sábado, 23 de maio de 2009

Módulo 3 - Teoria dramatúrgica (Referecial teórico - Texto 2)

LIFE AS THEATER - 22 de maio
(Dennis Brisset e Charles Edgley)


O Princípio Dramatúrgico


A definição mais objetiva de Dramaturgia é “o estudo de como os seres humanos constroem significados em suas vidas”. Seu foco está em “conectar a ação ao seu sentido, e não o comportamento aos seus determinantes”. O significado, no sentido dramatúrgico, emerge de um consenso comportamental entre os seres humanos. É uma conseqüência (não um antecedente) de pelo menos duas pessoas comportando-se da mesma maneira, ou de maneira similar. O significado tem dois elementos básicos: por um lado, é um resultado comportamental da atividade humana (o resultado do que as pessoas fazem); por outro lado, é a característica principal do que tem sido chamado de “ato social”.

O interesse da Dramaturgia é com os atos sociais e os significados emergentes. O que é crucial para a visão dramatúrgica da vida social é que o significado não é um legado de arranjos culturais, de socialização ou institucionais, nem a realização de potenciais psicológicos ou biológicos. O significado é uma contínua e problemática construção da interação humana, que é repleta de mudanças, novidades e ambigüidades. (Pg. 02)

A Dramaturgia enfatiza a dimensão expressiva / impressiva da atividade humana. O Princípio fundamental da Dramaturgia é o de que os significados das ações das pessoas devem ser encontrados na maneira como elas se expressam nas interações com outros que também se expressam. (...) De fato, as situações não se definem por si, elas precisam ser construídas por comunicação simbólica. Portanto, a vida social deve ser expressiva.

A ubiqüidade desta expressividade reforça a visão de que o comportamento humano é dramático. O que é marcante no ser humano é a sua capacidade de engajar-se em atividades expressivas. Os humanos e suas ações não são vistos como o produto de forças (sejam sociais, culturais, psicológicas ou espirituais); os humanos, pelas suas expressividades, podem negociar seus sentidos nas situações com outros, que também possuem a mesma habilidade. (Pg. 03)

A Consciência Dramatúrgica

O Princípio dramatúrgico é uma coisa, a consciência deste Princípio por um determinado indivíduo é outra coisa. Certamente, com o decorrer dos eventos ordinários da vida cotidiana, os seres humanos podem tornar-se não apenas expressivos, mas conscientes desta expressividade. A consciência deste Princípio pode ser usada para organizar as experiências do indivíduo, comunicar-se de maneira mais efetiva com as outras pessoas, manipular ou enganar os outros, ou ainda para uma apresentação mais favorável. (Pg. 05)

A consciência dramatúrgica é variável. (...) Algumas vezes as pessoas preocupam-se bastante com o que os outros pensam, e às vezes não dão a mínima importância a isto. Por alguma razão, alguns dos outros são mais importantes para o ator. Ao mesmo tempo, algumas audiências são bastante receptivas, outras são mais críticas e desafiadoras. Parece que o nível de consciência por parte do ator, de si mesmo e de suas ações, é estabelecido em grande medida pelo grau de envolvimento com a audiência, e também pelo grau de receptividade desta audiência. (Pg. 06)

A relação entre o Princípio dramatúrgico e a consciência dramatúrgica

Quando se considera a questão da consciência na Dramaturgia, para muitos autores, a imagem dramatúrgica do homem é de alguém que está constantemente empregando esta consciência para influenciar as impressões que os outros podem ter. (Pg. 06)

Entretanto, se por um lado, algumas pessoas, em alguns momentos, tentam manipular as impressões dos outros, isto não é necessariamente uma conseqüência da consciência dramatúrgica. Este controle que o individuo tenta exercer sobre os outros pode ser negociável e até conciliatório. Nem todas as apresentações são forjadas, e as pessoas podem estar mais interessadas em revelar do que em esconder. Jogos de trapaças, cinismo e deslealdade são todos elementos dramatúrgicos, certamente, mas amor, verdade, sinceridade e autenticidade também são. (Pg. 07)

