segunda-feira, 22 de junho de 2009

Modulo 3 - Referencial Teórico-Metodológico: Teoria Dramatúrgica

Um olhar sobre a sociabilidade no ciberespaço: aspectos sócio-comunicativos dos contatos interpessoais efetivados em uma plataforma interacional on-line
José Carlos Ribeiro

Gerenciamento de Aparências e de Informações

Controle da Apresentação
“Um dos aspectos mais interessantes no processo de criação de identidades virtuais na plataforma dos web-chats parece ser o controle da apresentação das características reveladas na estratégia de aproximação e de contato com outros usuários. Nesta conjuntura peculiar, a possibilidade de escolha dos atributos de personalidade e aparência que comporão o personagem permite um gerenciamento maior do que aquele normalmente exercido no mundo off-line”. (1)

Gerenciamento do Anonimato
Tendo sempre em mãos a possibilidade de “sair” e de “entrar” no ambiente interacional virtual com outro nickname a qualquer momento, o participante vivencia o privilégio de gerenciar, de forma mais efetiva, o grau de revelação e de permanência das informações referentes às características físicas e de personalidade da identidade construída para aquele ambiente. (1)

“Temos de conviver com aquela aparência que temos” (REID, 1995).
Graus de Distanciamento da Representação
Representação Transparente
Representação Translúcida
Representação Opaca

Goffman (1996), em sua análise sobre os processos interacionais FTF, afirma que ao se efetuar o controle do que é percebido e mostrado aos interlocutores por ocasião dos encontros sociais, o indivíduo necessariamente promove e vivencia uma regulação nos contatos efetivados. (3)

Articulando esta premissa com a realidade verificada no ambiente on-line dos web-chats, percebemos claramente uma ampliação do mecanismo de controle apontado pelo autor, haja vista a presença de uma maior facilidade nos procedimentos de permuta e de gerenciamento das características representacionais. (3)

As Imagens Idealizadas
A facilidade de propagar atributos físico-corporais que não contenham obrigatoriamente correspondência na realidade no mundo off-line, bem como a de exercitar de uma “forma melhorada” os aspectos da própria personalidade que não tenham espaços de expressão na dinâmica das interações FTF, por pressões sociais ou por falta de oportunidades adequadas, parecem ser possíveis razões que levam o usuário a criar uma imagem idealizada de si. (4)
Interessante notar que, efetuando um breve passeio nos ambientes interacionais on-line dos web-chats, qualquer usuário (experiente ou novato) pode constatar que as descrições pessoais geralmente revelam uma imagem estereotipada de perfeição (seja ela feita de maneira intencional ou não) (4)

Em nossa cultura, essa composição de procedimentos parece estar relacionada ao desejo e à necessidade de aceitação social do personagem virtual por parte do interlocutor. (5)


A prática de construção de imagens idealizadas nas plataformas interacionais on-line pode ser vista, através de um ângulo de percepção mais abrangente, como um possível vetor de agregação de pessoas que circulam neste espaço, uma vez que as aparências produzidas serviriam como referenciais conhecidos

“Em outras palavras, a figura, o ideal e a imagem idealizados favorecem o contexto, integram o indivíduo num sistema de comunicação e de inter-relações que é causa e efeito de toda sociedade”. (MAFFESOLI, 1996)

De certa forma, esses modelos sugerem o trânsito de tipos ideais, matrizes que se aceitam e se reconhecem como pertencentes a um grupo seleto de personagens desejáveis. O que, por sua vez, pode derivar em uma situação de efeito peculiar: a possibilidade da identidade on-line – arquitetada para interagir no ambiente virtual – ter uma aceitação social mais receptiva, devido à série de atributos construídos de acordo com os padrões valorizados socialmente, do que a identidade vivenciada no mundo off-line. E aí, em situações mais extremas, a questão pode vir a se tornar problemática para o usuário, pois poderá afetar direta ou indiretamente alguns aspectos de sua personalidade, ou mesmo desencadear uma série de distúrbios psicológicos (fragilização da auto-estima, dissociação de personalidade etc.).

Preenchimento dos Vazios Informacionais

Devido à falta de pistas mais precisas, comumente obtidas através de informações não-verbais presentes nas interações FTF, os usuários deste mundo on-line procuram “preencher esses vazios informacionais” através de um complexo mecanismo de associação das informações e dados efetivamente passados (de forma implícita ou explícita) com as próprias necessidades psicológicas de contatos com pessoas que possuam estas ou aquelas características específicas.

