Como outros objetos, o objeto ‘self’ emerge do processo de interação social com as outras pessoas, na tentativa de diferenciação. Tais objetos ‘self’ seriam formados pelo processo de assunção de papéis – numa exteriorização de nossa consciência – projeção de nós mesmos, visão de nós mesmos, num processo de auto-interação (que seria proveniente dessa característica).
- Natureza da Ação Humana: A natureza da ação humana é reconhecer que a atividade dos seres humanos consiste em lidar com um fluxo de situações com as quais precisamos interagir – e tal interação é composta pela base interpretativa e sua relação com o que a pessoa percebe.
- Interligação de Ações: Talvez o mais complexo dos pontos discutidos por Mead, a interligação entre ações humanas consiste em organizações sociais de produção de diferentes atos de diversos participantes. Tais ações às vezes geram padrões – que existem de forma preponderante e recorrente em sociedades já estabelecidas. Blumer faz dois comentários distintos com relação ao presente esquema: o primeiro dizendo respeito ao fato de que a expressão das formas pré-estabelecidas de ações conjuntas não dita a extensão da vida em sociedade; e o segundo afirmando que precisamos reconhecer que mesmo no caso de ações conjuntas pré-estabelecidas e repetitivas, cada instância da ação conjunta precisa ser formada de forma inédita. Tais ações sempre estão relacionadas a ações prévias de seus participantes (numa lógica de intertexto).
Blumer, então, começa sua incursão pela problemática relativa à metodologia relacionada ao interacionismo simbólico. Para o autor, o interacionismo simbólico constitui uma abordagem científica empírica que precisa de um mundo empírico existente – que serve de como lugar de observação, estudo e análise. Ele determina, nesse ponto, que o conceito de realidade está absolutamente concatenado à existência desse mundo, no que se refere ao trabalho empírico, e só pode ser procurado e verificado quando em contato para com o mundo. Para o autor, a ciência empírica busca resolver seus problemas deslocando imagens do mundo empírico sob estudo e testando-as através do extenso escrutínio da problemática do mundo empírico. Tal afirmação leva ao fato de que a metodologia se refere, ou guia, os princípios que sobrescrevem o processo de estudo do caráter não-corruptível do mundo empírico.
Para o autor, uma metodologia funciona da seguinte forma: ela (1) abraça o problema científico inteiramente – e não somente uma pequena parcela dele; (2) cada parte desse problema, assim como ato científico completo, precisam se encaixar no mundo empírico, de modo que tais métodos possam ser testados e finalmente (3) o mundo empírico sob estudo – e não um modelo qualquer de questionamento científico – precisa prover as respostas decisivas para o teste.
Para isso, o pesquisador precisa de: (a) um esquema do mundo empírico sob estudo; (b) ter dúvidas sobre o mundo empírico estudado e converter tais dúvidas em problemas científicos; (c) Determinar os dados a serem procurados e os meios que podem ser empregados em consegui-los; (d) Determinar as relações entre os dados e por fim (e) Interpretar o que foi achado. Há ainda uma outra categoria que diz respeito a todo o processo, a idéia do (f) Uso de Conceitos – modos de categorização que são usados como guia para que dados vão ser coletados, procurados.
O autor critica duramente ainda os métodos quantitativos, principalmente de acordo com a quantificação de variáveis que, para ele, não podem ser quantificadas. Isso está explícito, em especial, na idéia dos procedimentos operacionais. Há ainda uma crítica quanto ao que é ensinado para os jovens pesquisadores – que apenas aderem a uma base protocolar de desenho de pesquisa, e que Blumer defende que não garante que o mundo empírico esteja sendo respeitado.
Blumer se debruça sobre a idéia de ‘testar uma hipótese’ como sendo uma das bases para estabelecer a base do trabalho empírico. Ele mostra que uma hipótese precisa (a) conter genuinamente o modelo do qual ela é deduzida e (b) ser testada e encontrar tanto casos positivos (que a confirmem), quanto casos negativos. O autor resume: “aderir a um protocolo científico e tentar replicar resultados testando hipóteses não garante a validação empírica genuína que as ciências sociais requerem”. O autor ainda traça uma crítica aos pesquisadores que se utilizam de tais protocolos operacionais para tentar explicar um mundo do qual eles não participam.
Finalmente, Blumer aponta dois caminhos metodológicos pelos quais os usuários da metodologia do Interacionismo Simbólico podem enveredar: o primeiro diz respeito à dinâmica da (1) Exploração, pela qual um estudioso pode encontrar tanto um relacionamento de compreensão daquela esfera social quanto desenvolver suas argüições para com o problema. A dinamicidade de alguns ambientes é especialmente vivida nessa dinâmica. A segunda dinâmica é a da (2) Inspeção, que consiste em examinar de forma intensiva o conteúdo empírico e de forma criativa abordar suas questões – o que Blumer sugere como indo na contramão do que é feito nas ciências psicossociais – tal método descende do método usado por Darwin em sua teoria da evolução das espécies.
O autor, ainda falando sobre metodologia, delineia os principais problemas que um cientista social usando o Interacionismo Simbólico pode encontrar: (1) transferir sua visão como sendo a visão do grupo estudado; (2) como as linhas de comportamento das pessoas são traçadas de acordo com os lugares onde elas vivem, há um problema sério de validade nas aproximações de grande escala – além de não se ter exatamente uma dimensão do aspecto social do referido grupo (geralmente se minimizando ou simplificando-o). (3) como as ações sociais são o campo central do estudo, elas precisam ser bem delineadas - e seu processo de desenvolvimento deve ser acompanhado na íntegra.
Por fim, na sua breve conclusão, o autor, imperativo, pede para que se tenha um maior respeito com questões de metodologia associadas ao Interacionismo Simbólico.

