terça-feira, 7 de julho de 2009

Módulo 4 - Referencial teórico-metodológico: Teoria das representações sociais

Texto Guia: MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2007 (p. 29 a 109).

O texto apresenta a idéia de Serge Moscovici a respeito do fenômeno das representações sociais, mostra conceitos fundamentais para a compreensão do fenômeno das representações e também para compreensão de sua teoria. Moscovici, nesse texto, estrutura sua linha argumentativa em sete partes: da primeira até a terceira parte, ele destrincha as principais idéias e pontos argumentativos a respeito do que chamou do fenômeno das representações sociais (o pensamento como ambiente, natureza das representações, universos consensuais e reificados); na quarta e quinta partes, aponta os elementos constituintes da teoria das representações (ancoragem, objetivação e causalidades); por fim, na sexta e sétima partes, Moscovici coloca pontuações dos aspectos metodológicos e considerações finais a respeito do fenômeno.

Porém, antes de abordar de uma maneira integrada o conteúdo do texto, acredito que seja pertinente levar em consideração aspectos contextuais que vão ajudar a esclarecer alguns elementos presentes na estrutura argumentativa do texto de Moscovici. Para isso, vamos tomar como referência a Psicologia e Psicologia Social enquanto ciência nas décadas de 1960 e 1970, já que foi nesta época que surgiu o nome de Serge Moscovici, no cenário de uma psicologia social européia que apontava um maior reconhecimento da dimensão social no estudo do comportamento dos indivíduos.

O fato é que depois de um crescimento na década de 60, a psicologia social, em torno de 1970, foi afetada por uma mudança de paradigma. Aliás, essa mudança de paradigma parece ter afetado todas as ciências sociais, inclusive a Psicologia de um modo geral. Iniciou-se assim, uma crise paradigmática que afetou bases teóricas, metodológicas e epistemológicas no âmbito da filosofia da ciência e como conseqüência teve a diminuição da influência do positivismo lógico. Desse modo, novos paradigmas surgiram e/ ou tiveram um maior desenvolvimento, como por exemplo, o caso do interacionismo simbólico (uma das correntes da psicologia social sociológica) e um dos assuntos estudados no módulo 2 desta disciplina.

Essa crise indicou fragilidades em modelos experimentais considerados como modelos hegemônicos na época para Psicologia enquanto ciência. Assim, tanto o modelo behaviorista - baseado no esquema: estímulo -> resposta (E->R), no qual o indivíduo é considerado um respondente das condições ambientais em que está inserido e comportamentos são respostas a situações consideradas reforçadoras ou não reforçadoras; como o modelo cognitivista - baseado no esquema: estímulo-> cognição -> resposta (E->O->R) com uma concepção “mentalista” individual, de um indivíduo que processa informações como resultado de uma atividade individual cognitiva, começaram a ser questionados dando espaço para outros modelos baseados em novas concepções e novos métodos.

Nesse contexto, apesar de a psicologia social parecer relativamente alheia à influência das correntes behaviorista e cognitiva da psicologia, pois desde seus primórdios a psicologia social teve como enfoque a concepção de um indivíduo social. Mas por ainda não romper totalmente com a lógica positivista, diante dos fatos, ficou mais legitimada a renunciar conceitos vinculados a uma concepção científica natural e a idéia da experimentação como método de pesquisa mais adequado.

Desse modo, se fortalece uma psicologia social que já apresentava duas tendências de pensamento: 1- psicologia social psicológica, tradição norte-americana, baseada em um modelo cognitivo social mais centrado a aspectos individuais; 2 – psicologia social sociológica, tradição européia, reinvidicava uma identidade própria e diferenciada da psicologia social, apesar de não transpor totalmente os limites da psicologia social tradicional, defendia a realização de pesquisas mais relevantes do ponto de vista social. Essa corrente de tradição européia da psicologia tem Serge Moscovici (1928) como um dos pesquisadores mais representativos já que a teoria das representações sociais desenvolvida por ele teve grande impacto na psicologia social como um todo.

O início da teoria das representações sociais desenvolvida por Moscovici em 1961 está na investigação realizada sobre a difusão da psicanálise na população francesa em 1950. A pesquisa tinha como objetivo principal analisar o conteúdo das notícias publicadas na imprensa e nos resultados obtidos em um levantamento realizado a partir de uma grande amostra da população francesa, conhecer como os conceitos gerados na teoria psicanalítica eram utilizados no dia-a-dia por diferentes grupos sociais franceses (p286).

Atualmente Serge Mosvovici é diretor do Laboratoires Européen de Psychologie Sociale (Laboratório Europeu da Psicologia Social, que ele co-fundou em 1975 em Paris; é membro do Europen Avademy of Sciences and Arts, da Légion d’honneur e do Russian Academy of Sciences (http:// www.serge-moscovici.fr/). Agora que já foi feita uma breve recapitulação e contextualização sobre a psicologia social e Moscovici, acredito que teremos um melhor embasamento para apresentar e discutir as principais idéias do texto.

O texto é iniciado com a argumentação do pensamento considerado como ambiente, nota-se aí, ao meu entender, influencia do aspecto da linguagem científica natural utilizada pelo behaviorismo na época. Moscovici acredita que existe a necessidade do homem compreender o mundo de alguma forma, como também um medo instintivo do homem de poderes que não pode controlar e uma tentativa de poder compensar essa impotência imaginativamente.
Por isso, Moscovici apresenta dois tipos de pensamento que fundamentam a compreensão do mundo para o homem: 1- pensamento primitivo, ciência e senso comum que tem como característica a crença no poder ilimitado da mente, conformar a realidade, penetrá-la, ativá-la, determinar o curso dos acontecimentos; 2- pensamento científico moderno que tem como característica poder ilimitado dos objetos, conformar o pensamento, determinar completamente sua evolução e de ser interiorizado na e pela mente. Em resumo teríamos:

Pensamento Primitivo
— Age sobre a realidade
— Objeto emerge como réplica do pensamento
— Desejos se tornam realidade

Pensamento Científico Moderno
— Reage à realidade
— Pensamento é uma réplica do objeto
— Pensar para transformar a realidade em nossos desejos, despersonalizá-los


Segundo Moscovici, as duas atitudes são simétricas e têm a mesma causa já apresentada no parágrafo anterior: o medo instintivo do homem de poderes que ele não pode controlar e sua tentativa de poder compensar essa impotência imaginativamente. Porém existe uma diferença básica entre a mente primitiva e a mente científica, a primeira se amedronta diante das forças da natureza enquanto a segunda se amedronta diante do poder do pensamento. De fato, o que esses dois tipos de articulação do pensamento representam é um aspecto real da relação entre nossos mundos externo e interno.

Como a psicologia social é uma manifestação do pensamento cientifico, quando estuda o sistema cognitivo pressupõe: 1-indivíduos normais reagem a fenômenos, pessoas ou acontecimentos do mesmo modo que os cientistas ou estatísticos, e compreender consiste em processar informações; 2- percebe-se o mundo tal como é e todas nossas percepções, idéias e atribuições são repostas a estímulos do ambiente físico ou quase físico.

Desse modo, Moscovici afirma: “o que nos distingue é a capacidade de avaliar seres e objetos corretamente, de compreender a realidade completamente; o que distingue o meio ambiente é a sua autonomia, sua independência com respeito a nós e a nossas necessidades e desejos” (p.30). Porém no dia a dia, alguns fatos comuns parecem contradizer aos dois pressupostos apresentados:

A) a observação familiar – conseguimos ver o que está diante de nossos olhos? Ex. os velhos pelos novos e os novos pelos velhos
B) alguns fatos aceitáveis sem discussão, repentinamente transformam-se em ilusões (aparência X realidade)
C) reações aos acontecimentos – repostas aos estímulos estão relacionadas a determinada definição comum aos membros que pertencem uma determinada comunidade Ex. acidente na estrada

Esses fenômenos estão relacionados com aspecto que Moscovici chamou natureza convencional e prescritiva das representações. Se levarmos em consideração a argumentação de Moscovici de o pensamento ser considerado como um ambiente, as representações possuem precisamente duas funções:

A) Convenção dos objetos, pessoas e acontecimentos – daí o aspecto da natureza convencional (ex. A Terra é redonda, comunismo-> cor vermelha), mesmo quando uma pessoa ou objeto não se adequam exatamente ao modelo. Essas convenções possibilitam conhecer o que representa o quê ( exs. Duchamp; os criminosos de guerra), por isso Moscovici ressalta que nenhuma mente está livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas representações, linguagem ou cultura. Desse modo, o ato de pensar é realizado através de uma linguagem, os pensamentos são organizados de acordo com um sistema que está condicionado, por representações e cultura.

Mas, como não podemos nos libertar das convenções e estamos presos a alguns preconceitos o que nos resta, segundo Moscovici, é reconhecer que as representações constituem um tipo de realidade.

B) as representações são prescritivas – impõe-se com uma força irresistível, a força como uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo do ato de pensar e de uma tradição que decreta o que de ser pensado Exs. Jargões psicanalíticos e uso de termologias “louco” “neurótico. O poder e a claridade peculiares das representações deriva do sucesso com que elas controlam a realidade de hoje e da continuidade que isso pressupõe.

Para Moscovici, essas representações são entidades sociais com vida própria, comunicando-se entre elas, opondo-se mutuamente e mudando em harmonia com o curso de vida. Nossas inter-relações e nosso pensamento coletivo que estão implicados nisso e transformados. Ex. Caso APA...

Para concluir o raciocínio em relação a natureza das representações Moscovici afirma que o que se percebe e se imagina, essas criaturas do pensamento, que são as representações, terminam em se constituir em um ambiente real, concreto. O que é invisível é inevitavelmente mais difícil de superar do que o visível.

Mas o que seriam essas representações? Moscovici acredita que toda interação humana envolve algum tipo de representação, por isso para ele as representações são acontecimentos em que elas estão psicologicamente representadas em cada um dos participantes. Tenta-se dar significado as informações que se recebe, isso está ligado a um controle das representações de não possuir outro sentido, além do que elas dão a ele.

Porém existe uma natureza da mudança na qual as representações sociais se tornam capazes de influenciar o comportamento do indivíduo participante de uma coletividade, pois como são criadas no pensamento individual e aparecem quase como objetos materiais (produtos de ações e comunicações) possuem vida própria circulam se encontram se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações enquanto velhas representações morrem.

Além disso, sendo compartilhada por todos e reforçadas por sua tradição, ela constitui uma realidade social. Quanto mais sua origem é esquecida e sua natureza convencional é ignorada mais fossilizada ela se torna, ideal gradualmente materializado. Para Moscovici a tarefa principal da psicologia social é estudar as representações, propriedades, origens e seus impactos.

Então o que seria uma sociedade pensante? Moscovi acredita que quando estudamos representações sociais nós estudamos o ser humano – que faz perguntas e repostas que pensa e não apenas enquanto ele processa informação e se comporta, de fato o que Moscovici quer observar e compreender através do estudo é:

A) das circunstâncias em que os grupos se comunicam, tomam decisões e procuram tanto revelar, como esconder algo (as mentes não são caixas pretas dentro de uma caixa preta maior)

B) das suas representações e crenças (presença de uma ideologia dominante? Reproduzir e ser reproduzido)

Ao propor isso ele quer compreender a realidade através das inter-relações sociais, comunicação social e não apenas pelo contato com o mundo externo.