O problema básico da Psicologia Social e a resolução dramatúrgica

O problema básico da psicologia social, a tensão entre o eu e a sociedade, foi sempre levado em consideração na relação entre os aspectos individualizantes e os aspectos socializantes da natureza humana. A psicologia social dramatúrgica, com a sua ênfase na dimensão impressiva / expressiva do comportamento humano, parece ser a perspectiva que evita de maneira mais consistente as implicações polarizadas, e que melhor incorpora tantos os aspectos individuais quanto os sociais na sua versão do comportamento humano. (Pg. 10)

A visão dramatúrgica coloca simplesmente que a vida humana é simultaneamente individualizante e socializante, na medida em que as pessoas e as realidades que elas constroem têm conseqüências expressivas. Ser uma criatura individual ou social não é uma escolha que nós temos. Para ter uma identidade, precisamos nos unir a uns e nos separarmos de outros, entrar e sair de relações sociais, ao mesmo tempo. (Pg. 10)

O Drama do Self

O diferencial da perspectiva dramatúrgica emerge na análise da individualidade humana. A Dramaturgia foca no sentido de individualidade que as pessoas adquirem pela interação com os outros, trata-se de um fenômeno compartilhado e interativo. Esta é uma ruptura radical com a maioria das visões do Self. Tem sido tradicional na literatura da psicologia social empregar dois conceitos na discussão da natureza da individualidade: personalidade e Self. A Dramaturgia prefere o conceito de Self.

Tende-se a acreditar que a personalidade de um indivíduo é soma de todas as suas experiências e de tudo aquilo que ele pode chamar de seu. Nesta visão, a personalidade de um indivíduo seria uma propriedade que é carregada de situação em situação, uma entidade psicológica que independe da interação com os outros. A concepção dramatúrgica é diferente, e vê a individualidade como um fenômeno social e não psicológico. (Pg. 14)

A Dramaturgia insiste que “sem a apresentação do Eu, um Eu não é possível”. Isso significa que a individualidade é um fenômeno interativo compartilhado, que emerge somente no contato com os outros. Assim, o Self de um indivíduo emerge, é mantido e é perdido somente por um processo de validação consensual. O Self tem um caráter social, e não é uma propriedade pessoal, é concedido pelas pessoas com quem o individuo deseja compartilhar. (Pg. 15)

A natureza performática e mutante do Self

Sempre que o ser humano interage, Self’s são criados e compartilhados. Como outros significados, eles surgem, são sustentados por um período, e depois podem tornar-se irrelevantes diante de novas possibilidades. Dada a dimensão expressiva dos humanos, os Selfs não podem ser simplesmente descolados da interação. O Self emerge no decorrer da performance com outros. Significado é gerado, quer o ator queira, quer não. Além disso, na medida em que a pessoa adquire um Self no processo de atuação nos vários dramas da vida, com outros que estão fazendo a mesma coisa, este Self muda com o tempo. (Pg. 18)

De fato, nenhuma performance, independentemente do quão eficiente ela seja, dura pra sempre. E mesmo que o indivíduo tente fazer a performance durar para sempre, a visão da audiência muda, e assim muda também o sentido da performance. O Self é um objeto que precisa de outros objetos para vir a ser. Se os objetos mudam, muda também o Self. Ter mais de um Self é uma necessidade performática. Por outro lado, na maioria das situações, para além da mudança, um sentido de continuidade deve ser estabelecido. (Pg. 18)

Críticas à Dramaturgia

Dramaturgia como uma forma de investigação não-sistemática e frágil

A primeira critica é a de que a Dramaturgia não é uma teoria adequada do comportamento humano. Pois ela não possui as propriedades da teoria formal. Não está ligada a outras teorias, não produz hipóteses testáveis. Em suma, não é uma teoria. (Pg. 23)

Entretanto, a Dramaturgia é o estudo de ordem interacional, e a interação interpessoal não é apenas mais uma especialidade, é todo o material empírico real que existe para a sociologia. Ao invés de ser antagônica à psicologia e à sociologia, a Dramaturgia é o estudo de como a psicologia de um indivíduo é realizada, e de como a sociedade e a cultura de um indivíduo são vividas. Se há um problema com o modo de pensar dramatúrgico, ele pode estar na tolerância para virtualmente qualquer persuasão teórica ou material empírico. (Pg. 24)