Capítulo II - Sociological Implications of the Thought of George Herbert Mead

O segundo capítulo reflete, como o título afirma, a visão de Blumer de acordo com o pensamento de Mead. O artigo se debruça sobre muitos temas que já foram vistos no capítulo anterior, contudo. O autor inicia combatendo a idéia de que os significados estão imbuídos no mundo ao redor, e que a consciência e as mentes dos seres humanos já viriam com uma pré-visualização da realidade. O autor então, envereda por analisar os 5 pontos que Mead aponta em seu trabalho e que foram de valor inestimável para construir o campo do Interacionismo Simbólico.
(1) O Self – Mead interpreta o homem como sendo um ator que pode tanto interagir com os outros quanto consigo mesmo – essa visão era extremamente diferenciada das abordagens psicossociais de seu tempo.
(2) A Ação – A ação é desenvolvida num processo dinâmico para com o mundo – ao invés de meramente ser uma estrutura psicológica previamente existente ativada por fatores incidentes àquela estrutura.
(3) Interação Social – Aqui a contribuição principal do autor foi fazer uma diferenciação entre Interação Simbólica e Não Simbólica – no que diz respeito à Interação Não-Símbólica, a idéia é a de que podemos interpretar gestos que são puramente reflexivos e nos comportar de acordo com isso, não contendo simbologia. A interação simbólica estaria permeada por símbolos, sendo, então, interpretada. Aqui tem-se que apontar que a produção de sentido é um processo formativo – diferente da insistência das ciências da psicologia em tratar tal interação somente como um fator externo, um meio neutro.
(4) Objetos – Qualquer coisa, eventualmente, num mundo empírico. Podem ser físicos, sociais ou abstratos. Sua natureza é construída com base em sua significação, em seu sentido – e sua significação depende de quem se refere a eles. Todos os objetos são produções sociais, de modo que eles assim são formados e assim são transformados pela interação social e seu processo de interpretação.
(5) Ações Conjuntas – São linhas de comportamento e interações entre os homens que coexistem no mesmo mundo – são o foco principal do estudo do interacionismo simbólico, por serem o mais fértil veículo para as transformações interpretativas causadas pelo processo de interação. Blumer aponta que a sociedade tem sua essência num eterno processo de interação, onde cada ação deve ser tratada como ação conjunta – e nunca separada. O autor ainda afirma que cada ação conjunta precisa ser vista como tendo uma história, um contexto, e que essa orientação histórica é, geralmente, ordinária, no sentido de que é desenvolvida e se torna recorrente nos participantes que tomam partido nela. Por fim, o autor adiciona um índice de imprevisibilidade, afirmando que mesmo que elas sejam ‘ordinárias’, no sentido citado, elas ainda podem estar abertas a muitas possibilidades e incerteza.
O autor encerra o capítulo afirmando que escolheu não se concentrar sobre todas as implicações sociológicas do trabalho de Mead, mas apenas aquelas que ele considera de maior fecundidade científica.

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