Dessa forma, os acontecimentos são como alimento para o pensamento, nesse caso a visão da psicologia social vai se apresentar como um contraponto a visão de Durkheim e da sociologia, que tem como proposta entender o dinamismo interno, com a proposta de Moscovici de entender como um fenômeno o que antes era visto como conceito:

A) As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos
B) Durkheim, fiel a tradição aristotélica e Kantiana possui uma concepção estática dessas representações – algo parecido com a dos estóicos

Acredito que, nesse momento, um dos pontos interessantes a ser colocado para discussão da disciplina – mídia e cibercultura- é a nova configuração das representações sociais com a cibercultura? Moscovici em algum momento do texto fez analogia a um homem sentado na frente da televisão, podemos fazer uma releitura e fazer uma nova analogia desse homem sentado em frente ao seu notebook ou usando o seu celular?

Voltando ao texto, que lugar teria essas representações em uma sociedade pensante? Para falar sobre esse tópico, Moscovici discute os conceitos das ciências sagradas e profanas que consequentemente vai resultar na discussão dos universos consensuais e universo reificados.

A princípio, segundo Moscovici, existe uma esfera sagrada – digna de respeito e veneração e mantida longe das atividades intencionais humanas e uma esfera profana que cabe executar atividades triviais e utilitaristas. Essas esferas pertenceriam a mundos separados e opostos que em diferentes graus, determinam, dentro de cada cultura e de cada indivíduo, as esferas de suas forças próprias e alheias.

Porém dentro de um contexto social o que nós podemos mudar e o que nos muda? Na articulação dessas verdades existem espaços entre o que pertence a nossa obra (opus proprium) e o que é obra alheia (opus alienum). Para Moscovici essa discussão foi abandonada e substituída, segundo o autor, por outra discussão mais básica: universos consensuais (sociedade é uma criação visível, contínua, permeada com sentido e finalidade, voz humana) e universos reificados (sociedade é vista como um sistema de diferentes papéis e classes, os membros são desiguais).

Existirão verdades que transitará entre o “nós” e o “eles”. No meu entendimento, um acontecimento é compreendido a partir de diferentes perspectivas, por exemplo, uma tempestade tem uma compreensão a partir de explicações fundamentadas cientificamente que um geógrafo fornece para um repórter de um telejornal (universo reificado), diferentes indivíduos vão se apropriar das informações a respeito do fato - tempestade – e significar e re-significar a medida que forem interagindo com diferentes grupos ( universo consensual). È assim que um objeto, a priori, não familiar vai se tornando familiar. Esse objeto pode ser um acontecimento, um fato, um assunto ou uma pessoa e o mecanismo é feito num processo dinâmico de significação e re-significação, a partir das interações do cotidiano com pessoas que pertencem a diferentes grupos.

Para desenvolver o tópico o familiar e o não familiar, o autor parte de dois pressupostos:

A) as representações sociais devem ser vistas como uma “atmosfera”, em relação ao indivíduo ou ao grupo

B) as representações são, sob certos aspectos, específicas de nossa sociedade
“...a finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não familiar, ou a própria não familiaridade.” (p.54)

Para complementar a idéia, apresenta três hipóteses:

1- desiderabilidade – pessoa ou grupo procura criar imagens, construir sentenças para revelar ou ocultar intenções; imagens e sentenças distorções subjetivas de uma realidade objetiva;

2-desequilíbrio- todas as ideologias, concepções de mundo como meio para solucionar tensões psíquicas ou emocionais, compensações imaginárias, que teriam finalidade de restaurar um grau de estabilidade interna;

3-Controle- os grupos criam representações para filtrar informação que provém do meio ambiente e dessa maneira controlam o comportamento individual
O familiar pode ser considerado algo compartilhado, comum a todos;

O não familiar para Moscovici significa a presença real de algo ausente, a “exatidão relativa” de um objeto; ato da re-apresentação meio de transferir o que perturba, o que ameaça um universo, do exterior para o interior, do longínquo para o próximo.

Agora que o autor apresentou sua argumentação no sentido de considerar as representações sociais não apenas como uma conceituação teórica, mas como um fenômeno, ele apresenta dois componentes geradores desse processo: ancoragem e objetivação. Inicia argumentando que os mundos reificados aumentam com a proliferação das ciências e muitas vezes o que já se acreditou ser verdade um dia, hoje pode não ser mais. Para Moscovici, a ancoragem – forma categorias, cristalizar novas idéias, classificar dar nomes a alguma coisa, por isso a teoria das representações sociais basicamente traz duas conseqüências:

1- exclui a idéia de pensamento ou percepção que não possua ancoragem
2- E o objetivo principal dessa “categorização” é facilitar a interpretação de características, compreensão de intenções e motivos subjacentes às ações de pessoas

Já a objetivação, resumidamente, une a idéia de não-familiaridade com realidade, torna-se verdadeira a essência da realidade – física e acessível – toda representação torna real – Lewin. A dinâmica: A imagem – a palavra – a representação como réplica da realidade.

Além desses aspectos teórico constituintes das representações como a busca da compreensão do mundo para organizar comportamento e atitudes, existe um outro fenômeno que segundo Moscovici também pertence a natureza humana é a busca do “porquê”, devido a necessidade de decodificar todos os signos que existem em nosso ambiente social... “não existe fumaça sem fogo”. Moscovici classificou como explicações bi-causais e mono-causais. Para ele, o pensamento é bi-causal e não mono-causal, ou seja, estabelece uma relação de causa e efeito e uma relação de fins e meios por isso existe uma causalidade primária (finalidade) e uma causalidade secundária (causa e efeito). Além disso, existe a causalidade social que está relacionada a teoria das atribuições e inferências que os indivíduos fazem e também da transição de uma para a outra, por exemplo, a reposta para pergunta: - Por que um determinado homem ou uma mulher não tem trabalho? Vai depender do ponto de vista de quem fala, isso porque envolve aspectos de atribuição de acordo com a perspectiva individual que cada um.

Desse modo, Moscovici encerra sua linha argumentativa para os aspectos teóricos sobre as representações sociais e inicia sua fala em relação aos aspectos metodológicos. O autor aponta a relevância desses pressupostos teóricos para pesquisa e apresenta um levantamento das primeiras pesquisas realizadas em representações sociais, afirma que seja qual for o objetivo específicos dessas pesquisas elas devem compartilhar de quatro princípios metodológicos, já que agrupa alguns temas metodológicos comuns e ligações com outras ciências sociais que para ele são:

A) Obter o material de amostras de conversações normalmente usadas na sociedade – levando em consideração que a conversação está no centro de universos consensuais
B) Considerar as representações sociais como meios de re-criar a realidade – o que cria é um referencial uma entidade ao qual se refere que é distinto de qualquer outra coisa e corresponde à representação de alguém sobre ela
C) Que o caráter das representações sociais é revelado especialmente em tempos de crise e insurreição – por conta do caráter de mudança no qual as pessoas ficam mais propensas a falar; os indivíduos são motivados por um desejo de entender um mundo cada vez não familiar e perturbado, as memórias coletivas são excitadas e o comportamento se torna mais espontâneo
D) Que as pessoas que elaboram tais representações sejam vistas como algo parecido a “professores” amadores e os grupos que formam como equivalentes modernos daquelas sociedades de professores amadores que existiam há mais ou menos um século
Moscovici conclui essa parte metodológica enfatizando os ganhos que o estudo do fenômeno das representações sociais trouxe: considerando que explica como uma teoria passa para outra de um nível cognitivo ao outro, tornando-se uma representação social sem desconsiderar fundamentos políticos e religiosos, além de especificar como uma representação molda a realidade criando novos tipos sociais.
Outro ponto também é o estudo do problema dos meios de comunicação de massa e seu papel no estabelecimento do senso comum, apresentando suas principais fases:

A) fase científica da sua elaboração – a partir de uma teoria, por uma disciplina científica (ex. biologia);
B) fase representativa em que ela se difunde dentro de uma sociedade e suas imagens conceitos e vocabulários são difundidos e adaptados;
C) fase ideológica em que a representação é apropriada por um partido, uma escola de pensamento ou um órgão do estado. Toda ideologia possui pelo menos dois elementos: um conteúdo (derivado da base) e uma forma (que provém de cima), dá acesso ao senso comum uma aura científica.

Moscovici faz uma releitura do behaviorismo colocando em face a psicologia social e a sua mais nova contribuição a teoria das representações sociais, que desse modo seriam variáveis independentes e dessa forma as representações determinam tanto o caráter do estímulo como a resposta que ele incita, propondo um novo modelo no qual as representações determinam tanto o caráter do estímulo, como a resposta que ele incita. Moscovici apresenta também algumas situações da teoria das representações sociais como fenômeno no laboratório, no meu entender, mais um aspecto para aproximar das ciências naturais, apesar de a princípio ter outra proposta mais ligada a observação.

Por fim, Moscovici encerra o texto considerando quatro principais implicações do estudo das representações: 1-os aspectos simbólicos presentes nas interações e o mundo dos universos consensuais em que nós habitamos; 2- o uso de métodos observacionais e 3-descritivos na medida em que se propõe a compreender as especificidades dos fenômenos, levando em consideração o contexto histórico – 4-tempo – em que o indivíduo está inserido e que vai influenciar em todo seu desenvolvimento desde a primeira infância.

Acredito que a teoria das representações sociais tenha bastante contribuição para a pesquisa e embasamento teórico de todos os colegas, considerando as quatro implicações apontadas por Moscovici no encerramento do texto e adequando para a realidade da mídia e cibercultura na atualidade, o que está em jogo diante desse novo contexto? De fato, os aspectos do conteúdo do texto foram apresentados de maneira bastante resumida, mas acredito que foram apresentados os pontos centrais do texto na resenha.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Modulo 3 - Referencial Teórico-Metodológico: Teoria Dramatúrgica

Um olhar sobre a sociabilidade no ciberespaço: aspectos sócio-comunicativos dos contatos interpessoais efetivados em uma plataforma interacional on-line
José Carlos Ribeiro

Gerenciamento de Aparências e de Informações

Controle da Apresentação
“Um dos aspectos mais interessantes no processo de criação de identidades virtuais na plataforma dos web-chats parece ser o controle da apresentação das características reveladas na estratégia de aproximação e de contato com outros usuários. Nesta conjuntura peculiar, a possibilidade de escolha dos atributos de personalidade e aparência que comporão o personagem permite um gerenciamento maior do que aquele normalmente exercido no mundo off-line”. (1)

Gerenciamento do Anonimato
Tendo sempre em mãos a possibilidade de “sair” e de “entrar” no ambiente interacional virtual com outro nickname a qualquer momento, o participante vivencia o privilégio de gerenciar, de forma mais efetiva, o grau de revelação e de permanência das informações referentes às características físicas e de personalidade da identidade construída para aquele ambiente. (1)

“Temos de conviver com aquela aparência que temos” (REID, 1995).
Graus de Distanciamento da Representação
Representação Transparente
Representação Translúcida
Representação Opaca

Goffman (1996), em sua análise sobre os processos interacionais FTF, afirma que ao se efetuar o controle do que é percebido e mostrado aos interlocutores por ocasião dos encontros sociais, o indivíduo necessariamente promove e vivencia uma regulação nos contatos efetivados. (3)

Articulando esta premissa com a realidade verificada no ambiente on-line dos web-chats, percebemos claramente uma ampliação do mecanismo de controle apontado pelo autor, haja vista a presença de uma maior facilidade nos procedimentos de permuta e de gerenciamento das características representacionais. (3)

As Imagens Idealizadas
A facilidade de propagar atributos físico-corporais que não contenham obrigatoriamente correspondência na realidade no mundo off-line, bem como a de exercitar de uma “forma melhorada” os aspectos da própria personalidade que não tenham espaços de expressão na dinâmica das interações FTF, por pressões sociais ou por falta de oportunidades adequadas, parecem ser possíveis razões que levam o usuário a criar uma imagem idealizada de si. (4)
Interessante notar que, efetuando um breve passeio nos ambientes interacionais on-line dos web-chats, qualquer usuário (experiente ou novato) pode constatar que as descrições pessoais geralmente revelam uma imagem estereotipada de perfeição (seja ela feita de maneira intencional ou não) (4)

Em nossa cultura, essa composição de procedimentos parece estar relacionada ao desejo e à necessidade de aceitação social do personagem virtual por parte do interlocutor. (5)


A prática de construção de imagens idealizadas nas plataformas interacionais on-line pode ser vista, através de um ângulo de percepção mais abrangente, como um possível vetor de agregação de pessoas que circulam neste espaço, uma vez que as aparências produzidas serviriam como referenciais conhecidos

“Em outras palavras, a figura, o ideal e a imagem idealizados favorecem o contexto, integram o indivíduo num sistema de comunicação e de inter-relações que é causa e efeito de toda sociedade”. (MAFFESOLI, 1996)

De certa forma, esses modelos sugerem o trânsito de tipos ideais, matrizes que se aceitam e se reconhecem como pertencentes a um grupo seleto de personagens desejáveis. O que, por sua vez, pode derivar em uma situação de efeito peculiar: a possibilidade da identidade on-line – arquitetada para interagir no ambiente virtual – ter uma aceitação social mais receptiva, devido à série de atributos construídos de acordo com os padrões valorizados socialmente, do que a identidade vivenciada no mundo off-line. E aí, em situações mais extremas, a questão pode vir a se tornar problemática para o usuário, pois poderá afetar direta ou indiretamente alguns aspectos de sua personalidade, ou mesmo desencadear uma série de distúrbios psicológicos (fragilização da auto-estima, dissociação de personalidade etc.).

