Um olhar sobre a sociabilidade no ciberespaço: aspectos sócio-comunicativos dos contatos interpessoais efetivados em uma plataforma interacional on-line
José Carlos Ribeiro
Gerenciamento de Aparências e de Informações
Controle da Apresentação
“Um dos aspectos mais interessantes no processo de criação de identidades virtuais na plataforma dos web-chats parece ser o controle da apresentação das características reveladas na estratégia de aproximação e de contato com outros usuários. Nesta conjuntura peculiar, a possibilidade de escolha dos atributos de personalidade e aparência que comporão o personagem permite um gerenciamento maior do que aquele normalmente exercido no mundo off-line”. (1)
Gerenciamento do Anonimato
Tendo sempre em mãos a possibilidade de “sair” e de “entrar” no ambiente interacional virtual com outro nickname a qualquer momento, o participante vivencia o privilégio de gerenciar, de forma mais efetiva, o grau de revelação e de permanência das informações referentes às características físicas e de personalidade da identidade construída para aquele ambiente. (1)
“Temos de conviver com aquela aparência que temos” (REID, 1995).
Graus de Distanciamento da Representação
Representação Transparente
Representação Translúcida
Representação Opaca
Goffman (1996), em sua análise sobre os processos interacionais FTF, afirma que ao se efetuar o controle do que é percebido e mostrado aos interlocutores por ocasião dos encontros sociais, o indivíduo necessariamente promove e vivencia uma regulação nos contatos efetivados. (3)
Articulando esta premissa com a realidade verificada no ambiente on-line dos web-chats, percebemos claramente uma ampliação do mecanismo de controle apontado pelo autor, haja vista a presença de uma maior facilidade nos procedimentos de permuta e de gerenciamento das características representacionais. (3)
As Imagens Idealizadas
A facilidade de propagar atributos físico-corporais que não contenham obrigatoriamente correspondência na realidade no mundo off-line, bem como a de exercitar de uma “forma melhorada” os aspectos da própria personalidade que não tenham espaços de expressão na dinâmica das interações FTF, por pressões sociais ou por falta de oportunidades adequadas, parecem ser possíveis razões que levam o usuário a criar uma imagem idealizada de si. (4)
Interessante notar que, efetuando um breve passeio nos ambientes interacionais on-line dos web-chats, qualquer usuário (experiente ou novato) pode constatar que as descrições pessoais geralmente revelam uma imagem estereotipada de perfeição (seja ela feita de maneira intencional ou não) (4)
Em nossa cultura, essa composição de procedimentos parece estar relacionada ao desejo e à necessidade de aceitação social do personagem virtual por parte do interlocutor. (5)
A prática de construção de imagens idealizadas nas plataformas interacionais on-line pode ser vista, através de um ângulo de percepção mais abrangente, como um possível vetor de agregação de pessoas que circulam neste espaço, uma vez que as aparências produzidas serviriam como referenciais conhecidos
“Em outras palavras, a figura, o ideal e a imagem idealizados favorecem o contexto, integram o indivíduo num sistema de comunicação e de inter-relações que é causa e efeito de toda sociedade”. (MAFFESOLI, 1996)
De certa forma, esses modelos sugerem o trânsito de tipos ideais, matrizes que se aceitam e se reconhecem como pertencentes a um grupo seleto de personagens desejáveis. O que, por sua vez, pode derivar em uma situação de efeito peculiar: a possibilidade da identidade on-line – arquitetada para interagir no ambiente virtual – ter uma aceitação social mais receptiva, devido à série de atributos construídos de acordo com os padrões valorizados socialmente, do que a identidade vivenciada no mundo off-line. E aí, em situações mais extremas, a questão pode vir a se tornar problemática para o usuário, pois poderá afetar direta ou indiretamente alguns aspectos de sua personalidade, ou mesmo desencadear uma série de distúrbios psicológicos (fragilização da auto-estima, dissociação de personalidade etc.).
Preenchimento dos Vazios Informacionais
Devido à falta de pistas mais precisas, comumente obtidas através de informações não-verbais presentes nas interações FTF, os usuários deste mundo on-line procuram “preencher esses vazios informacionais” através de um complexo mecanismo de associação das informações e dados efetivamente passados (de forma implícita ou explícita) com as próprias necessidades psicológicas de contatos com pessoas que possuam estas ou aquelas características específicas.
MacKinnon (1995) aponta em seus comentários que o tipo de linguagem adotado na escrita das informações ajuda na formatação do personagem interlocutor, uma vez que pode revelar aspectos denotativos da possibilidade de vinculação dele com algum grupo social conhecido no mundo off-line.