Outra crítica constante à Dramaturgia é a de que ela não produz afirmações universais sobre o comportamento humano. Os críticos apontam para um viés cultural ou até situacional do pensamento dramatúrgico, que serviria para o comportamento verificado na cultura ocidental. Assim, a generalização da teoria seria possível apenas para certos contextos, e não aplicável a outras culturas, tempos ou lugares. (Pg. 24)

Entretanto, não é verdadeiro que a Dramaturgia está vinculada a uma cultura específica. O Princípio dramatúrgico de que as ações das pessoas são expressivas parece estar amplamente documentado na literatura antropológica. (Pg. 25)

Há ainda críticas à metodologia dramatúrgica. (Pg. 25)

Trivialização de arranjos estruturais, organizacionais e institucionais

A Dramaturgia tem sido acusada de subestimar o impacto de unidades sociais maiores, como as instituições, sobre o comportamento humano.

Mas, na verdade, a Dramaturgia reconhece que a estrutura social proporciona o contexto e as oportunidades para a interação entre pessoas. (...) Entretanto, ao invés de duelar com estas limitações estruturais, a Dramaturgia foca no que as pessoas fazem nos contextos que estão disponíveis para elas. Não foca nos porquês das existências destes contextos, mas nas possibilidades interacionais que surgem nestes contextos. É nas ações das pessoas que as características estruturais da vida social emergem, tornam-se reconhecidas e são utilizadas. (Pg. 27)

A vida não é realmente um teatro

A crítica predominante à Dramaturgia resulta de uma confusão com a própria metáfora teatral. Muitos críticos entendem a metáfora literalmente e depois a invalidam, insistindo que a vida cotidiana é diferente de um teatro, e portanto o imaginário e a linguagem teatrais não podem descrever adequadamente ou explicar o comportamento humano.

Apesar de haver claras diferenças entre o dia a dia e o mundo dos palcos, a própria consciência dos atores do palco não é necessariamente diferente da consciência de alguns atores do cotidiano. Assim como o palco é uma delimitação de tempo e de personagem, muitos episódios rotineiros também são. São os rituais dramáticos e expressivos da vida, sejam eles teatrais ou não, que constituem o foco da Dramaturgia. A vida não é nem igual ao teatro, nem diferente do teatro, é parecida com o teatro. A Dramaturgia é a descrição do comportamento de seres humanos que usam meios teatrais para construir um mundo, o qual, em muitos aspectos, é levado tão a sério, que jamais seria comparado a um “teatro”. (Pg. 31)

O Legado de Goffman

A aparência é real.

Nós podemos aprender muito sobre um livro, pela sua capa. Fazemos isto todos os dias. A aparência nunca é destruída pela realidade, apenas substituída por outras aparências. Como foi colocado por Mead, “a vida social é vivida majoritariamente na imaginação”. Goffman reforça que “as imaginações que as pessoas têm umas sobre as outras são os sólidos fatos da sociedade”. O argumento de Goffman dissolve a própria distinção entre a mera aparência e a realidade fundamental na vida social. Para o autor, a vida consiste em vários níveis de compreensão e consciência, e não em camadas que escondem uma essência fundamental, que deve ser revelada por um trabalho científico. (Pg. 37)

domingo, 17 de maio de 2009

Módulo 3 - Teoria dramatúrgica (Referecial teórico)

A representação do eu na vida cotidiana - Erving Goffman
The Presentation of Self in Everyday Life, publicação de 1959 e considerada a obra clássica de Goffman, o autor propõem, em linhas gerais, que os indivíduos desenvolvem uma vida próximo aos dramas encenados em um palco de teatro. Assim, a vida social pode ser entendida como um conjunto de representações em que os indivíduos em contato (face a face) constroem os sentidos de sua existência diariamente e constantemente. The Presentation of Self in Everyday Life surgiu primeiramente como uma versão de sua dissertação, que seria um estudo de campo em uma comunidade das Ilhas Shetland, um pequeno assentamento rural na costa escocesa.
A vida, para Goffman, consiste de vários níveis de compreensão e consciência. Desta forma, O teatro de performances não está na cabeça das pessoas, está em seus atos públicos. Para entender a obra de Goffman alguns conceitos são fundamentais, a saber:
Estereotipia e Cenário:

“Se o indivíduo lhes for desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e aparência, indicações que lhes permitam utilizar a experiência anterior que tenham tido com indivíduos aproximadamente parecidos com este que está diante deles ou, o que é mais importante, aplicar-lhes estereótipos não comprovados.”
Comunicação verbal e não verbal:

“A primeira abrange os símbolos verbais, ou seus substitutos, que ele usa propositadamente e tão só para veicular a informação que ele e os outros sabem estar ligada a esses símbolos. Esta é a comunicação no sentido tradicional e estrito. A segunda inclui uma ampla gama de ações, que os outros podem considerar sintomáticas do ator, deduzindo-se que a ação foi levada a efeito por outras razões diferentes da informação assim transmitida.”
Atuação:

“Assim, quando uma pessoa chega à presença de outra, existe, em geral, alguma razão que a leva a atuar de forma a transmitir a elas a impressão que lhe interessa transmitir. Às vezes, agirá de maneira completamente calculada, expressando-se de determinada forma somente para dar aos outros o tipo de impressão que irá provavelmente levá-lo a uma resposta específica que lhe interessa obter.”

“Outras vezes, o indivíduo estará agindo calculadamente, mas terá, em termos relativos, pouca consciência de estar procedendo assim.”

“Ocasionalmente, expressar-se-á intencionalmente e conscientemente de determinada forma, mas, principalmente, porque a tradição de seu grupo ou posição social requer este tipo de expressão, e não por causa de qualquer resposta particular.”
Papel social:

“...podemos dizer que um papel social envolverá um ou mais movimentos, e que cada um destes pode ser representado pelo ator numa série de oportunidades para o mesmo tipo de público ou para um público formado pelas mesmas pessoas.”
Sociedade:

“A sociedade está organizada tendo por base o princípio de que qualquer individuo que possua certas características sociais tem o direito moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem de maneira adequada.”“Conseqüentemente, quando um indivíduo projeta uma definição da situação e com isso pretende, implícita ou explicitamente, ser uma pessoa de determinado tipo, automaticamente exerce uma exigência moral sobre os outros, obrigando-os a valorizá-lo e a tratá-lo de acordo com o que as pessoas de seu tipo têm o direito de esperar.”
A interação face a face:

“...a interação pode ser definida, em linhas gerais, como a influência recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos outros, quando em presença física imediata.”
“Uma interação pode ser definida como toda interação que ocorre em qualquer ocasião, quando, num conjunto de indivíduos, uns se encontram na presença imediata de outros.”
Fachada:

“Será conveniente denominar de fachada à parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de definir a situação para os que observam a representação.”

“Fachada, portando, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconsciente empregado pelo indivíduo durante sua representação.”
Cenário:

“O cenário tende a permanecer na mesma posição, geograficamente falando, de modo que aqueles que usem determinado cenário como parte de sua representação não possam começar a atuação até que se tenham colocado no lugar adequado e devam terminar a representação ao deixá-lo.”

“Somente em circunstâncias excepcionais o cenário acompanha os atores. Vemos isto num enterro, numa parada cívica e nos cortejos irreais com que se fazem reis e rainhas.”
Idealização:“A noção de que uma representação apresenta uma concepção idealizada da situação é, sem dúvida, muito comum.”

“Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo.”
Platéia:

“Graças à segregação do auditório o indivíduo garante que aqueles diante dos quais desempenha um de seus papeis não serão as mesmas pessoas para as quais representará um outro papel num ambiente diferente.”

“...os atores tendem a alimentar a impressão de que o atual desempenho de sua rotina e seu relacionamento com a platéia habitual têm um caráter especial e único. A natureza rotineira da representação é escondida (o próprio ator não percebe até que ponto sua representação é realmente rotineira) e os aspectos espontâneos da situação são reforçados.”
Conclusão:

“”Quando o indivíduo passa a uma nova posição na sociedade e consegue um novo papel a desempenhar, provavelmente não será informado, com todos os detalhes, sobre o modo como deverá se conduzir, nem os fatos de nova situação o pressionarão suficientemente desde o início para determinar-lhe a conduta, sem que tenha posteriormente de refletir sobre ela.”