Preenchimento dos Vazios Informacionais

Devido à falta de pistas mais precisas, comumente obtidas através de informações não-verbais presentes nas interações FTF, os usuários deste mundo on-line procuram “preencher esses vazios informacionais” através de um complexo mecanismo de associação das informações e dados efetivamente passados (de forma implícita ou explícita) com as próprias necessidades psicológicas de contatos com pessoas que possuam estas ou aquelas características específicas.

MacKinnon (1995) aponta em seus comentários que o tipo de linguagem adotado na escrita das informações ajuda na formatação do personagem interlocutor, uma vez que pode revelar aspectos denotativos da possibilidade de vinculação dele com algum grupo social conhecido no mundo off-line.

Diante do conjunto de circunstâncias exposto até então, podemos suspeitar que o interlocutor teria, através da ótica do usuário, um papel coadjuvante no processo, um papel de pouca relevância ou mesmo passivo, uma vez que estaria apenas ajudando na construção das fantasias particulares de cada usuário. Entretanto, considerando que o interlocutor também possui as mesmas possibilidades e encontra-se em iguais circunstâncias, podemos pensar que há, em certa medida, a presença de uma troca de incentivos informacionais mais equilibrada.

As Regiões Representacionais

Percebemos que tais manifestações de expressividade transmitidas (ou dadas) se revelam através da descrição pessoal efetuada de forma escrita e intencional pelo usuário (sexo, idade, características raciais, altura, aparência etc.); enquanto que as demonstrações de expressividade emitidas (ou não dadas de forma intencional) são disponibilizadas através de características mais sutis e contextuais (o estilo e a estrutura da narrativa, o vocabulário empregado etc.).

(regiões) Uma vez que não estando fisicamente presente para o outro, o usuário pode, sem comprometer a impressão (transmitida e emitida) propiciada pela vivência do papel representado (na região de fachada), efetivar alguns comportamentos não-verbais que possivelmente seriam considerados pelos interlocutores como sendo incompatíveis com os esperados para aquela situação social específica.

Assim como acontece na “região de fundo”, a “região do mundo off-line” também pode ser identificada como sendo o local onde o sujeito prepara o seu personagem, efetuando as adaptações necessárias ao papel e à “fachada pessoal” que deseja exercitar no espaço interativo situado na “região do mundo on-line”, ou fazendo-se uso da analogia, na “região de fachada”.

Existe um espaço público comum, “de fachada”, onde os usuários apresentam aos demais participantes as características construídas para aquela situação contextual específica. Havendo uma migração da troca interacional travada entre dois interlocutores para um espaço privado (por exemplo, entre “A” e “B”, conforme ilustrado na figura 21), eles passam a vivenciar uma dupla localização, estando situados, por um lado, em uma “região de fundo” em relação à presença dos demais participantes e, por outro, em uma “região de fachada” em relação à situação contextual externa.

No caso do ambiente da plataforma interacional on-line dos web-chats, a preocupação indicada pelo autor, sobre os possíveis sentimentos advindos da punição social, parece se apresentar de forma mais amena, haja vista a ausência de dificuldades em “entrar” novamente no cenário contextual, após uma eventual troca de nickname, sem que os demais participantes tenham a possibilidade de efetuar previamente uma relação entre este “novo” usuário e o “antigo” que porventura tenha sido descoberto ou surpreendido em um papel falseado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Módulo 4 - Referencial teórico-metodológico: Teoria das representações sociais

Representações Sociais: O conceito e o estado atual da teoria
Celso Pereira de Sá


Nesse artigo, Celso Pereira busca dar uma apanhado geral de como se encontra a pesquisa atual nas Representações Sociais. Segundo o autor, o termo designa tato um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria construída para explicá-los; seria, para ele, uma psicossociologia do conhecimento, na qual Moscovici (1976) queria “redefinir os problemas e os conceitos da psicologia social a partir desse fenômeno. Daí residiria a importância da teoria aqui tratada, por conseguir considerar tanto os comportamentos individuais quanto os fatos sociais – sendo os contextos sociais influenciando os comportamentos, estados e processos individuais.

Segundo o autor, Moscovici se opôs a uma perspectiva individualista da psicologia ao buscar uma contrapartida conceitual nas representações coletivas, propostas por Durkheim. Nesta, as representações que a sociedade exprime são fatos sociais, coisas, reais por elas mesmas; são o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo.

Para Moscovici, as representações sociais deveriam ser reduzidas a uma modalidade específica de conhecimento que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos na vida cotidiana – diferenciando-se assim do conceito proposto por Durkheim devido à “plasticidade, mobilidade e circulação das representações contemporâneas emergentes” (p. 23). Caberia ao novo conceito penetrar nas representações para descobrir a sua estrutura e seus mecanismos internos.

Partindo desse pressuposto, o conhecimento mobilizado na comunicação informal, na vida cotidiana, é analisado sobre os seguintes assuntos e objetos sociais: as disciplinas acadêmicas; a saúde e a doença; as questões ecológicas; a política e a economia; as cidades e suas características; as “classes” de pessoas; a tecnologia e o domínio da natureza; e as desigualdades sociais e educacionais. Seriam estes assuntos que, nas relações interpessoais diárias, demonstram atenção, interesse e curiosidade das pessoas, “demandam sua compreensão e forçam seus pronunciamentos” (p. 25).

Tais representações fazem uma articulação ou combinação de diferentes questões ou objetos – na qual interagem informações e julgamentos valorativos colhidos nas mais variadas fontes e experiências pessoais e grupais. Por isso, esses conjuntos de conceitos, afirmações e explicações que são as representações sociais são consideradas teorias do senso comum, constituídas em um ambiente onde se desenvolve a vida cotidiana. Por isso, são questões com relevância imediata para os indivíduos.

Daí os grupos ou segmentos socioculturais podem variar quanto ao grau de consistência da informação sobre um determinado assunto, quanto a estrutura de observação, unidade e hierarquização desse conhecimento em um campo de representação, quanto à atitude ou orientação global em relação ao objeto representado. Tudo isso se dá em um processo cognitivo social – fruto de uma sociedade pensante, diz Moscovici, em que indivíduos, mediante episódios cotidianos de interação social, “produzem e comunicam incessantamente suas próprias representações e soluções específicas para as questões que se colocam a si mesmos” (1998, p. 16).

Moscovici considera duas classes distintas de universos de pensamento: os universos consensuais, as atividades intelectuais de interação social cotidiana pelas quais são produzidas as Representações Sociais, em que cada indivíduo é livre para se comportar como um amador ou observador curioso; e os universos reificados – onde se produzem e circulam as ciências e o pensamento erudito em geral, com seu rigor lógico, metodologia, teorização, em que o grau de participação é determinado pelo nível de qualificação.

Nesse processo de transferência e transformação de conhecimentos, é importante o papel desempenhado pelos divulgadores científicos de todos os tipos: jornalistas, cientistas, professores, animadores culturais, marqueteiros e pela crescente ampliação e sofisticação dos meios de comunicação. A representação destes, segundo Herzlich (1977, p. 307), estará a desempenhar um papel “na formação das comunicações e condutas sociais”. Portanto, Celso Pereira utiliza da definição de Jodelet (1989, p. 36) sobre as Representações Sociais “Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e que concorre para a construção de uma realidade comum a um coletivo”.

Para realizar uma representação, será necessário reconstituir, retocar e modificar o texto de um dado objeto. E a estrutura de cada representação tem duas faces dissociáveis: a figurativa e a simbólica, entendendo, segundo Moscovici, fazer compreender em toda figura um sentido e em todo sentido uma figura. Celso Pereira diz que foi partindo dessa estruturação que Moscovici caracterizou processos formadores de representações; como objetivar, dar materialidade a um objeto abstrato; e ancorar, fornecer um contexto inteligível ao objeto, classificando-o e denominando-o. Essa classificação se dá mediante a escolha de um dos paradigmas ou protótipos estocados na memória, com o qual compara-se o objeto a ser representado e decide-se se o mesmo pode ou não ser incluído na classe em questão. Na denominação, tira-se de um anonimato para dotar o objeto de uma genealogia e incluí-lo num complexo de palavras específicas, a fim de localizá-lo.

Esse processo de objetivação, ainda, é classificado por Jodelet (1984) em três fases: seleção e descontextualização de elementos da teoria; formação de um núcleo figurativo, a partir de elementos selecionados; e a naturalização dos elementos do referido núcleo, cujas figuras, elementos do pensamento, tornam-se elementos da realidade referentes para o conceito.

Outra proposição teórica é a transformação do não familiar em familiar, pois “a dinâmica dos relacionamentos é uma dinâmica de familiarização, onde objetos, indivíduos e eventos são percebidos e compreendidos em relação a encontros ou paradigmas prévios” (MOSCOVICI, 1984, p. 24). O fato disto ocorrer sob o peso da tradição, da memória, do passado, não significa que não se esteja criando e acrescentando novos elementos à realidade consensual. Ainda assim, o estranho atrai, intriga, e perturba as pessoas e as comunidades, provocando nelas o medo da perda dos referenciais habituais, do sendo da continuidade e de compreensão mútua. Tornando-se familiar, diz Celso Pereira, o estranho “é tornado ao mesmo tempo menos extraordinário e mais interessante”.

Todos esses processos apresentados ocorrem cotidianamente, porque “desde que nós pressupomos que as palavras não falam sobre nada, somos compelidos a ligá-las a alguma coisa, a encontrar equivalentes não-verbais” (MOSCOVICI, 1984, p. 38).

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Representações Sociais: Um domínio em expansão
Denise Jodelet


Nesse artigo, a autora introduz a teoria das Representações Sociais no livro em que organiza. Coube a ela sistematizar o desenvolvimento da pesquisa nesse campo e identificar os pressupostos teóricos utilizados pela pesquisa. Trata-se de um domínio de pesquisa dotado de instrumentos conceituais e metodológicos próprios, que interessa a várias disciplinas.

Segundo Jodelet, a necessidade de estarmos informados com o mundo à nossa volta faz com que precisemos saber como nos comportar, dominá-lo física e intelectualmente, identificar e resolver os problemas que se apresentam – por isso, são criadas as representações. Ao partilhar o mundo com os outros, as representações servem de apoio para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo. A observação dessas representações sociais ocorre naturalmente em múltiplas ocasiões: nos discursos, nas palavras veiculadas em mensagens e imagens da mídia, em condutas e em organizações.