Diante do conjunto de circunstâncias exposto até então, podemos suspeitar que o interlocutor teria, através da ótica do usuário, um papel coadjuvante no processo, um papel de pouca relevância ou mesmo passivo, uma vez que estaria apenas ajudando na construção das fantasias particulares de cada usuário. Entretanto, considerando que o interlocutor também possui as mesmas possibilidades e encontra-se em iguais circunstâncias, podemos pensar que há, em certa medida, a presença de uma troca de incentivos informacionais mais equilibrada.
As Regiões Representacionais
Percebemos que tais manifestações de expressividade transmitidas (ou dadas) se revelam através da descrição pessoal efetuada de forma escrita e intencional pelo usuário (sexo, idade, características raciais, altura, aparência etc.); enquanto que as demonstrações de expressividade emitidas (ou não dadas de forma intencional) são disponibilizadas através de características mais sutis e contextuais (o estilo e a estrutura da narrativa, o vocabulário empregado etc.).
(regiões) Uma vez que não estando fisicamente presente para o outro, o usuário pode, sem comprometer a impressão (transmitida e emitida) propiciada pela vivência do papel representado (na região de fachada), efetivar alguns comportamentos não-verbais que possivelmente seriam considerados pelos interlocutores como sendo incompatíveis com os esperados para aquela situação social específica.
Assim como acontece na “região de fundo”, a “região do mundo off-line” também pode ser identificada como sendo o local onde o sujeito prepara o seu personagem, efetuando as adaptações necessárias ao papel e à “fachada pessoal” que deseja exercitar no espaço interativo situado na “região do mundo on-line”, ou fazendo-se uso da analogia, na “região de fachada”.
Existe um espaço público comum, “de fachada”, onde os usuários apresentam aos demais participantes as características construídas para aquela situação contextual específica. Havendo uma migração da troca interacional travada entre dois interlocutores para um espaço privado (por exemplo, entre “A” e “B”, conforme ilustrado na figura 21), eles passam a vivenciar uma dupla localização, estando situados, por um lado, em uma “região de fundo” em relação à presença dos demais participantes e, por outro, em uma “região de fachada” em relação à situação contextual externa.
No caso do ambiente da plataforma interacional on-line dos web-chats, a preocupação indicada pelo autor, sobre os possíveis sentimentos advindos da punição social, parece se apresentar de forma mais amena, haja vista a ausência de dificuldades em “entrar” novamente no cenário contextual, após uma eventual troca de nickname, sem que os demais participantes tenham a possibilidade de efetuar previamente uma relação entre este “novo” usuário e o “antigo” que porventura tenha sido descoberto ou surpreendido em um papel falseado.
José Carlos Ribeiro
Gerenciamento de Aparências e de Informações
Controle da Apresentação
“Um dos aspectos mais interessantes no processo de criação de identidades virtuais na plataforma dos web-chats parece ser o controle da apresentação das características reveladas na estratégia de aproximação e de contato com outros usuários. Nesta conjuntura peculiar, a possibilidade de escolha dos atributos de personalidade e aparência que comporão o personagem permite um gerenciamento maior do que aquele normalmente exercido no mundo off-line”. (1)
Gerenciamento do Anonimato
Tendo sempre em mãos a possibilidade de “sair” e de “entrar” no ambiente interacional virtual com outro nickname a qualquer momento, o participante vivencia o privilégio de gerenciar, de forma mais efetiva, o grau de revelação e de permanência das informações referentes às características físicas e de personalidade da identidade construída para aquele ambiente. (1)
“Temos de conviver com aquela aparência que temos” (REID, 1995).