“Comumente, receberá apenas algumas deixas, insinuações e instruções cênicas, pois se pressupõe que tenha em seu repertório uma grande quantidade de pontas de representação que serão exigidas no ambiente.”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Interação social e novas mídias: elementos para uma análise da interação mediada

Por Hermílio Santos 



Considerações Iniciais

           A Exposição Mundial 2000 (Expo 2000) em Hannover, Alemanha, teve como tema “Seres humanos, natureza e tecnologia”. Os pavilhões temáticos e dos países foram organizados com o objetivo de explorar o tema, tentando apresentar o estado da arte, bem como identificar algumas características futuras da vida humana.

Pelo menos dois aspectos comuns puderam ser identificados na maioria dos pavilhões: a estrutura dos pavilhões e, relacionado a isso, a maneira como as mensagens eram transmitidas.

Com pouquíssimas exceções, a maioria dos pavilhões estava estruturada de forma a que os visitantes não pudessem escolher qual caminho eles gostariam de seguir: uma entrada e uma saída estavam claramente demarcadas. Ninguém tinha a per missão de quebrar esta estrutura, porque assim era a maneira como os indivíduos deveriam receber a “mensagem” do pavilhão.

Uma outra característica comum a muitos pavilhões da Expo 2000 era o uso de mídias eletrônicas como suporte para as mensagens. Vídeos eram responsáveis por transmitir as mensagens para um grande público. A postura individual não raramente era de passividade diante de imagens coloridas, e, possivelmente, talvez fosse essa a postura esperada.

O tipo de mídia era, de alguma forma, coerente com a organização física dos pavilhões. Assim como os pavilhões, as mídias selecionadas permitiam unicamente uma comunicação de mão única, com muito pouco espaço para aquilo que denominamos interatividade.

 

Objetivos do Artigo

Ilustrar como ocorre grande parte da comunicação no mundo contemporâneo, apesar da existência de meios de comunicação mais interativos.

A questão, portanto, não é tanto quanto à escolha da tecnologia “correta”, mas muito mais de atitude em relação à interação social.

 

Questões a serem confrontadas

  • De que forma as novas mídias são encaradas como parte da interação humana?
  • Quais as conseqüências de interfaces interativas para a interação social?
  • E, finalmente, de que forma as mídias são capazes de reforçar a habilidade dos indivíduos de interagirem socialmente?

 

Problemas levantados

Mesmo que tais instrumentos passem a ser utilizados com maior freqüência, suas possibilidades e limitações para a interação dificilmente podem ser concebidas sem levar em consideração a interação face a face, apesar das nuanças que marcam cada forma interativa.

Pensar a interação tendo como ponto de partida máquinas e tecnologias, sem levar em conta os sujeitos que verdadeiramente interagem

 

Hipótese

Será investigada a hipótese de as mídias eletrônicas fornecerem novos elementos para a interação social e que, por esta razão, caberia investigar quais seriam precisamente esses fatores a influenciar a interação e sua relação com eventuais transformações no processo interativo.

Mais precisamente, nossa discussão procurará investigar se, e de que forma, as novas mídias representam um instrumento capaz de otimizar a interação social, tornando a comunicação mais ágil e flexível, mas acima de tudo preservando a singularidade da comunicação daqueles envolvidos no processo de interação mediada.

 

Em torno da interação social

Herbert Blumer identifica duas formas de interação social, a chamada “interação não-simbólica” e a outra precisamente “interação simbólica” (Blumer, 1969:8).

A interação não-simbólica ocorre quando se reage diretamente à ação de um outro sem que se interprete tal ação; por exemplo através de reflexos do corpo.

Ao contrário, a interação simbólica implica interpretação dos atos. Este segundo tipo de interação é bastante mais complexo e constitui o fundamento para a abordagem do interacionismo simbólico.

O interacionismo simbólico está fundado em três premissas (Blumer, 1969:2-5).

A primeira delas é que seres humanos  agem em relação ao mundo baseados no sentido de elementos tais como objetos físicos (árvore ou cadeira), outras pessoas (mãe ou mo to ris ta de táxi), categorias de seres humanos (amigos e inimigos), instituições (escola ou governo), ideais (in de pendência individual e honestidade) e as sim por diante.

A segunda é de que a resposta do interacionismo simbólico é que o sentido é produzido através do processo de interação social.

Um sistema social é caracterizado pela interação do ego (I) com o alter (me), mutuamente orientados. A complementaridade ou reciprocidade é possível em razão das condições prévias da existência de uma comunicação através de um “sistema comum de símbolos” ou “cultura comum” (Parsons, 1962).