Um exemplo que trata, de início, são as representações sociais feitas, na década de 1980, sobre a AIDS, em que, pela falta de informação clara sobre a doença, pessoas elaboraram teorias apoiadas nos dados de que dispunham, relativos aos portadores e aos vetores do mal. Apoiados em valores variáveis, duas concepções surgiram, segundo os grupos sociais de onde tiram suas significações: uma de tipo moral e social – a AIDS como uma doença-punição que se abate sobre a licença sexual, causando com isso um estigma social que provocou ostracismo e rejeição – e outra de tipo biológico – o contágio poderia ocorrer também por meio de outros líquidos corporais além do esperma, particularmente a saliva e o suor. Jodelet comenta que “elaboradas com o que se apresenta, estas representações se inscrevem nos quadros de pensamento preexistentes e enveredam por uma moral social – faça-se ou não amalgama entre perigos físico e moral” (p. 20).

São diversos elementos que contribuem para a análise: informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens etc., sendo organizados sob a aparência de um saber que diz algo sobre o estado da realidade.

Moscovici foi quem primeiro formulou a teoria, sendo uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social; trata-se de uma forma diferenciada do conhecimento científico – sem por isso ser menos importante para a elucidação dos processos cognitivos e das interações sociais.

Representar ou se representar seria um ato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto. Intervém em processos variados, tais como a difusão e a assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais.

Ao observar o campo de pesquisa das representações, são percebidas três particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade. A primeira pode ser explicada pela sucessão de obstáculos de tipo epistemológico que impediram o desdobramento da noção. Na segunda, percebe-se o florescimento da pesquisa situada na interface do psicológico e do social, sendo interessante para todas as ciências humanas – encontrada especificamente na sociologia, nas diferentes linhas da psicologia, na antropologia, na reflexão dos teóricos da linguagem e na história; o que confere ao tratamento psicossociológico da representação um estatuto transverso, interpelando e articulando diversos campos da pesquisa. Por fim, percebe-se a complexidade ao estudar as representações sociais articulando-se elementos afetivos, mentais e sociais e integrando a consideração de relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideativa sobre a qual eles têm de intervir.

Essa multiplicidade de perspectivas forma territórios autônomos, em função da ênfase dada a aspectos específicos dos fenômenos representativos – resultando assim em um espaço de estudo, segundo Jodelet, multidimensional. A autora, em seguida, relaciona o esquema de base que caracteriza toda a representação como forma de saber ligando um sujeito a um objeto. É este: (1) a representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito); (2) tem com seu objeto uma relação de simbolização (substituindo-o) e de interpretação (conferindo-lhe significações); (3) todo estudo de representação passará por uma análise das características ligadas ao fato de que ela é uma forma de conhecimento; (4) e qualificar esse saber prático se refere à experiência a partir da qual ele é produzido, aos contextos e condições em que ele o é e ao fato de que a representação serve para agir sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e eficácias sociais.

Daí, três ordens de problemáticas são apresentadas: condições de produção e de circulação; processos e estados; estatuto epistemológico das representações sociais. Assim, de acordo com Jodelet, se chega a um postulado fundamental no estudo das representações sociais: “o da inter-relação, da correspondência, entre as formas de organização e comunicação sociais e as modalidades do pensamento social, considerando sob o ângulo de suas categorias, de suas operações e de sua lógica.

Nessa formulação das representações sociais, a comunicação social tem um importante papel nas trocas e interações que concorrem para a criação de um universo consensual. Serve, de acordo com Jodelet, de válvula para liberar os sentimentos suscitados por situações coletivas ansiógenas ou mal toleradas. As pesquisas que abordam as representações como formas de expressão cultural remetem aos processos de difusão, quer se trate de códigos sociais, que servem para interpretar as experiências dos indivíduos em sociedade, quer se trate de valores e modelos que servem para definir um estatuto social.

Essa incidência da comunicação é examinada por Moscovici em três níveis: (1) ao nível da emergência das representações cujas condições afetam os aspectos cognitivos; (2) ao nível dos processos de formação das representações, a objetivação e a ancoragem que explicam a interdependência entre a atividade cognitiva e suas condições sociais no exercício, nos planos da organização dos conteúdos, das significações e da utilidade que lhe são conferidas; (3) ao nível das dimensões das representações relacionadas à edificação da conduta – opinião, atitude e estereótipo – sobre os quais intervêm os sistemas de comunicação midiáticos.

Partindo desse pressuposto, a comunicação realizada é decorrente à dimensão extensiva no seio de um grupo ou sociedade que realiza partilhas sociais. Como diz Veyne, as conotações sociais do conhecimento não se prendem tanto à sua distribuição entre vários indivíduos, e sim à questão de que “o pensamento de cada um deles é, de diversas maneiras, marcado pelo fato de os outros pensarem da mesma forma sobre algo” (1974, p. 74). A partilha social se refere a um mecanismo de determinações ligadas à estrutura e às relações sociais, em que os indivíduos se aderem a formas de pensamento de determinada classe, do meio ou do grupo a que se pertence, por causa da solidariedade e da afiliação sociais. Diz Jodelet: “Partilhar uma idéia ou uma linguagem é também afirmar um vínculo social e uma identidade” (p. 34).

Compreende-se que a representação preencha certas funções na manutenção da identidade social e do equilíbrio sociocognitivo a ela ligados. Quando a novidade é inevitável, à ação de evitá-la segue-se um trabalho de ancoragem, com o objetivo de torná-la familiar e transformá-la para integrá-la no universo do pensamento preexistente; trata-se de um trabalho essencial da representação e capaz de se referir a todo elemento estranho ou desconhecido no ambiente social ou ideal.

São três tipos de efeito ao nível dos conteúdos representativos: distorções, suplementações e subtrações. No primeiro caso, todos os atributos do objeto estão presentes, porém acentuados ou atenuados, de modo específico. A suplementação consiste em conferir atributos e conotações que não lhe são próprias ao objeto representado; resulta de um acréscimo de significações devido ao investimento do sujeito naquilo e a seu imaginário. A subtração corresponde à supressão de atributos do objeto; resulta do efeito repressivo das normas sociais.

O estudo das representações é feito através de suportes como linguagem, discurso, documentos, eventos intra-individuais. Essa abordagem social das representações trata de uma maneira diretamente observável. Nesse modo de apreender o conteúdo das representações, duas orientações destacam-se: no primeiro, os constituintes das representações – informações, imagens, crenças, valores, opiniões etc.; no segundo caso, são abordados, do ponto de vista semântico, conjunto de significações identificados com a ajuda de diferentes métodos de associação de palavras.

Esses estudos se reportam aos processos que presidem a gênese das representações. Para tanto, a objetivação e a ancoragem são métodos utilizados para a análise do conteúdo empírico.

Por fim, a autora conclui dizendo o atual estado da pesquisa. Segundo ela, vem ampliando há vinte anos, com um multiplicação dos objetos de representação tomados como temas de pesquisa; abordagens metodológicas que se vão diversificando e fazem um recorte de setores de estudo específicos; problemáticas que visam a delimitar melhor certos aspectos dos fenômenos representativos; a emergência de teorias parciais que explicam estados e processos definidos; paradigmas que se propõem a elucidas, sob certos ângulos, a dinâmica representacional.

sábado, 23 de maio de 2009

Módulo 3 - Teoria dramatúrgica (Referecial teórico - Texto 2)

LIFE AS THEATER - 22 de maio
(Dennis Brisset e Charles Edgley)


O Princípio Dramatúrgico


A definição mais objetiva de Dramaturgia é “o estudo de como os seres humanos constroem significados em suas vidas”. Seu foco está em “conectar a ação ao seu sentido, e não o comportamento aos seus determinantes”. O significado, no sentido dramatúrgico, emerge de um consenso comportamental entre os seres humanos. É uma conseqüência (não um antecedente) de pelo menos duas pessoas comportando-se da mesma maneira, ou de maneira similar. O significado tem dois elementos básicos: por um lado, é um resultado comportamental da atividade humana (o resultado do que as pessoas fazem); por outro lado, é a característica principal do que tem sido chamado de “ato social”.

O interesse da Dramaturgia é com os atos sociais e os significados emergentes. O que é crucial para a visão dramatúrgica da vida social é que o significado não é um legado de arranjos culturais, de socialização ou institucionais, nem a realização de potenciais psicológicos ou biológicos. O significado é uma contínua e problemática construção da interação humana, que é repleta de mudanças, novidades e ambigüidades. (Pg. 02)

A Dramaturgia enfatiza a dimensão expressiva / impressiva da atividade humana. O Princípio fundamental da Dramaturgia é o de que os significados das ações das pessoas devem ser encontrados na maneira como elas se expressam nas interações com outros que também se expressam. (...) De fato, as situações não se definem por si, elas precisam ser construídas por comunicação simbólica. Portanto, a vida social deve ser expressiva.

A ubiqüidade desta expressividade reforça a visão de que o comportamento humano é dramático. O que é marcante no ser humano é a sua capacidade de engajar-se em atividades expressivas. Os humanos e suas ações não são vistos como o produto de forças (sejam sociais, culturais, psicológicas ou espirituais); os humanos, pelas suas expressividades, podem negociar seus sentidos nas situações com outros, que também possuem a mesma habilidade. (Pg. 03)

A Consciência Dramatúrgica

O Princípio dramatúrgico é uma coisa, a consciência deste Princípio por um determinado indivíduo é outra coisa. Certamente, com o decorrer dos eventos ordinários da vida cotidiana, os seres humanos podem tornar-se não apenas expressivos, mas conscientes desta expressividade. A consciência deste Princípio pode ser usada para organizar as experiências do indivíduo, comunicar-se de maneira mais efetiva com as outras pessoas, manipular ou enganar os outros, ou ainda para uma apresentação mais favorável. (Pg. 05)

A consciência dramatúrgica é variável. (...) Algumas vezes as pessoas preocupam-se bastante com o que os outros pensam, e às vezes não dão a mínima importância a isto. Por alguma razão, alguns dos outros são mais importantes para o ator. Ao mesmo tempo, algumas audiências são bastante receptivas, outras são mais críticas e desafiadoras. Parece que o nível de consciência por parte do ator, de si mesmo e de suas ações, é estabelecido em grande medida pelo grau de envolvimento com a audiência, e também pelo grau de receptividade desta audiência. (Pg. 06)

A relação entre o Princípio dramatúrgico e a consciência dramatúrgica

Quando se considera a questão da consciência na Dramaturgia, para muitos autores, a imagem dramatúrgica do homem é de alguém que está constantemente empregando esta consciência para influenciar as impressões que os outros podem ter. (Pg. 06)

Entretanto, se por um lado, algumas pessoas, em alguns momentos, tentam manipular as impressões dos outros, isto não é necessariamente uma conseqüência da consciência dramatúrgica. Este controle que o individuo tenta exercer sobre os outros pode ser negociável e até conciliatório. Nem todas as apresentações são forjadas, e as pessoas podem estar mais interessadas em revelar do que em esconder. Jogos de trapaças, cinismo e deslealdade são todos elementos dramatúrgicos, certamente, mas amor, verdade, sinceridade e autenticidade também são. (Pg. 07)

O problema básico da Psicologia Social e a resolução dramatúrgica

O problema básico da psicologia social, a tensão entre o eu e a sociedade, foi sempre levado em consideração na relação entre os aspectos individualizantes e os aspectos socializantes da natureza humana. A psicologia social dramatúrgica, com a sua ênfase na dimensão impressiva / expressiva do comportamento humano, parece ser a perspectiva que evita de maneira mais consistente as implicações polarizadas, e que melhor incorpora tantos os aspectos individuais quanto os sociais na sua versão do comportamento humano. (Pg. 10)

A visão dramatúrgica coloca simplesmente que a vida humana é simultaneamente individualizante e socializante, na medida em que as pessoas e as realidades que elas constroem têm conseqüências expressivas. Ser uma criatura individual ou social não é uma escolha que nós temos. Para ter uma identidade, precisamos nos unir a uns e nos separarmos de outros, entrar e sair de relações sociais, ao mesmo tempo. (Pg. 10)

O Drama do Self

O diferencial da perspectiva dramatúrgica emerge na análise da individualidade humana. A Dramaturgia foca no sentido de individualidade que as pessoas adquirem pela interação com os outros, trata-se de um fenômeno compartilhado e interativo. Esta é uma ruptura radical com a maioria das visões do Self. Tem sido tradicional na literatura da psicologia social empregar dois conceitos na discussão da natureza da individualidade: personalidade e Self. A Dramaturgia prefere o conceito de Self.