Graus de Distanciamento da Representação
Representação Transparente
Representação Translúcida
Representação Opaca
Goffman (1996), em sua análise sobre os processos interacionais FTF, afirma que ao se efetuar o controle do que é percebido e mostrado aos interlocutores por ocasião dos encontros sociais, o indivíduo necessariamente promove e vivencia uma regulação nos contatos efetivados. (3)
Articulando esta premissa com a realidade verificada no ambiente on-line dos web-chats, percebemos claramente uma ampliação do mecanismo de controle apontado pelo autor, haja vista a presença de uma maior facilidade nos procedimentos de permuta e de gerenciamento das características representacionais. (3)
As Imagens Idealizadas
A facilidade de propagar atributos físico-corporais que não contenham obrigatoriamente correspondência na realidade no mundo off-line, bem como a de exercitar de uma “forma melhorada” os aspectos da própria personalidade que não tenham espaços de expressão na dinâmica das interações FTF, por pressões sociais ou por falta de oportunidades adequadas, parecem ser possíveis razões que levam o usuário a criar uma imagem idealizada de si. (4)
Interessante notar que, efetuando um breve passeio nos ambientes interacionais on-line dos web-chats, qualquer usuário (experiente ou novato) pode constatar que as descrições pessoais geralmente revelam uma imagem estereotipada de perfeição (seja ela feita de maneira intencional ou não) (4)
Em nossa cultura, essa composição de procedimentos parece estar relacionada ao desejo e à necessidade de aceitação social do personagem virtual por parte do interlocutor. (5)
A prática de construção de imagens idealizadas nas plataformas interacionais on-line pode ser vista, através de um ângulo de percepção mais abrangente, como um possível vetor de agregação de pessoas que circulam neste espaço, uma vez que as aparências produzidas serviriam como referenciais conhecidos
“Em outras palavras, a figura, o ideal e a imagem idealizados favorecem o contexto, integram o indivíduo num sistema de comunicação e de inter-relações que é causa e efeito de toda sociedade”. (MAFFESOLI, 1996)
De certa forma, esses modelos sugerem o trânsito de tipos ideais, matrizes que se aceitam e se reconhecem como pertencentes a um grupo seleto de personagens desejáveis. O que, por sua vez, pode derivar em uma situação de efeito peculiar: a possibilidade da identidade on-line – arquitetada para interagir no ambiente virtual – ter uma aceitação social mais receptiva, devido à série de atributos construídos de acordo com os padrões valorizados socialmente, do que a identidade vivenciada no mundo off-line. E aí, em situações mais extremas, a questão pode vir a se tornar problemática para o usuário, pois poderá afetar direta ou indiretamente alguns aspectos de sua personalidade, ou mesmo desencadear uma série de distúrbios psicológicos (fragilização da auto-estima, dissociação de personalidade etc.).
Preenchimento dos Vazios Informacionais
Devido à falta de pistas mais precisas, comumente obtidas através de informações não-verbais presentes nas interações FTF, os usuários deste mundo on-line procuram “preencher esses vazios informacionais” através de um complexo mecanismo de associação das informações e dados efetivamente passados (de forma implícita ou explícita) com as próprias necessidades psicológicas de contatos com pessoas que possuam estas ou aquelas características específicas.
MacKinnon (1995) aponta em seus comentários que o tipo de linguagem adotado na escrita das informações ajuda na formatação do personagem interlocutor, uma vez que pode revelar aspectos denotativos da possibilidade de vinculação dele com algum grupo social conhecido no mundo off-line.
Diante do conjunto de circunstâncias exposto até então, podemos suspeitar que o interlocutor teria, através da ótica do usuário, um papel coadjuvante no processo, um papel de pouca relevância ou mesmo passivo, uma vez que estaria apenas ajudando na construção das fantasias particulares de cada usuário. Entretanto, considerando que o interlocutor também possui as mesmas possibilidades e encontra-se em iguais circunstâncias, podemos pensar que há, em certa medida, a presença de uma troca de incentivos informacionais mais equilibrada.
As Regiões Representacionais
Percebemos que tais manifestações de expressividade transmitidas (ou dadas) se revelam através da descrição pessoal efetuada de forma escrita e intencional pelo usuário (sexo, idade, características raciais, altura, aparência etc.); enquanto que as demonstrações de expressividade emitidas (ou não dadas de forma intencional) são disponibilizadas através de características mais sutis e contextuais (o estilo e a estrutura da narrativa, o vocabulário empregado etc.).
(regiões) Uma vez que não estando fisicamente presente para o outro, o usuário pode, sem comprometer a impressão (transmitida e emitida) propiciada pela vivência do papel representado (na região de fachada), efetivar alguns comportamentos não-verbais que possivelmente seriam considerados pelos interlocutores como sendo incompatíveis com os esperados para aquela situação social específica.
Assim como acontece na “região de fundo”, a “região do mundo off-line” também pode ser identificada como sendo o local onde o sujeito prepara o seu personagem, efetuando as adaptações necessárias ao papel e à “fachada pessoal” que deseja exercitar no espaço interativo situado na “região do mundo on-line”, ou fazendo-se uso da analogia, na “região de fachada”.
Existe um espaço público comum, “de fachada”, onde os usuários apresentam aos demais participantes as características construídas para aquela situação contextual específica. Havendo uma migração da troca interacional travada entre dois interlocutores para um espaço privado (por exemplo, entre “A” e “B”, conforme ilustrado na figura 21), eles passam a vivenciar uma dupla localização, estando situados, por um lado, em uma “região de fundo” em relação à presença dos demais participantes e, por outro, em uma “região de fachada” em relação à situação contextual externa.
No caso do ambiente da plataforma interacional on-line dos web-chats, a preocupação indicada pelo autor, sobre os possíveis sentimentos advindos da punição social, parece se apresentar de forma mais amena, haja vista a ausência de dificuldades em “entrar” novamente no cenário contextual, após uma eventual troca de nickname, sem que os demais participantes tenham a possibilidade de efetuar previamente uma relação entre este “novo” usuário e o “antigo” que porventura tenha sido descoberto ou surpreendido em um papel falseado.
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