MacKinnon (1995) aponta em seus comentários que o tipo de linguagem adotado na escrita das informações ajuda na formatação do personagem interlocutor, uma vez que pode revelar aspectos denotativos da possibilidade de vinculação dele com algum grupo social conhecido no mundo off-line.

Diante do conjunto de circunstâncias exposto até então, podemos suspeitar que o interlocutor teria, através da ótica do usuário, um papel coadjuvante no processo, um papel de pouca relevância ou mesmo passivo, uma vez que estaria apenas ajudando na construção das fantasias particulares de cada usuário. Entretanto, considerando que o interlocutor também possui as mesmas possibilidades e encontra-se em iguais circunstâncias, podemos pensar que há, em certa medida, a presença de uma troca de incentivos informacionais mais equilibrada.

As Regiões Representacionais

Percebemos que tais manifestações de expressividade transmitidas (ou dadas) se revelam através da descrição pessoal efetuada de forma escrita e intencional pelo usuário (sexo, idade, características raciais, altura, aparência etc.); enquanto que as demonstrações de expressividade emitidas (ou não dadas de forma intencional) são disponibilizadas através de características mais sutis e contextuais (o estilo e a estrutura da narrativa, o vocabulário empregado etc.).

(regiões) Uma vez que não estando fisicamente presente para o outro, o usuário pode, sem comprometer a impressão (transmitida e emitida) propiciada pela vivência do papel representado (na região de fachada), efetivar alguns comportamentos não-verbais que possivelmente seriam considerados pelos interlocutores como sendo incompatíveis com os esperados para aquela situação social específica.

Assim como acontece na “região de fundo”, a “região do mundo off-line” também pode ser identificada como sendo o local onde o sujeito prepara o seu personagem, efetuando as adaptações necessárias ao papel e à “fachada pessoal” que deseja exercitar no espaço interativo situado na “região do mundo on-line”, ou fazendo-se uso da analogia, na “região de fachada”.

Existe um espaço público comum, “de fachada”, onde os usuários apresentam aos demais participantes as características construídas para aquela situação contextual específica. Havendo uma migração da troca interacional travada entre dois interlocutores para um espaço privado (por exemplo, entre “A” e “B”, conforme ilustrado na figura 21), eles passam a vivenciar uma dupla localização, estando situados, por um lado, em uma “região de fundo” em relação à presença dos demais participantes e, por outro, em uma “região de fachada” em relação à situação contextual externa.

No caso do ambiente da plataforma interacional on-line dos web-chats, a preocupação indicada pelo autor, sobre os possíveis sentimentos advindos da punição social, parece se apresentar de forma mais amena, haja vista a ausência de dificuldades em “entrar” novamente no cenário contextual, após uma eventual troca de nickname, sem que os demais participantes tenham a possibilidade de efetuar previamente uma relação entre este “novo” usuário e o “antigo” que porventura tenha sido descoberto ou surpreendido em um papel falseado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Módulo 4 - Referencial teórico-metodológico: Teoria das representações sociais

Representações Sociais: O conceito e o estado atual da teoria
Celso Pereira de Sá


Nesse artigo, Celso Pereira busca dar uma apanhado geral de como se encontra a pesquisa atual nas Representações Sociais. Segundo o autor, o termo designa tato um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria construída para explicá-los; seria, para ele, uma psicossociologia do conhecimento, na qual Moscovici (1976) queria “redefinir os problemas e os conceitos da psicologia social a partir desse fenômeno. Daí residiria a importância da teoria aqui tratada, por conseguir considerar tanto os comportamentos individuais quanto os fatos sociais – sendo os contextos sociais influenciando os comportamentos, estados e processos individuais.

Segundo o autor, Moscovici se opôs a uma perspectiva individualista da psicologia ao buscar uma contrapartida conceitual nas representações coletivas, propostas por Durkheim. Nesta, as representações que a sociedade exprime são fatos sociais, coisas, reais por elas mesmas; são o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo.

Para Moscovici, as representações sociais deveriam ser reduzidas a uma modalidade específica de conhecimento que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos na vida cotidiana – diferenciando-se assim do conceito proposto por Durkheim devido à “plasticidade, mobilidade e circulação das representações contemporâneas emergentes” (p. 23). Caberia ao novo conceito penetrar nas representações para descobrir a sua estrutura e seus mecanismos internos.