Tende-se a acreditar que a personalidade de um indivíduo é soma de todas as suas experiências e de tudo aquilo que ele pode chamar de seu. Nesta visão, a personalidade de um indivíduo seria uma propriedade que é carregada de situação em situação, uma entidade psicológica que independe da interação com os outros. A concepção dramatúrgica é diferente, e vê a individualidade como um fenômeno social e não psicológico. (Pg. 14)

A Dramaturgia insiste que “sem a apresentação do Eu, um Eu não é possível”. Isso significa que a individualidade é um fenômeno interativo compartilhado, que emerge somente no contato com os outros. Assim, o Self de um indivíduo emerge, é mantido e é perdido somente por um processo de validação consensual. O Self tem um caráter social, e não é uma propriedade pessoal, é concedido pelas pessoas com quem o individuo deseja compartilhar. (Pg. 15)

A natureza performática e mutante do Self

Sempre que o ser humano interage, Self’s são criados e compartilhados. Como outros significados, eles surgem, são sustentados por um período, e depois podem tornar-se irrelevantes diante de novas possibilidades. Dada a dimensão expressiva dos humanos, os Selfs não podem ser simplesmente descolados da interação. O Self emerge no decorrer da performance com outros. Significado é gerado, quer o ator queira, quer não. Além disso, na medida em que a pessoa adquire um Self no processo de atuação nos vários dramas da vida, com outros que estão fazendo a mesma coisa, este Self muda com o tempo. (Pg. 18)

De fato, nenhuma performance, independentemente do quão eficiente ela seja, dura pra sempre. E mesmo que o indivíduo tente fazer a performance durar para sempre, a visão da audiência muda, e assim muda também o sentido da performance. O Self é um objeto que precisa de outros objetos para vir a ser. Se os objetos mudam, muda também o Self. Ter mais de um Self é uma necessidade performática. Por outro lado, na maioria das situações, para além da mudança, um sentido de continuidade deve ser estabelecido. (Pg. 18)

Críticas à Dramaturgia

Dramaturgia como uma forma de investigação não-sistemática e frágil

A primeira critica é a de que a Dramaturgia não é uma teoria adequada do comportamento humano. Pois ela não possui as propriedades da teoria formal. Não está ligada a outras teorias, não produz hipóteses testáveis. Em suma, não é uma teoria. (Pg. 23)

Entretanto, a Dramaturgia é o estudo de ordem interacional, e a interação interpessoal não é apenas mais uma especialidade, é todo o material empírico real que existe para a sociologia. Ao invés de ser antagônica à psicologia e à sociologia, a Dramaturgia é o estudo de como a psicologia de um indivíduo é realizada, e de como a sociedade e a cultura de um indivíduo são vividas. Se há um problema com o modo de pensar dramatúrgico, ele pode estar na tolerância para virtualmente qualquer persuasão teórica ou material empírico. (Pg. 24)

Outra crítica constante à Dramaturgia é a de que ela não produz afirmações universais sobre o comportamento humano. Os críticos apontam para um viés cultural ou até situacional do pensamento dramatúrgico, que serviria para o comportamento verificado na cultura ocidental. Assim, a generalização da teoria seria possível apenas para certos contextos, e não aplicável a outras culturas, tempos ou lugares. (Pg. 24)

Entretanto, não é verdadeiro que a Dramaturgia está vinculada a uma cultura específica. O Princípio dramatúrgico de que as ações das pessoas são expressivas parece estar amplamente documentado na literatura antropológica. (Pg. 25)

Há ainda críticas à metodologia dramatúrgica. (Pg. 25)

Trivialização de arranjos estruturais, organizacionais e institucionais

A Dramaturgia tem sido acusada de subestimar o impacto de unidades sociais maiores, como as instituições, sobre o comportamento humano.

Mas, na verdade, a Dramaturgia reconhece que a estrutura social proporciona o contexto e as oportunidades para a interação entre pessoas. (...) Entretanto, ao invés de duelar com estas limitações estruturais, a Dramaturgia foca no que as pessoas fazem nos contextos que estão disponíveis para elas. Não foca nos porquês das existências destes contextos, mas nas possibilidades interacionais que surgem nestes contextos. É nas ações das pessoas que as características estruturais da vida social emergem, tornam-se reconhecidas e são utilizadas. (Pg. 27)

A vida não é realmente um teatro

A crítica predominante à Dramaturgia resulta de uma confusão com a própria metáfora teatral. Muitos críticos entendem a metáfora literalmente e depois a invalidam, insistindo que a vida cotidiana é diferente de um teatro, e portanto o imaginário e a linguagem teatrais não podem descrever adequadamente ou explicar o comportamento humano.

Apesar de haver claras diferenças entre o dia a dia e o mundo dos palcos, a própria consciência dos atores do palco não é necessariamente diferente da consciência de alguns atores do cotidiano. Assim como o palco é uma delimitação de tempo e de personagem, muitos episódios rotineiros também são. São os rituais dramáticos e expressivos da vida, sejam eles teatrais ou não, que constituem o foco da Dramaturgia. A vida não é nem igual ao teatro, nem diferente do teatro, é parecida com o teatro. A Dramaturgia é a descrição do comportamento de seres humanos que usam meios teatrais para construir um mundo, o qual, em muitos aspectos, é levado tão a sério, que jamais seria comparado a um “teatro”. (Pg. 31)

O Legado de Goffman

A aparência é real.

Nós podemos aprender muito sobre um livro, pela sua capa. Fazemos isto todos os dias. A aparência nunca é destruída pela realidade, apenas substituída por outras aparências. Como foi colocado por Mead, “a vida social é vivida majoritariamente na imaginação”. Goffman reforça que “as imaginações que as pessoas têm umas sobre as outras são os sólidos fatos da sociedade”. O argumento de Goffman dissolve a própria distinção entre a mera aparência e a realidade fundamental na vida social. Para o autor, a vida consiste em vários níveis de compreensão e consciência, e não em camadas que escondem uma essência fundamental, que deve ser revelada por um trabalho científico. (Pg. 37)

domingo, 17 de maio de 2009

Módulo 3 - Teoria dramatúrgica (Referecial teórico)

A representação do eu na vida cotidiana - Erving Goffman
The Presentation of Self in Everyday Life, publicação de 1959 e considerada a obra clássica de Goffman, o autor propõem, em linhas gerais, que os indivíduos desenvolvem uma vida próximo aos dramas encenados em um palco de teatro. Assim, a vida social pode ser entendida como um conjunto de representações em que os indivíduos em contato (face a face) constroem os sentidos de sua existência diariamente e constantemente. The Presentation of Self in Everyday Life surgiu primeiramente como uma versão de sua dissertação, que seria um estudo de campo em uma comunidade das Ilhas Shetland, um pequeno assentamento rural na costa escocesa.
A vida, para Goffman, consiste de vários níveis de compreensão e consciência. Desta forma, O teatro de performances não está na cabeça das pessoas, está em seus atos públicos. Para entender a obra de Goffman alguns conceitos são fundamentais, a saber:
Estereotipia e Cenário:

“Se o indivíduo lhes for desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e aparência, indicações que lhes permitam utilizar a experiência anterior que tenham tido com indivíduos aproximadamente parecidos com este que está diante deles ou, o que é mais importante, aplicar-lhes estereótipos não comprovados.”
Comunicação verbal e não verbal:

“A primeira abrange os símbolos verbais, ou seus substitutos, que ele usa propositadamente e tão só para veicular a informação que ele e os outros sabem estar ligada a esses símbolos. Esta é a comunicação no sentido tradicional e estrito. A segunda inclui uma ampla gama de ações, que os outros podem considerar sintomáticas do ator, deduzindo-se que a ação foi levada a efeito por outras razões diferentes da informação assim transmitida.”
Atuação:

“Assim, quando uma pessoa chega à presença de outra, existe, em geral, alguma razão que a leva a atuar de forma a transmitir a elas a impressão que lhe interessa transmitir. Às vezes, agirá de maneira completamente calculada, expressando-se de determinada forma somente para dar aos outros o tipo de impressão que irá provavelmente levá-lo a uma resposta específica que lhe interessa obter.”

“Outras vezes, o indivíduo estará agindo calculadamente, mas terá, em termos relativos, pouca consciência de estar procedendo assim.”

“Ocasionalmente, expressar-se-á intencionalmente e conscientemente de determinada forma, mas, principalmente, porque a tradição de seu grupo ou posição social requer este tipo de expressão, e não por causa de qualquer resposta particular.”
Papel social:

“...podemos dizer que um papel social envolverá um ou mais movimentos, e que cada um destes pode ser representado pelo ator numa série de oportunidades para o mesmo tipo de público ou para um público formado pelas mesmas pessoas.”
Sociedade:

“A sociedade está organizada tendo por base o princípio de que qualquer individuo que possua certas características sociais tem o direito moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem de maneira adequada.”“Conseqüentemente, quando um indivíduo projeta uma definição da situação e com isso pretende, implícita ou explicitamente, ser uma pessoa de determinado tipo, automaticamente exerce uma exigência moral sobre os outros, obrigando-os a valorizá-lo e a tratá-lo de acordo com o que as pessoas de seu tipo têm o direito de esperar.”
A interação face a face:

“...a interação pode ser definida, em linhas gerais, como a influência recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos outros, quando em presença física imediata.”
“Uma interação pode ser definida como toda interação que ocorre em qualquer ocasião, quando, num conjunto de indivíduos, uns se encontram na presença imediata de outros.”
Fachada:

“Será conveniente denominar de fachada à parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de definir a situação para os que observam a representação.”

“Fachada, portando, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconsciente empregado pelo indivíduo durante sua representação.”
Cenário:

“O cenário tende a permanecer na mesma posição, geograficamente falando, de modo que aqueles que usem determinado cenário como parte de sua representação não possam começar a atuação até que se tenham colocado no lugar adequado e devam terminar a representação ao deixá-lo.”

“Somente em circunstâncias excepcionais o cenário acompanha os atores. Vemos isto num enterro, numa parada cívica e nos cortejos irreais com que se fazem reis e rainhas.”
Idealização:“A noção de que uma representação apresenta uma concepção idealizada da situação é, sem dúvida, muito comum.”

“Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo.”
Platéia:

“Graças à segregação do auditório o indivíduo garante que aqueles diante dos quais desempenha um de seus papeis não serão as mesmas pessoas para as quais representará um outro papel num ambiente diferente.”