De acordo com Mead (1972), o ego é a resposta, incerta, que um indivíduo dá às atitudes de outros em relação a ele quando este assume uma atitude em relação aos outros.

O alter é o grupo organizado de atitudes das respostas dos outros que o indivíduo assume enquanto suas. A fusão de ambos, ego e alter, articula a constituição do self, o sujeito de ações em um sistema social.

Neste sentido, o assumir papéis é um processo fundamental na constituição do self, e marcado por três fases: a) a fase preparatória, a fase da repetição; b) a fase do brincar (play), na qual o indivíduo aprende como assumir papéis e c) a fase do jogo (game), quando o indivíduo é confrontado com o outro generalizado, ou seja, quando o indivíduo atua de acordo com as expectativas das ações dos outros que tomam parte no jogo.

A terceira premissa sustenta que os sentidos são manipulados e modificados por um processo interpretativo adotado pela pessoa em relação aos elementos com os quais a pessoa entra em contato.

O processo interpretativo compreende duas fases distintas:

1ª) A pessoa que age estabelece a si mesma os elementos com os quais tem relação, isto é, a pessoa deve especificar os elementos que gozam de sentido.

2ª) A pós o processo de auto-comunicação, a interpretação implica uma manipulação de sentidos, na qual o agente seleciona, reagrupa e transforma os sentidos de acordo com o ponto de vista da situação na qual ele está confrontado e que está relacionado com suas ações.

 

Em torno da interação mediada

O autor inicia enfatizando os conceitos de Thompson:

 

A interação face-a-face acontece num contexto que o autor denomina co-presença, isto é, os interagentes estão presentes e partilham um mesmo sistema referencial de espaço e tempo. Outra característica desta modalidade é a multiplicidade de deixas simbólicas para transmitir mensagens e também interpretar as que cada um recebe do outro.

Interação quase mediada é aquela realiza da através dos meios de comunicação de massa (livros, jornais, rádio, televisão, etc.).

Interações mediadas “implicam o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas, etc.) que possibilita a transmissão de  informação e conteúdo simbólico para indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos”

 

Características interativas

Interação face-a-face

Interação mediada

Quase-interação mediada

Espaço-tempo

Contexto de co-presença; sistema referencial espaço-temporal comum

Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço

Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço

Presenças simbólicas

Multiplicidade simbólica

Limitação simbólica

Limitação simbólica

Orientação /  característica

Orientada para receptores específicos / Dialógica

Orientada para receptores específicos / Dialógica

Orientada para número indefinido de receptores / Monológica

 

As tecnologias não trazem já embutidas nelas as novas formas de comportamento, sendo estas o desdobramento incessante e dinâmico da interação tanto dos indivíduos com as tecnologias e máquinas quanto da interação entre os próprios indivíduos mediada pelas tecnologias.

Com isso se quer apenas salientar o fato de que não apenas as tecnologias são historicamente distintas, provocando reações e combinações diferentes de comportamento, mas que são igualmente diversos os contextos socioculturais em que tecnologias similares são introduzidas, o que tende a suscitar novas e diferenciadas formas de interação social, de acordo com o meio ambiente.

Uma outra importante questão suscitada pelo uso intensivo de mídias interativas é precisamente o processo de formação da identidade dos envolvidos na interação mediada, encarada como um elemento fundamental também na constituição das comunidades virtuais.

O cuidado com sua própria identidade, sua própria reputação, é um importante elemento na formação de qualquer comunidade, já que exerce entre outras funções o papel de elemento motivador ao pertencimento à determinada comunidade (Donath, 2000: 29-31).

 

Conclusões do autor

Primeiro, parece imprescindível a elaboração de uma análise mais consistente da interação social mediada por novas mídias interativas, teórica e empiricamente mais fundamentada, para que aqueles envolvidos no processo de interação mediada, assim como aqueles que propiciam tal mediação, estejam mais aptos a superar parte desses impasses.

Em segundo lugar, é preciso decifrar as condições de possibilidade para a existência da interação social no ciberespaço. Ademais, o estabelecimento dessas condições nos permitirá identificar empiricamente os elementos comuns e divergentes entre a interação quase-mediada e interação mediada .