Partindo desse pressuposto, o conhecimento mobilizado na comunicação informal, na vida cotidiana, é analisado sobre os seguintes assuntos e objetos sociais: as disciplinas acadêmicas; a saúde e a doença; as questões ecológicas; a política e a economia; as cidades e suas características; as “classes” de pessoas; a tecnologia e o domínio da natureza; e as desigualdades sociais e educacionais. Seriam estes assuntos que, nas relações interpessoais diárias, demonstram atenção, interesse e curiosidade das pessoas, “demandam sua compreensão e forçam seus pronunciamentos” (p. 25).

Tais representações fazem uma articulação ou combinação de diferentes questões ou objetos – na qual interagem informações e julgamentos valorativos colhidos nas mais variadas fontes e experiências pessoais e grupais. Por isso, esses conjuntos de conceitos, afirmações e explicações que são as representações sociais são consideradas teorias do senso comum, constituídas em um ambiente onde se desenvolve a vida cotidiana. Por isso, são questões com relevância imediata para os indivíduos.

Daí os grupos ou segmentos socioculturais podem variar quanto ao grau de consistência da informação sobre um determinado assunto, quanto a estrutura de observação, unidade e hierarquização desse conhecimento em um campo de representação, quanto à atitude ou orientação global em relação ao objeto representado. Tudo isso se dá em um processo cognitivo social – fruto de uma sociedade pensante, diz Moscovici, em que indivíduos, mediante episódios cotidianos de interação social, “produzem e comunicam incessantamente suas próprias representações e soluções específicas para as questões que se colocam a si mesmos” (1998, p. 16).

Moscovici considera duas classes distintas de universos de pensamento: os universos consensuais, as atividades intelectuais de interação social cotidiana pelas quais são produzidas as Representações Sociais, em que cada indivíduo é livre para se comportar como um amador ou observador curioso; e os universos reificados – onde se produzem e circulam as ciências e o pensamento erudito em geral, com seu rigor lógico, metodologia, teorização, em que o grau de participação é determinado pelo nível de qualificação.

Nesse processo de transferência e transformação de conhecimentos, é importante o papel desempenhado pelos divulgadores científicos de todos os tipos: jornalistas, cientistas, professores, animadores culturais, marqueteiros e pela crescente ampliação e sofisticação dos meios de comunicação. A representação destes, segundo Herzlich (1977, p. 307), estará a desempenhar um papel “na formação das comunicações e condutas sociais”. Portanto, Celso Pereira utiliza da definição de Jodelet (1989, p. 36) sobre as Representações Sociais “Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e que concorre para a construção de uma realidade comum a um coletivo”.

Para realizar uma representação, será necessário reconstituir, retocar e modificar o texto de um dado objeto. E a estrutura de cada representação tem duas faces dissociáveis: a figurativa e a simbólica, entendendo, segundo Moscovici, fazer compreender em toda figura um sentido e em todo sentido uma figura. Celso Pereira diz que foi partindo dessa estruturação que Moscovici caracterizou processos formadores de representações; como objetivar, dar materialidade a um objeto abstrato; e ancorar, fornecer um contexto inteligível ao objeto, classificando-o e denominando-o. Essa classificação se dá mediante a escolha de um dos paradigmas ou protótipos estocados na memória, com o qual compara-se o objeto a ser representado e decide-se se o mesmo pode ou não ser incluído na classe em questão. Na denominação, tira-se de um anonimato para dotar o objeto de uma genealogia e incluí-lo num complexo de palavras específicas, a fim de localizá-lo.

Esse processo de objetivação, ainda, é classificado por Jodelet (1984) em três fases: seleção e descontextualização de elementos da teoria; formação de um núcleo figurativo, a partir de elementos selecionados; e a naturalização dos elementos do referido núcleo, cujas figuras, elementos do pensamento, tornam-se elementos da realidade referentes para o conceito.

Outra proposição teórica é a transformação do não familiar em familiar, pois “a dinâmica dos relacionamentos é uma dinâmica de familiarização, onde objetos, indivíduos e eventos são percebidos e compreendidos em relação a encontros ou paradigmas prévios” (MOSCOVICI, 1984, p. 24). O fato disto ocorrer sob o peso da tradição, da memória, do passado, não significa que não se esteja criando e acrescentando novos elementos à realidade consensual. Ainda assim, o estranho atrai, intriga, e perturba as pessoas e as comunidades, provocando nelas o medo da perda dos referenciais habituais, do sendo da continuidade e de compreensão mútua. Tornando-se familiar, diz Celso Pereira, o estranho “é tornado ao mesmo tempo menos extraordinário e mais interessante”.