“...os atores tendem a alimentar a impressão de que o atual desempenho de sua rotina e seu relacionamento com a platéia habitual têm um caráter especial e único. A natureza rotineira da representação é escondida (o próprio ator não percebe até que ponto sua representação é realmente rotineira) e os aspectos espontâneos da situação são reforçados.”
Conclusão:

“”Quando o indivíduo passa a uma nova posição na sociedade e consegue um novo papel a desempenhar, provavelmente não será informado, com todos os detalhes, sobre o modo como deverá se conduzir, nem os fatos de nova situação o pressionarão suficientemente desde o início para determinar-lhe a conduta, sem que tenha posteriormente de refletir sobre ela.”

“Comumente, receberá apenas algumas deixas, insinuações e instruções cênicas, pois se pressupõe que tenha em seu repertório uma grande quantidade de pontas de representação que serão exigidas no ambiente.”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Interação social e novas mídias: elementos para uma análise da interação mediada

Por Hermílio Santos 



Considerações Iniciais

           A Exposição Mundial 2000 (Expo 2000) em Hannover, Alemanha, teve como tema “Seres humanos, natureza e tecnologia”. Os pavilhões temáticos e dos países foram organizados com o objetivo de explorar o tema, tentando apresentar o estado da arte, bem como identificar algumas características futuras da vida humana.

Pelo menos dois aspectos comuns puderam ser identificados na maioria dos pavilhões: a estrutura dos pavilhões e, relacionado a isso, a maneira como as mensagens eram transmitidas.

Com pouquíssimas exceções, a maioria dos pavilhões estava estruturada de forma a que os visitantes não pudessem escolher qual caminho eles gostariam de seguir: uma entrada e uma saída estavam claramente demarcadas. Ninguém tinha a per missão de quebrar esta estrutura, porque assim era a maneira como os indivíduos deveriam receber a “mensagem” do pavilhão.

Uma outra característica comum a muitos pavilhões da Expo 2000 era o uso de mídias eletrônicas como suporte para as mensagens. Vídeos eram responsáveis por transmitir as mensagens para um grande público. A postura individual não raramente era de passividade diante de imagens coloridas, e, possivelmente, talvez fosse essa a postura esperada.

O tipo de mídia era, de alguma forma, coerente com a organização física dos pavilhões. Assim como os pavilhões, as mídias selecionadas permitiam unicamente uma comunicação de mão única, com muito pouco espaço para aquilo que denominamos interatividade.

 

Objetivos do Artigo

Ilustrar como ocorre grande parte da comunicação no mundo contemporâneo, apesar da existência de meios de comunicação mais interativos.

A questão, portanto, não é tanto quanto à escolha da tecnologia “correta”, mas muito mais de atitude em relação à interação social.

 

Questões a serem confrontadas

  • De que forma as novas mídias são encaradas como parte da interação humana?
  • Quais as conseqüências de interfaces interativas para a interação social?
  • E, finalmente, de que forma as mídias são capazes de reforçar a habilidade dos indivíduos de interagirem socialmente?

 

Problemas levantados

Mesmo que tais instrumentos passem a ser utilizados com maior freqüência, suas possibilidades e limitações para a interação dificilmente podem ser concebidas sem levar em consideração a interação face a face, apesar das nuanças que marcam cada forma interativa.

Pensar a interação tendo como ponto de partida máquinas e tecnologias, sem levar em conta os sujeitos que verdadeiramente interagem

 

Hipótese

Será investigada a hipótese de as mídias eletrônicas fornecerem novos elementos para a interação social e que, por esta razão, caberia investigar quais seriam precisamente esses fatores a influenciar a interação e sua relação com eventuais transformações no processo interativo.

Mais precisamente, nossa discussão procurará investigar se, e de que forma, as novas mídias representam um instrumento capaz de otimizar a interação social, tornando a comunicação mais ágil e flexível, mas acima de tudo preservando a singularidade da comunicação daqueles envolvidos no processo de interação mediada.

 

Em torno da interação social

Herbert Blumer identifica duas formas de interação social, a chamada “interação não-simbólica” e a outra precisamente “interação simbólica” (Blumer, 1969:8).

A interação não-simbólica ocorre quando se reage diretamente à ação de um outro sem que se interprete tal ação; por exemplo através de reflexos do corpo.

Ao contrário, a interação simbólica implica interpretação dos atos. Este segundo tipo de interação é bastante mais complexo e constitui o fundamento para a abordagem do interacionismo simbólico.

O interacionismo simbólico está fundado em três premissas (Blumer, 1969:2-5).

A primeira delas é que seres humanos  agem em relação ao mundo baseados no sentido de elementos tais como objetos físicos (árvore ou cadeira), outras pessoas (mãe ou mo to ris ta de táxi), categorias de seres humanos (amigos e inimigos), instituições (escola ou governo), ideais (in de pendência individual e honestidade) e as sim por diante.

A segunda é de que a resposta do interacionismo simbólico é que o sentido é produzido através do processo de interação social.

Um sistema social é caracterizado pela interação do ego (I) com o alter (me), mutuamente orientados. A complementaridade ou reciprocidade é possível em razão das condições prévias da existência de uma comunicação através de um “sistema comum de símbolos” ou “cultura comum” (Parsons, 1962).

De acordo com Mead (1972), o ego é a resposta, incerta, que um indivíduo dá às atitudes de outros em relação a ele quando este assume uma atitude em relação aos outros.

O alter é o grupo organizado de atitudes das respostas dos outros que o indivíduo assume enquanto suas. A fusão de ambos, ego e alter, articula a constituição do self, o sujeito de ações em um sistema social.

Neste sentido, o assumir papéis é um processo fundamental na constituição do self, e marcado por três fases: a) a fase preparatória, a fase da repetição; b) a fase do brincar (play), na qual o indivíduo aprende como assumir papéis e c) a fase do jogo (game), quando o indivíduo é confrontado com o outro generalizado, ou seja, quando o indivíduo atua de acordo com as expectativas das ações dos outros que tomam parte no jogo.

A terceira premissa sustenta que os sentidos são manipulados e modificados por um processo interpretativo adotado pela pessoa em relação aos elementos com os quais a pessoa entra em contato.

O processo interpretativo compreende duas fases distintas:

1ª) A pessoa que age estabelece a si mesma os elementos com os quais tem relação, isto é, a pessoa deve especificar os elementos que gozam de sentido.

2ª) A pós o processo de auto-comunicação, a interpretação implica uma manipulação de sentidos, na qual o agente seleciona, reagrupa e transforma os sentidos de acordo com o ponto de vista da situação na qual ele está confrontado e que está relacionado com suas ações.

 

Em torno da interação mediada

O autor inicia enfatizando os conceitos de Thompson:

 

A interação face-a-face acontece num contexto que o autor denomina co-presença, isto é, os interagentes estão presentes e partilham um mesmo sistema referencial de espaço e tempo. Outra característica desta modalidade é a multiplicidade de deixas simbólicas para transmitir mensagens e também interpretar as que cada um recebe do outro.

Interação quase mediada é aquela realiza da através dos meios de comunicação de massa (livros, jornais, rádio, televisão, etc.).

Interações mediadas “implicam o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas, etc.) que possibilita a transmissão de  informação e conteúdo simbólico para indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos”

 

Características interativas

Interação face-a-face

Interação mediada

Quase-interação mediada

Espaço-tempo

Contexto de co-presença; sistema referencial espaço-temporal comum

Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço

Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço

Presenças simbólicas

Multiplicidade simbólica

Limitação simbólica

Limitação simbólica

Orientação /  característica

Orientada para receptores específicos / Dialógica

Orientada para receptores específicos / Dialógica

Orientada para número indefinido de receptores / Monológica

 

As tecnologias não trazem já embutidas nelas as novas formas de comportamento, sendo estas o desdobramento incessante e dinâmico da interação tanto dos indivíduos com as tecnologias e máquinas quanto da interação entre os próprios indivíduos mediada pelas tecnologias.

Com isso se quer apenas salientar o fato de que não apenas as tecnologias são historicamente distintas, provocando reações e combinações diferentes de comportamento, mas que são igualmente diversos os contextos socioculturais em que tecnologias similares são introduzidas, o que tende a suscitar novas e diferenciadas formas de interação social, de acordo com o meio ambiente.

Uma outra importante questão suscitada pelo uso intensivo de mídias interativas é precisamente o processo de formação da identidade dos envolvidos na interação mediada, encarada como um elemento fundamental também na constituição das comunidades virtuais.

O cuidado com sua própria identidade, sua própria reputação, é um importante elemento na formação de qualquer comunidade, já que exerce entre outras funções o papel de elemento motivador ao pertencimento à determinada comunidade (Donath, 2000: 29-31).

 

Conclusões do autor

Primeiro, parece imprescindível a elaboração de uma análise mais consistente da interação social mediada por novas mídias interativas, teórica e empiricamente mais fundamentada, para que aqueles envolvidos no processo de interação mediada, assim como aqueles que propiciam tal mediação, estejam mais aptos a superar parte desses impasses.

Em segundo lugar, é preciso decifrar as condições de possibilidade para a existência da interação social no ciberespaço. Ademais, o estabelecimento dessas condições nos permitirá identificar empiricamente os elementos comuns e divergentes entre a interação quase-mediada e interação mediada .

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Interacionismo simbólico - usos e limites de sua aplicabilidade nos contextos sociais virtuais/digitais

Beyond the diluted community concept: a symbolic interactionist perspective on online social relations (24/04)

Autor: Jan Fernback

O autor inicia suas reflexões salientando que o estudo ‘agarra-se’ com o conceito de comunidade no ciberespaço e vislumbra sugerir formas alternativas de caracterizar as relações sociais online. Baseado em entrevistas e uma reflexão teórica da comunidade online, ele considera que a metáfora da "comunidade" no ciberespaço é uma união de conveniência, sem real responsabilidade.
Este estudo sugere uma abordagem ‘interacionista simbólica’ para o exame das relações sociais que está livre de controvérsia e bagagem estrutural-funcional do termo "comunidade". O autor sugere que a comunidade é um processo evolutivo, e este compromisso é verdadeiramente o desejado ‘ideal social’ na interação social, quer seja online ou offline.
Fernback salienta que desde o final do século 19, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e profetas culturais têm mantido a busca da questão social da comunidade no discurso popular. Este discurso verifica a natureza da comunidade e seu valor na cultura pública.
Para o autor, o dinamismo é o foco deste artigo, que analisa o conceito de comunidade no ciberespaço e sugere formas alternativas de caracterizar as relações sociais online a fim de evitar que os caprichos da "comunidade". A idéia de cibercomunidade (comunidades virtuais) é incontornável – ‘deixar para trás os nossos corpos, e nossos preconceitos e limitações associadas a essas entidades, para interagir apenas como mentes em um ambiente livre’. Este estudo portanto, analisará alguns pressupostos teóricos sobre a comunidade, contextualizando o conceito de ‘cybercommunity’ ou também apresentado como cibercomunidade, e algumas conclusões a partir de dados coletados a partir de entrevistas com os participantes de fóruns online, bem como sugerir outras conceituações de interação social online como um meio de progressos paradigmáticos em relação a narrativa sobre cibercomunidade.
No tópico ‘o que os estudo sobre comunidades online revelam’, Fernback expõe o pensamento de alguns autores destacando que estudos prévios das comunidades online incidem sobre as possibilidades de territorialização - a Internet como um novo espaço social. Entre os autores, ele destaca:
- Benedikt (1991) afirma que o espaço virtual é materialmente análogo ao espaço físico em que tem propriedades físicas e geográficas.
- Rheingold (1993) afirma que comunidades virtuais realizam a solidificação de funções tradicionais da comunidade pré-industrial.
- Baym (1995) encontra em linha com os grupos' ricamente desenvolvido culturas "a transformar a Internet em um novo espaço comunal.
- Whittle (1997) o verdadeiro poder das comunidades virtuais cabe dentro da nossa capacidade de criar e desenvolver as comunidades, não apenas para escolhê-las.
- Miller (1996) concorda, argumentando que, apesar de avanços nas tecnologias da comunicação serem muitas vezes culpado pela destruição da comunidade, tecnologias online podem ser usadas para restaurar e reforçar o impulso da humanidade de criar e sustentar comunidades.
- Jones (1995) observa que qualquer definição de comunidade online deve englobar elementos espaciais e sociais. Assim, Jones apóia uma concepção robusta de comunidade que conecta matéria / espaço com a transmissão de valores sociais e sistemas de crença.

