domingo, 17 de maio de 2009

Módulo 3 - Teoria dramatúrgica (Referecial teórico)

A representação do eu na vida cotidiana - Erving Goffman
The Presentation of Self in Everyday Life, publicação de 1959 e considerada a obra clássica de Goffman, o autor propõem, em linhas gerais, que os indivíduos desenvolvem uma vida próximo aos dramas encenados em um palco de teatro. Assim, a vida social pode ser entendida como um conjunto de representações em que os indivíduos em contato (face a face) constroem os sentidos de sua existência diariamente e constantemente. The Presentation of Self in Everyday Life surgiu primeiramente como uma versão de sua dissertação, que seria um estudo de campo em uma comunidade das Ilhas Shetland, um pequeno assentamento rural na costa escocesa.
A vida, para Goffman, consiste de vários níveis de compreensão e consciência. Desta forma, O teatro de performances não está na cabeça das pessoas, está em seus atos públicos. Para entender a obra de Goffman alguns conceitos são fundamentais, a saber:
Estereotipia e Cenário:

“Se o indivíduo lhes for desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e aparência, indicações que lhes permitam utilizar a experiência anterior que tenham tido com indivíduos aproximadamente parecidos com este que está diante deles ou, o que é mais importante, aplicar-lhes estereótipos não comprovados.”
Comunicação verbal e não verbal:

“A primeira abrange os símbolos verbais, ou seus substitutos, que ele usa propositadamente e tão só para veicular a informação que ele e os outros sabem estar ligada a esses símbolos. Esta é a comunicação no sentido tradicional e estrito. A segunda inclui uma ampla gama de ações, que os outros podem considerar sintomáticas do ator, deduzindo-se que a ação foi levada a efeito por outras razões diferentes da informação assim transmitida.”
Atuação:

“Assim, quando uma pessoa chega à presença de outra, existe, em geral, alguma razão que a leva a atuar de forma a transmitir a elas a impressão que lhe interessa transmitir. Às vezes, agirá de maneira completamente calculada, expressando-se de determinada forma somente para dar aos outros o tipo de impressão que irá provavelmente levá-lo a uma resposta específica que lhe interessa obter.”

“Outras vezes, o indivíduo estará agindo calculadamente, mas terá, em termos relativos, pouca consciência de estar procedendo assim.”

“Ocasionalmente, expressar-se-á intencionalmente e conscientemente de determinada forma, mas, principalmente, porque a tradição de seu grupo ou posição social requer este tipo de expressão, e não por causa de qualquer resposta particular.”
Papel social:

“...podemos dizer que um papel social envolverá um ou mais movimentos, e que cada um destes pode ser representado pelo ator numa série de oportunidades para o mesmo tipo de público ou para um público formado pelas mesmas pessoas.”
Sociedade:

“A sociedade está organizada tendo por base o princípio de que qualquer individuo que possua certas características sociais tem o direito moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem de maneira adequada.”“Conseqüentemente, quando um indivíduo projeta uma definição da situação e com isso pretende, implícita ou explicitamente, ser uma pessoa de determinado tipo, automaticamente exerce uma exigência moral sobre os outros, obrigando-os a valorizá-lo e a tratá-lo de acordo com o que as pessoas de seu tipo têm o direito de esperar.”
A interação face a face:

“...a interação pode ser definida, em linhas gerais, como a influência recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos outros, quando em presença física imediata.”
“Uma interação pode ser definida como toda interação que ocorre em qualquer ocasião, quando, num conjunto de indivíduos, uns se encontram na presença imediata de outros.”
Fachada:

“Será conveniente denominar de fachada à parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de definir a situação para os que observam a representação.”

“Fachada, portando, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconsciente empregado pelo indivíduo durante sua representação.”
Cenário:

“O cenário tende a permanecer na mesma posição, geograficamente falando, de modo que aqueles que usem determinado cenário como parte de sua representação não possam começar a atuação até que se tenham colocado no lugar adequado e devam terminar a representação ao deixá-lo.”

“Somente em circunstâncias excepcionais o cenário acompanha os atores. Vemos isto num enterro, numa parada cívica e nos cortejos irreais com que se fazem reis e rainhas.”
Idealização:“A noção de que uma representação apresenta uma concepção idealizada da situação é, sem dúvida, muito comum.”

“Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo.”
Platéia:

“Graças à segregação do auditório o indivíduo garante que aqueles diante dos quais desempenha um de seus papeis não serão as mesmas pessoas para as quais representará um outro papel num ambiente diferente.”

“...os atores tendem a alimentar a impressão de que o atual desempenho de sua rotina e seu relacionamento com a platéia habitual têm um caráter especial e único. A natureza rotineira da representação é escondida (o próprio ator não percebe até que ponto sua representação é realmente rotineira) e os aspectos espontâneos da situação são reforçados.”
Conclusão:

“”Quando o indivíduo passa a uma nova posição na sociedade e consegue um novo papel a desempenhar, provavelmente não será informado, com todos os detalhes, sobre o modo como deverá se conduzir, nem os fatos de nova situação o pressionarão suficientemente desde o início para determinar-lhe a conduta, sem que tenha posteriormente de refletir sobre ela.”

“Comumente, receberá apenas algumas deixas, insinuações e instruções cênicas, pois se pressupõe que tenha em seu repertório uma grande quantidade de pontas de representação que serão exigidas no ambiente.”

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