Todos esses processos apresentados ocorrem cotidianamente, porque “desde que nós pressupomos que as palavras não falam sobre nada, somos compelidos a ligá-las a alguma coisa, a encontrar equivalentes não-verbais” (MOSCOVICI, 1984, p. 38).

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Representações Sociais: Um domínio em expansão
Denise Jodelet


Nesse artigo, a autora introduz a teoria das Representações Sociais no livro em que organiza. Coube a ela sistematizar o desenvolvimento da pesquisa nesse campo e identificar os pressupostos teóricos utilizados pela pesquisa. Trata-se de um domínio de pesquisa dotado de instrumentos conceituais e metodológicos próprios, que interessa a várias disciplinas.

Segundo Jodelet, a necessidade de estarmos informados com o mundo à nossa volta faz com que precisemos saber como nos comportar, dominá-lo física e intelectualmente, identificar e resolver os problemas que se apresentam – por isso, são criadas as representações. Ao partilhar o mundo com os outros, as representações servem de apoio para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo. A observação dessas representações sociais ocorre naturalmente em múltiplas ocasiões: nos discursos, nas palavras veiculadas em mensagens e imagens da mídia, em condutas e em organizações.

Um exemplo que trata, de início, são as representações sociais feitas, na década de 1980, sobre a AIDS, em que, pela falta de informação clara sobre a doença, pessoas elaboraram teorias apoiadas nos dados de que dispunham, relativos aos portadores e aos vetores do mal. Apoiados em valores variáveis, duas concepções surgiram, segundo os grupos sociais de onde tiram suas significações: uma de tipo moral e social – a AIDS como uma doença-punição que se abate sobre a licença sexual, causando com isso um estigma social que provocou ostracismo e rejeição – e outra de tipo biológico – o contágio poderia ocorrer também por meio de outros líquidos corporais além do esperma, particularmente a saliva e o suor. Jodelet comenta que “elaboradas com o que se apresenta, estas representações se inscrevem nos quadros de pensamento preexistentes e enveredam por uma moral social – faça-se ou não amalgama entre perigos físico e moral” (p. 20).

São diversos elementos que contribuem para a análise: informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens etc., sendo organizados sob a aparência de um saber que diz algo sobre o estado da realidade.

Moscovici foi quem primeiro formulou a teoria, sendo uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social; trata-se de uma forma diferenciada do conhecimento científico – sem por isso ser menos importante para a elucidação dos processos cognitivos e das interações sociais.

Representar ou se representar seria um ato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto. Intervém em processos variados, tais como a difusão e a assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais.

Ao observar o campo de pesquisa das representações, são percebidas três particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade. A primeira pode ser explicada pela sucessão de obstáculos de tipo epistemológico que impediram o desdobramento da noção. Na segunda, percebe-se o florescimento da pesquisa situada na interface do psicológico e do social, sendo interessante para todas as ciências humanas – encontrada especificamente na sociologia, nas diferentes linhas da psicologia, na antropologia, na reflexão dos teóricos da linguagem e na história; o que confere ao tratamento psicossociológico da representação um estatuto transverso, interpelando e articulando diversos campos da pesquisa. Por fim, percebe-se a complexidade ao estudar as representações sociais articulando-se elementos afetivos, mentais e sociais e integrando a consideração de relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideativa sobre a qual eles têm de intervir.

Essa multiplicidade de perspectivas forma territórios autônomos, em função da ênfase dada a aspectos específicos dos fenômenos representativos – resultando assim em um espaço de estudo, segundo Jodelet, multidimensional. A autora, em seguida, relaciona o esquema de base que caracteriza toda a representação como forma de saber ligando um sujeito a um objeto. É este: (1) a representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito); (2) tem com seu objeto uma relação de simbolização (substituindo-o) e de interpretação (conferindo-lhe significações); (3) todo estudo de representação passará por uma análise das características ligadas ao fato de que ela é uma forma de conhecimento; (4) e qualificar esse saber prático se refere à experiência a partir da qual ele é produzido, aos contextos e condições em que ele o é e ao fato de que a representação serve para agir sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e eficácias sociais.