Globalmente, em nações desenvolvidas, os novos meios possuem um grande papel nestas transformações. Mas o corpo de investigação sobre a comunidade online não tem feito o suficiente para problematizar sobre comunidade: O homem tem uma necessidade intrínseca de forma associativa de grupos? Como pode ser uma associação comunal disfuncional? Comunidade tem sido ‘essencializadas’ e teorizadas na medida em que tornam-se quase sem sentido? A próxima seção considera hipóteses sobre a comunidade em novas mídias estudos, afirma o autor.
Na seção ‘Questões da comunidade na era digital’, o autor faz referências a autores bastante conhecidos como Castells e Jankowski entre outros, salientando como tais autores percebem o termo comunidade. Em seguida, ressalta que os estudos sobre comunidades online estão inevitavelmente ligados ao desenvolvimento da Internet entre outros fenômenos culturais. Deste modo, uma crítica da natureza das comunidades assume maior importância cultural. Afirma ainda que a distinção entre o "real" e o "virtual" tornou-se muito menos útil como a internet e está firmemente enraizada no dia a dia da existência cultural.
Em seguida, debate sobre o termo ‘glocalização’. De acordo com Pew, ‘glocalização’ é evidente no ciberespaço - as pessoas estão expandindo seus planos sociais, e ao mesmo tempo, vinculam-se mais profundamente às suas comunidades locais. Originalmente usado como um termo comercialização no Japão, o termo 'glocalização’ tem em sua raiz o desejo de normalizar o ‘reino do global’ para o familiar ‘terreno do local’ (Robertson, 1992). Apropriado por Wellman (2002), o termo significa que todos os aspectos da esfera social têm se deslocado do tradicional conceito de comunidade homogênea para redes ‘glocalizadas’ (onde famílias estão conectadas globalmente e localmente através de redes ligadas) e mais em direção às 'redes individuais’, em que os indivíduos tornam-se associados e desatentos à fronteira espacial. Deste modo, a ‘glocalização’ é o resultado de uma forte conexão local com interações de amplo alcance global.
Fernback ressalta que o estudo aqui apresentado é orientado por um quadro ‘simbólico-interacionista’ para investigar a natureza das relações sociais formadas nos grupos na rede. Este paradigma, afirma o autor, fornece um valioso instrumento para a compreensão de como as representações simbólicas das comunidades online em influenciam as noções dos participantes sobre interações comunais. Destaca ainda os estudos de Blumer e suas premissas.
Para compreender os sentidos de "comunidade em rede” para os participantes nos espaços sociais virtuais, 30 pessoas com experiência grupos online foram entrevistados em profundidade. O objetivo das entrevistas foi o de documentar a experiência de interação social online para que os participantes compreendam como se caracteriza a natureza dessas interações. Para investigar os significados que estas pessoas provêm de sua interação online em grupos, uma abordagem qualitativa alicerçada numa perspectiva interacionista simbólica foi empregada (segundo Blumer, 1969). Para avaliar a percepção das realidades da interação social online, os membros dessas comunidades devem ser questionados para determinar a relevância deste tipo de atividade social em suas vidas. Estratégias interpretativas recolhidas principalmente a partir de estudos antropológicos foram aplicadas para elucidar conclusões.
Os indivíduos foram convidados a partir de grupos online escolhidos aleatoriamente. Os grupos tratavam dos seguintes temas: filosofia oriental, filosofia política, pós-graduação em ciências humanas, política, saúde geral, e questões homossexuais. Após participar destes grupos por um período de seis meses, o autor solicitou, via e-mail, respostas a um questionário aberto por tempo indeterminado. Alguns entrevistados concordaram em ser entrevistadas offline, em pessoa.
As questões da entrevista foram organizadas em quatro seções: (1) informações sobre o uso de grupos online; (2) Em que medida os indivíduos consideram suas interações sociais virtuais como sendo cibercomunidade; (3) Quais sentidos são recolhidos por eles a partir de interação em comunidades virtuais, e (4) temas como experiências online e offline foram integrados.
Fernback constata que o mais importante achado deste estudo é que os participantes de grupos online possuem entendimentos incongruentes do personagem em rede que realiza relações sociais. As suas opiniões sobre a natureza das interações comunais online estão enraizadas em significados que se constroem sobre o valor da comunidade e das suas interações com os outros, em suas esferas sociais online e offline. Dois temas identificáveis emergiram das entrevistas, conforme relatado nas seguintes seções:
Comunicação online e vida pública: quando questionados sobre a caracterização de sua interação social online e sobre a descrição do impacto da interação nos grupos online (se houver) na vida pública, a maioria dos inquiridos demonstrou atitudes ambivalentes sobre suas experiências sociais online.
O significado de atividade online como estereótipo: quando questionados sobre a descrição "dos seus sentimentos e opiniões sobre o fenômeno da interação de grupos online" e sobre a equiparação da "qualidade de suas experiências sociais offline e online", a maioria dos inquiridos atribuiu uma efêmera qualidade para os seus relacionamentos comunais online. Alguns, no entanto, consideraram a interação social online e offline como ‘indistinguíveis’.
A partir desses dois parâmetros, o autor discute alguns pontos. Para ele, noções tradicionais da comunidade não são verdadeiramente manifestadas no ciberespaço para estes participantes. Eles questionam se a comunidades virtuais têm o suficiente para verdadeiramente desenvolver costumes, lendas folclóricas, legados e orgulho nestes espaços. Mesmo a comunicação íntima online ainda está sendo mediada pelo computador pelo fato de que os comunicadores têm mais probabilidade de conhecerem estranhos. Tanto a alegria como a opressão dessa intimidade mediada por computador são temperados pela falta de contato humano. A metáfora da comunidade virtual colocada sobre as relações sociais é insuficiente e inadequada.
Mas essa metáfora é uma união de conveniência, sem verdadeira responsabilidade, afirma Fernback. Muitos entrevistados citaram a ‘opressividade’ como uma preocupação em suas comunidades virtuais, e um inquirido ressalta que se sentiu tão sufocado pelo seu grupo, que ele finalmente o deixou. Elementos de continuidade e sustentação da interação tendem a ser raras em grupos online. Com base nestas preocupações, poderá suspeitar de que um cidadão de cibercomunidade não iria tolerar alguns comportamentos como o banimento.
A partir dos resultados, o autor aponta algumas ‘alternativas para a construção de comunidades virtuais’. Segundo Fernback, o conceito de comunidade como uma ‘panacéia social’ tem sido enfraquecido. Como uma instituição, a comunidade não tem limites ou verificações; é eternamente procurada e persistentemente incentivada.
Para ele, o que é útil no estudo das relações sociais online inclui as abordagens diferenciadas e multifacetadas de estudiosos descarregadas pelo rótulo de comunidade. Análise de redes é útil para a compreensão de como os usuários de redes de computadores forjam relações individuais que são propositais e de menor carga de valor.
Outro ponto abordado pelo autor é que as comunidades nem sempre são formadas concisamente por consenso ou intimidade. Trata-se de compreender que os indivíduos estão unidos por uma necessidade para perpetuar a sociedade e a cultura. Isso obriga os seres humanos a precisarem trabalhar em conjunto e se comunicarem em um processo contínuo de manutenção social ou mudança social. Este processo nem sempre é eficiente ou palpável, que pode ser caótica e possuir oposição.
Em suas conclusões, destaca que Robins (1999) sugere que a própria comunidade virtual é uma visão socialmente regressiva da ‘tecnocultura’ desejando um mundo que não existe. Ele argumenta contra a "obsessiva" caracterização da distância geográfica como tirânica. Robins implica que a comunidade online oferece uma visão anti-social e anti-política do mundo.
Considerando o potencial opressivo da comunidade, para além do seu potencial de estabilização social, Fernback afirma que temos de avançar para além da nostalgia da comunidade ideal. Para ele, a academia deve pensar em ir além da comunidade como um produto ou um fim em si próprio. Temos de pensar em ir além da comunidade como uma estratégia de marketing online. Temos de avançar para além da metáfora da comunidade online como o paradigma de relações sociais. Em última análise, este estudo sugere uma abordagem simbólico-interacionista para o exame das relações sociais online que está livre da controvérsia e de bagagem estrutural-funcional. De acordo com esta perspectiva, a comunidade é uma construção mutável, determinada pelos atores sociais que criam significado nisso. Esta abordagem reconheceria que as estruturas sociais em rede são influenciadas pelas relações institucionais, o poder, o nacionalismo, informação mundial e dos fluxos de capitais, crise de estratégias de gestão e de outros processos que constroem as nossas práticas "comunais".
Para o autor, se os estudiosos continuarem a pintar a internet com o ‘pincel largo’ da comunidade, eles diluirão o potencial da investigação para compreender como comunidades online são constituídas, como elas funcionam, como elas são integradas na vida social offline, ou o que elas fornecem. Ultrapassar a comunidade como um paradigma de estudos online equivale a avançar para além dos efeitos dos estudos de comunicação de massa. É um reconhecimento do rico resultado do passado e futuro, bem como um compromisso para outras avenidas frutuosas de pesquisas deste fenômeno social.


The cyberself: the self-ing project goes online, symbolic interaction in the digital age (24/04)
Autor: Laura Robinson