Daí, três ordens de problemáticas são apresentadas: condições de produção e de circulação; processos e estados; estatuto epistemológico das representações sociais. Assim, de acordo com Jodelet, se chega a um postulado fundamental no estudo das representações sociais: “o da inter-relação, da correspondência, entre as formas de organização e comunicação sociais e as modalidades do pensamento social, considerando sob o ângulo de suas categorias, de suas operações e de sua lógica.

Nessa formulação das representações sociais, a comunicação social tem um importante papel nas trocas e interações que concorrem para a criação de um universo consensual. Serve, de acordo com Jodelet, de válvula para liberar os sentimentos suscitados por situações coletivas ansiógenas ou mal toleradas. As pesquisas que abordam as representações como formas de expressão cultural remetem aos processos de difusão, quer se trate de códigos sociais, que servem para interpretar as experiências dos indivíduos em sociedade, quer se trate de valores e modelos que servem para definir um estatuto social.

Essa incidência da comunicação é examinada por Moscovici em três níveis: (1) ao nível da emergência das representações cujas condições afetam os aspectos cognitivos; (2) ao nível dos processos de formação das representações, a objetivação e a ancoragem que explicam a interdependência entre a atividade cognitiva e suas condições sociais no exercício, nos planos da organização dos conteúdos, das significações e da utilidade que lhe são conferidas; (3) ao nível das dimensões das representações relacionadas à edificação da conduta – opinião, atitude e estereótipo – sobre os quais intervêm os sistemas de comunicação midiáticos.

Partindo desse pressuposto, a comunicação realizada é decorrente à dimensão extensiva no seio de um grupo ou sociedade que realiza partilhas sociais. Como diz Veyne, as conotações sociais do conhecimento não se prendem tanto à sua distribuição entre vários indivíduos, e sim à questão de que “o pensamento de cada um deles é, de diversas maneiras, marcado pelo fato de os outros pensarem da mesma forma sobre algo” (1974, p. 74). A partilha social se refere a um mecanismo de determinações ligadas à estrutura e às relações sociais, em que os indivíduos se aderem a formas de pensamento de determinada classe, do meio ou do grupo a que se pertence, por causa da solidariedade e da afiliação sociais. Diz Jodelet: “Partilhar uma idéia ou uma linguagem é também afirmar um vínculo social e uma identidade” (p. 34).

Compreende-se que a representação preencha certas funções na manutenção da identidade social e do equilíbrio sociocognitivo a ela ligados. Quando a novidade é inevitável, à ação de evitá-la segue-se um trabalho de ancoragem, com o objetivo de torná-la familiar e transformá-la para integrá-la no universo do pensamento preexistente; trata-se de um trabalho essencial da representação e capaz de se referir a todo elemento estranho ou desconhecido no ambiente social ou ideal.

São três tipos de efeito ao nível dos conteúdos representativos: distorções, suplementações e subtrações. No primeiro caso, todos os atributos do objeto estão presentes, porém acentuados ou atenuados, de modo específico. A suplementação consiste em conferir atributos e conotações que não lhe são próprias ao objeto representado; resulta de um acréscimo de significações devido ao investimento do sujeito naquilo e a seu imaginário. A subtração corresponde à supressão de atributos do objeto; resulta do efeito repressivo das normas sociais.

O estudo das representações é feito através de suportes como linguagem, discurso, documentos, eventos intra-individuais. Essa abordagem social das representações trata de uma maneira diretamente observável. Nesse modo de apreender o conteúdo das representações, duas orientações destacam-se: no primeiro, os constituintes das representações – informações, imagens, crenças, valores, opiniões etc.; no segundo caso, são abordados, do ponto de vista semântico, conjunto de significações identificados com a ajuda de diferentes métodos de associação de palavras.

Esses estudos se reportam aos processos que presidem a gênese das representações. Para tanto, a objetivação e a ancoragem são métodos utilizados para a análise do conteúdo empírico.

Por fim, a autora conclui dizendo o atual estado da pesquisa. Segundo ela, vem ampliando há vinte anos, com um multiplicação dos objetos de representação tomados como temas de pesquisa; abordagens metodológicas que se vão diversificando e fazem um recorte de setores de estudo específicos; problemáticas que visam a delimitar melhor certos aspectos dos fenômenos representativos; a emergência de teorias parciais que explicam estados e processos definidos; paradigmas que se propõem a elucidas, sob certos ângulos, a dinâmica representacional.