Neste artigo, Laura Robinson inicia suas ponderações destacando no tópico ‘Muito antes de comunicação mediada por computador (CMC), interação simbólica’, que embora o ‘eu’ seja consagrado, não é delimitado mas constantemente renegociado. No entanto, tal como as perspectivas interacionistas simbólicas tentaram derrubar conceitos do ‘eu’ estático delimitado como um todo, perspectivas pós-modernas ameaçaram a concepção de interação simbólica para um ‘eu’ maior, criado e mantido através da interação.
A autora examina estes dois quadros concorrentes à luz das definições dos ‘cyberself’ online e o processo de auto-construção. Ela acredita que na criação de ‘eus’ online, os usuários não procuram transcender os aspectos mais fundamentais dos seus ‘eus’ offline. Em vez disso, os usuários colocarão na essência dos corpos, personas, e personalidades enquadradas de acordo com as mesmas categorias que existem no mundo offline.
Para Robinson, o quadro do interacionismo simbólico é fundamental para a compreensão do processo de construção do ‘cyberself’ porque o ‘cyberself’ é formado e negociado da mesma forma que o ‘eu’ offline. Online, o 'eu' e o 'mim' ainda informar-se mutuamente, ainda que em um suporte diferente, utilizando diferentes expressões "fixado" e "fixado desligado" (Mead, 1934; Goffman, 1959). Por último, estas interações digitais continuam a exigir uma análise Goffmaniana para compreender a interação tanto 'no palco' como ' nos bastidores'.
Assim sendo, a autora faz um panorama do conceito de interacionismo simbólico, e destaca, embasando-se em Holstein e Gubrium (2000) e, que ao afirmar que o self é empírico, o interacionismo simbólico contesta a popular idéia de que existe o self delimitado fora da interação social como um todo, que é distintivo e fixado em contraste com outros.
Também destaca os pressupostos de Cooley e sua noção ‘looking-glass’ (auto-espelho) que define a auto-reflexão como a gerada pelo ‘outro generalizado’, que é conjugada com o acórdão do ‘outro generalizado’. Em outras palavras, o nosso senso de self é realmente a nossa percepção da avaliação da sociedade sobre nós. Neste processo, através da imaginação que nós percebemos em outro pensamento da mente algumas das nossos aparências, maneiras, objetivos, ações, natureza, amigos, e assim por diante, e que são afetados por ela várias vezes.
O conceito de looking-glass baseia-se num triplo processo. Em primeiro lugar, o self imagina como ele aparece para os outros. Em segundo lugar, o self então imagina a sentença dos outros. Finalmente, o self desenvolve uma resposta emocional a esse julgamento.
Por sua vez, Mead (1934) vê o self como o produto deste processo em que "uma não resposta que ele dirige ao outro e, quando a sua própria resposta se torna uma parte de sua conduta, onde não só ele se ouve, mas responde a si próprio”. Portanto, para Mead, o "eu" é a representação da ordem social ou do "outro generalizado".
Goffman ainda transforma os conceitos de Mead e Cooley em sua prorrogada metáfora do self em dramaturgia. Goffman estuda o self através de atividade mundana 'para descobrir o processo de auto-construção que ele descreve como uma produção dramática’. Nos estudos dramatúrgicos de Goffman, o self gera os seus empreendimentos interacionais estrategicamente e os realiza de uma forma calculada para projetar uma imagem que os outros interagentes encontrarão credibilidade. Em suas performances, o self se esforça para transmitir uma identidade consistente com as expectativas formadas pelo público e com a situação, ou estágio, que enquadra a interação.
No tópico ‘construindo o ciberself: o projeto da constituição do ‘eu’ online’, a autora traz alguns conceitos e pensamentos que irão reforçar seus argumentos e fazer alguns links das teorias anteriores com o ciberespaço. Assim sendo, inicia com os pressupostos de Hill. O autor em questão examina a ‘promotional-hype’ ou segundo seu texto, ‘promoção de ambientes virtuais’, que prevê que os espaços virtuais o self não pode discriminar entre outros reais e o self são projeções exteriorizadas.
Complementando, Turkle fala a a partir dos resultados de suas pesquisas sobre usuários de MUDs, que os ‘múltiplos selfs’ liberta das obrigações corpóreas que engendram o mundo offline, tanto que esses ‘multiplos selfs’ podem estar simultaneamente presentes em numerosos espaços virtuais. Para Turkle (1997), no ciberespaço tem-se a oportunidade de expressar os vários e talvez desconhecidos aspectos da personalidade, através dos MUDs (Multi-User Dungeons). Turkle (1997), pondera ainda que, no mundo mediado pelos computadores, o eu é múltiplo, fluido e consubstanciado nas interações com a rede de máquinas. Para ela, “o computador situa-se na linha de fronteira. É uma mente, mas não é bem uma mente. É inanimado, porém interativo. Não pensa, mas não é alheio ao pensamento. [...] o computador transporta-nos para além do nosso mundo de sonhos e animais e permite-nos contemplar uma vida mental que existe na ausência de corpos (TURKLE, 1997, p. 31)”. Baseado em entrevistas com usuários dos MUD (MUDders), Turkle considera que a construção do cyberself oferece uma "ardósia fresca ' para MUDders online criarem novas identidades.
Robinson observa ao final do tópico que como tecnologias de saturação, ambientes online deixam a seleção do self para o usuário. A partir de uma perspectiva pós-moderna, essas tecnologias apresentam a oportunidade de auto-contrução para um self efêmero, sem compromisso com uma ‘masterself’ (self mestre) que abriga um 'eu' ou um 'mim'.
A partir daí, Robinson se envereda nas discussões do tópico ‘representação e a criação de ciberpersonas’ e enfatiza ainda mais a questão dos MUDs e citando Wertheim, aponta que os MUDders saciam suas fantasias sem temer as repercussões que iriam acontecer no mundo offline, porque o comportamento e expressão aceitáveis no ambiente MUD supera a distância do mundo offline. Nas entrevistas com usuários de MUD, Turkle salienta que muitos jogadores MUD testemunham a realidade de seus selfs virtuais e descrevem os selfs online como sendo "mais reais" do que os que possuem no mundo offline.
No tópico ‘reconstituição do cibercorpo’, Robinson destaca que em MUDS, quando os usuários descrevem os seus corpos virtuais, eles muitas vezes exageram os próprios marcadores de gênero, raça, e a juventude que lhes falta no mundo da fisicalidade corpórea (Chen, 1998). Personagens masculinos são construídos como corpos musculosos, enquanto os personagens femininos são descritas como brandas, e tais cibercorpos tendem sempre a aparecer, seja o masculino ou feminino, para um grau exagerado (Clark, 1995). A simulação da ‘corporalidade’ do corpo indica que os criadores de corpos virtuais desejam preservar o corpo de alguma forma, para não transcenderem à ele (O'Brien, 1999).
Em seguida, cita Wertheim, apontando que a autora critica a perspectiva pós-moderna de cyberself, afirmando que independentemente do seu valor real, não é simplesmente uma experiência de mudança de identidade. Posso jogar com qualquer número de personalidades online sem sofrer fragmentação dos meus 'arquivados' selfs. 'Eu' - isto é, o meu 'eu' - pode jogar qualquer número de diferentes pessoas online e offline, mas isso não significa que se tornam fragmentados. Portanto, argumenta Wertheim, ambientes online não oferecem opções do indivíduo ausentar-se do mundo offline.
A autora finaliza este tópico enfatizando que em termos Goffmanianos, as pessoas dão múltiplas performances para diferentes públicos, pois ao invés de libertar-nos das nossas identidades sociais offline, o ciberespaço proporciona condições para codificá-las.
Já em ‘a ilusória tentação de abordagens pós-modernas’, a autora afirma que que a maior falha fundamental nas interpretações pós-modernas de construção do cyberself reside na tentativa de generalizar a partir de estudos iniciais de MUDS, a construção de cyberself em geral. Outra ponderação sobre as generalizações neste sentido, reside no fato de que interpretações pós-modernas de construção do cyberself já não são válidas, e não podem ser aplicadas à população da internet em geral porque são baseadas precocemente nos usuários que investidos de MUDS. Hoje, a população de usuários é muito diferente, e já não é mais dominada pela cor branca, e pelo sexo masculino.
As identidades online são suscetíveis de serem extensões de identidades offline porque "para a maioria das pessoas, o aumento da utilização internet, amplia e complementa o que eles fazem offline" (Rainie, 2004). Assim, finaliza Robinson, a percepção do usuário na Internet como alguém separado e alienado da sociedade atual' já não é credível.
Quando inicia suas reflexões sobre ‘interacionismo simbólico e construção do cyberself’, Robinson destaca que dada a mudança de populações de usuários e tipos de atividades na Internet, para a maioria dos usuários on-line, self é uma extensão do ‘masterself’ offline. Com isto em mente, a autora regressa ao interacionismo simbólico novamente para explicar auto-construção online e sinalização de identidades.
O cyberself é o emergente produto da interação social em que o self comanda a capacidade de ser tanto o sujeito quanto o objeto de interação. Desta forma, a construção do cyberself cria o par virtual ‘eu / mim'. Online, a página inicial permite que o 'eu' apresente o self ao ‘ciberoutro’; na verdade, a própria construção da homepage pressupõe a expectativa do virtual "outro generalizado".

Estes links movem usuários entre interações textuais e espaços de construção identitária. Em outros fóruns, como as discussões políticas de grupos, os usuários empregam links ou referências à homepages profissionais para dar credibilidade às suas próprias afirmações. Nestes aspectos, a homepage continua a ser uma expressão do 'eu', que antecipa a reação do ‘ciberoutro’, criando, assim, o 'mim'.
Além disso, nos weblogs ou blogs, bem como diários on-line, espaços virtuais ampliam a concepção da página inicial como espaço interacional. Blogs permitem a mesma apresentação do 'eu' como fazem as homepages, mas eles esperam também os outros para interagir com o 'eu', no mesmo espaço virtual. O blogueiro apresenta o 'eu' através de construção de páginas e mantêm um diálogo com os outros ‘eus’ pelas reações e comentários nos posts.
A partir daí, a autora se envereda na discussão sobre a temática ‘sinalizando a identidade no mundo mediado por computador’. Destaca então que na interação social face-a-face, os indivíduos empenham-se uns com os outros por meio de qualquer das suas modalidades sensoriais. No entanto, na rede, não há sinais interacionais físicos como tal. Atualmente, a maior parte da comunicação mediada por computador ocorre através de intercâmbios com base em texto. Usuários online empregam texto para enviar e receber sinais que mimetizam as estruturas das expressões "given" e "given off" no mundo offline.
Robinson exemplifica que o e-mail fornece ambas as expressões "given" e "given off”. Por exemplo, em um fórum empresarial, um usuário pode postar o seu ‘cargo’ como uma expressão "given". No entanto, se o usuário não usa o email da instituição com o nome, este pode não enviar a expressão adequada "given off”. Ao usar um e-mail associado à identidade institucional reivindicada pela expressão "given", a expressão "given off” iguala e valida a expressão "given". E-mail de uma conta gratuita, como o Yahoo, pode sinalizar a possibilidade de engano de identidade, porque não existe nenhuma prova de filiação ou de identidade offline. Em suma, o 'given' diz respeito às suas ações voluntárias que apontam suas características e o 'given off' são as demais formas de expressão e outros, que deixam transparecer sua identidade ou seu estado, sem necessariamente ser algo voluntário.
Em seguida, a autora retorna à Goffman ressaltando que em termos de interação cibernética, podemos chamar seu argumento de metáfora da dramaturgia. Para Goffman, cada vez que um usuário posta em um fórum ou chat, ele realiza uma performance. Goffman define um desempenho como ‘toda a atividade de uma pessoa, que ocorre durante um período marcado pela sua presença contínua antes de um conjunto particular de observadores’. Para ser bem sucedido, o desempenho é ‘moldado e modificado para se ajustar ao entendimento e às expectativas da sociedade em que é apresentado’. Além disso, o ator opta por 'renunciar ou dissimular a ação que é incompatível com estas normas’.
Para Halbert, para que os usuários mantenham com sucesso os seus membros em uma comunidade, que deve realizar auto-identidades que não violem o contexto da interação da comunidade, que pode ser lido através dos nomes na tela, biografia dos membros, introduções e os contextos em que se realizam conversas.
Às vezes, performances falham. Isto é especialmente verdadeiro quando ‘não associados’, às vezes chamado ‘trolls’, tentam usar esses sinais para imitar os hábitos linguísticos dos membros reais. A ciberaudiencia é rápida para sinalizar a tensão durante a sinalização de identidades corretas e identidades enganosas. Porque dissimulando ciberperformances, podemos falsificar assinaturas em rede sem gastar muito tempo ou esforço, e a maioria dos membros não irá invocá-los como indicadores confiáveis de identidade. Em vez disso, o público inspeciona linguagem e vocabulário tal como expressões "given off”.
A autora também ressaltam a sinalização textual bem como as expressões como "LOL" que sintetizam as características físicas em texto. Em mensagens instantâneas (IM) e e-mail, os emoctions oferecem uma infinidade de símbolos que, como o "LOL", reduzem sinais visuais interacionais em um ícone visual embutido no texto.
A autora finaliza suas ponderações apontando que os estudos que vislumbram identidade e interação social na internet ainda focam públicos específicos (do gênero masculino, e que a partir dos MUDs buscam no mundo online, satisfazer seus ‘eus’ que de algum modo não são satisfatórios no mundo offline. Porém, lembra que esses usuários já não constituem a maioria da população na internet. Assim, destaca Robinson, no ciberespaço perpetua a mesma auto-construção interativa que existe no mundo offline.